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Daniel Hourcade é o atual técnico da seleção nacional da Argentina, os Pumas. É o primeiro técnico que nunca foi um Puma como jogador e é originário da província de Tucumán.

 

Atuou como jogador por pouco tempo, pelo Universitário Rugby Club de Tucumán, jogando na posição de scrum-half. Sua carreira como técnico inclui uma passagem de 4 anos por Portugal quando dirigiu um clube, o Grupo Desportivo Direito, a seleção feminina de sevens e também foi técnico assistente da Seleção de Rugby XV masculina quando conseguiram participar da Copa do Mundo de Rugby em 2007. Dirigiu os Jaguars – a seleção de desenvolvimento da Argentina – entre 2010 e 2013, quando assumiu os Pumas.

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Sob seu comando, os Pumas vivem um período de crescimento técnico e de desenvolvimento. Neste período, os Pumas venceram a Itália pela primeira vez em solo italiano e venceram também pela primeira vez a Austrália e a África do Sul, ambas vitórias ocorridas no The Rugby Championship, em 2014 e 2015 respectivamente.

 

A entrevista foi concedida gentilmente durante a visita do Portal do Rugby à Argentina por ocasião do jogo amistoso entre Argentina e África do Sul em Buenos Aires no meio de agosto. A entrevista foi feita por telefone após a derrota da Argentina nesse jogo e após a UAR divulgar a lista de 31 jogadores que integrarão a equipe na Copa do Mundo de Rugby 2015.

 

Portal do Rugby – Daniel, agradecemos sua disposição para nos conceder esta entrevista. O Portal do Rugby sente-se honrado com esta possibilidade. Vamos começar com perguntas a respeito da lista de jogadores que você disponibilizou ontem, 16 de agosto. Você escolheu Tomás Cubelli e Martín Landajo como médio scrums da sua seleção. Você não precisa de um terceiro médio scrum para a Copa?

 

Daniel Hourcade – Sim, temos más três que jogam pelos Pampas e Jaguars. Estão sempre a treinar conosco. Eles jogam os jogos mais importantes, o Sul-americano, Nations Cup, Americas Cup, Pacific. Eles jogam partidas de nível intermediário, mas estão sempre prontos para quando for preciso.

 

PdR – Outra pergunta um pouco semelhante: você tem Nicolás Sanches e Juan Martín Hernandes como os principais aberturas do selecionado argentino, mas tem escalado Hernandez frequentemente como primeiro centro. Qual seu objetivo?

 

DH – A idéia é ter os dois dentro de campo. O sistema de jogo que eu utilizo é baseado em um primeiro centro que seja lançador. Nós trabalhamos muito em campo e nem sempre está o abertura a lançar e muitas vezes o primeiro centro e tendo o Juan Martín nesta posição é muito mais fácil. Por isso que digo que isso tem muito a ver com nosso sistema de jogo.

 

PdR – Benjamín Urdapilleta e Manuel Carizza não estão no grupo que você está levando para o Mundial. Qual o motivo deles estarem de fora já que tiveram um bom desempenho nos campeonatos que disputam pelos seus clubes?

 

DH – Nós escolhemos os jogadores que consideramos serem os melhores. Existem opiniões diferentes, mas nós acreditamos que os convocados são os melhores. Conheço muito bem Urdapilleta e Carizza, eles já jogaram sob minha direção técnica, não é algo que desconheço. Na posição de Urdapilleta temos muitos bons jogadores (Sanchez e Hernández) e consideramos que eles se adaptam melhor ao nosso sistema de jogo. Igualmente no caso de Carizza: temos Lavanini, Galarza, Alemano e Petti. Estamos muito contentes com os convocados. Para nós, são os melhores.

 

PdR – Continuando com perguntas sobre a Copa do Mundo: além da Argentina, claro, quais as seleções que você aponta ao título da próxima Copa do Mundo?

 

DH – Normalmente o favorito principal é a Nova Zelândia. É sempre assim. Todas as demais equipes do hemisfério sul são poderosas e geralmente são diferenciadas, mas a Nova Zelândia está um nível acima das outras.

 

PdR – Já que falamos dos All Blacks, onde você acredita que eles são vulneráveis e em que pontos os Pumas podem se aproveitar para vencê-los?

 

DH – Nós sempre entramos ao campo de jogo para ganhar. Não estamos a especular para fazer um bom jogo ou nos conformarmos com alguma situação. Sempre entramos para ganhar. Nova Zelândia, como todas as equipes, tem muitos pontos vulneráveis mas para superá-los temos que ter uma atuação muito bem feita. Temos que ser muito precisos e temos que ser perfeitos. Se não é assim, corremos o risco de perder a bola e aí é muito perigoso.

 

PdR – Uma coisa que observamos nos All Blacks é que eles têm uma maneira de jogar que fazem uso de penalidades sucessivas com jogadores diferentes para parar com as jogadas dos adversários. Como você pensa a este respeito?

 

DH – Eles fazem mesmo. É uma marca registrada que eles têm. Nós pleiteamos sempre junto à organização dos torneios, aos árbitros sobre esta situação, porque eles conseguem com penalidades parar bons movimentos dos adversários e isso não é legal. Eles fazem sistematicamente.

 

PdR – Eles fazem todo o jogo. Eles utilizam muito os terceiras linhas para isso.

