Galicia

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Galicia

 

Corinthians, Vasco da Gama, Portuguesa e agora Alecrim (de Natal-RN). Quatro clubes de futebol que têm algo em comum: formam juntos um grupo ainda restrito de clubes famosos pelo futebol que têm agora apostado também no rugby. Cada um com um modelo diferente de parceria. Tais iniciativas não são novas no Brasil. Nos anos 80, Palmeiras e São Paulo tiveram equipes proeminentes de rugby. O Curitiba Rugby Clube, por sua vez, já foi ligado ao Colorado e, depois, ao herdeiro Paraná Clube. Não dá para esquecer também do SPAC, pioneiro nos dois esportes, e de uma série de clubes históricos que desempenharam papel semelhante no início do século XX: Rio Cricket, Santos Athletic Club, A. A. das Palmeiras, Paulistano, Pinheiros, Ypiranga.

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Em 2008, um clube histórico do futebol baiano também apostou no rugby, antes de Corinthians, Vasco ou Alecrim cogitarem ter uma equipe no esporte da bola oval. Trata-se do Galícia Esporte Clube, fundado em 1933, cinco vezes campeão baiano de futebol (pela última vez em 1968), e hoje disputando a segunda divisão profissional de seu estado. O Azulino de Salvador abriu suas portas para os rugbiers do Bahia Rugby Clube, e a parceria segue firme e forte, já tendo rendido ao clube de raízes espanholas trÊs conquistas do Campeonato Nordestino de Rugby, em 2009, 2010 e 2011.

É com a história da parceria bem-sucedida do Galícia com o rugby que o Portal do Rugby inicia a série de entrevistas especiais “Rugby e futebol, uma parceria”, abordando as iniciativas que levaram o rugby para dentro dos clubes do universo futebolístico.

Para conhecer mais sobre o Galicia Rugby, entrevistamos Vitor Brandão “Trator”, um dos fomentadores dessa empreitada.

 

1 – Como e quando surgiu a ideia da parceria do Bahia Rugby Clube com o Galícia Esporte Clube? Como eram as atividades do clube antes da parceria?

Em 2008, o então Bahia Rugby Clube estava responsável pela organização do Nordeste Sevens, que seria realizado em