 

DH – Jogam com a linha muitas vezes fora de jogo (impedidos). Ritchie McCaw está sempre a cometer infrações e nem sempre é sancionado com advertências.

 

PdR – No grupo da Argentina na RWC2015, além da Nova Zelândia estão também Namíbia, Tonga e Geórgia. Tonga e Geórgia são conhecidas por terem pack de forwards muito forte. Quais os detalhes para os quais os Pumas devem se atentar e nestes jogos a Argentina não pode ter um desgaste excessivo que possa prejudicar nos playoffs da competição?

 

DH – Estamos nos preparando para o Mundial pensando nesses jogos claramente. As duas são equipes muito poderosas fisicamente, mas acho que a Argentina tem muito boa técnica em seus fundamentos e, portanto o poderio físico dessas seleções podem ser contrapostos com uma boa técnica. E confiamos muito em nosso scrum e acho que podemos dominar mesmo que eles sejam maiores. São equipes muito desordenadas. São muito poderosas, são muito fortes. Tonga, principalmente, é muito desordenada e joga muito individualmente e quando tem à frente uma equipe ordenada tem sempre problemas. Temos que ser muito precisos e muito ordenados e creio que assim podemos ter bons jogos.

 

PdR – Vamos falar de Super Rugby agora. Como será o trabalho dos Pumas a partir do ano que vem com a franquia argentina no Super Rugby?

 

DH – Faz muito tempo que estamos em busca disso. Precisamos ter disputas mais constantes e com nossos jogadores todos juntos e jogando o mesmo calendário. Jogando o mesmo tipo de jogo. O problema que temos agora é que temos muitos jogadores jogando na Europa um calendário diferente, um estilo de jogo diferente e temos que juntá-los no dia a dia e disputar nossos jogos. Isso é muito difícil. E a partir de próximo ano teremos as mesmas condições desportivas e o mesmo nível de disputas que nós não tínhamos. Com a equipe teremos um nível de crescimento constante e em dois ou três anos a Argentina estará entre as melhores equipes do mundo. E esse é o nosso objetivo.

 

PdR – Algumas seleções do mundo, como Nova Zelândia e Inglaterra, diferenciam os jogadores que jogam por equipes dentro de seu território, vinculados às suas uniões. Quais são as intenções da UAR para os atletas que estão sendo contratados por ela para jogarem na equipe que disputará o Super Rugby?

 

DH – Os jogadores receberam proposta para serem contratados pela UAR para voltar a jogar na Argentina e se incluírem na franquia argentina que disputará o Super Rugby. E os jogadores que jogarem na Europa não farão parte mais da seleção. É uma decisão do conselho diretivo da UAR e pronto. E isso tem a ver com o nível exigido para se jogar no Super Rugby. E quase 90% dos nossos jogadores já assinaram contrato para voltar a jogar na Argentina e fazer parte da equipe competitiva e dessa equipe sairão os jogadores dos Pumas.

 

PdR – A UAR vai manter uma equipe de desenvolvimento para disputar a Currie Cup, Nations Cup e outros torneios internacionais?

 

DH – Sim, claro. E a partir do ano que vem ela vai participar também do Six Nations das Américas. Teremos Sul-Americano, Nations Cup, Americas Cup e alguns amistosos. Estimamos 18 jogos para esta equipe e estamos com cerca de 100 jogadores de alto rendimento entre juvenis, a segunda equipe (a de desenvolvimento) e a franquia.

 

PdR – Já que mencionou o Six Nations das Américas, como você vê este torneio para o futuro do rugby em nosso continente?

 

DH – Será ótimo para o crescimento das equipes na América. Principalmente para as equipes sul-americanas. E é importante para a Argentina que o nível das equipes vizinhas cresça para aumentar a competitividade local em um prazo mais curto. Hoje a competitividade da Argentina está longe, e isso implica num orçamento muito elevado para a UAR. Infelizmente as seleções sul-americanas estão em um segundo nível e para a Argentina se manter em primeiro nível, precisa de adversários do mesmo nível e ficará muito melhor quando estes adversários estiverem próximos.

 

PdR – E para encerrar, nós no Brasil temos um conterrâneo seu como técnico da seleção nacional de rugby XV, Rodolfo Ambrósio. Você conhece o trabalho dele à frente de nossa equipe? Gostaria de dizer algo sobre ele?

 

DH – Conheço Rodolfo, mas não conheço todos os detalhes de seu trabalho com o selecionado brasileiro. Não tenho seguido seu trabalho pois o meu trabalho na UAR demanda muito tempo. Mas Rodolfo é um grande treinador. Uma grande pessoa e muito responsável e trabalhador. Creio que vai conseguir bons frutos para o rugby brasileiro, mas há de se ter paciência. Estruturar uma equipe demanda tempo e muito trabalho e Rodolfo é extremamente capacitado para a tarefa, mas paciência é fundamental.

 

Foto: A Pleno Rugby/Internet

2 COMENTÁRIOS

  1. Muito boa esse entrevista. Os argentinos estão mesmo em um nível muito superior ao nosso e acho muito bacana o que daniel disse, o torneio sul americano para seleções sul americanas e do continente americano é muito bom para aumentar o nível dessas seleções e faz os jogadores correrem atrás de testes em times de ligas profissionais. Ótima entrevista!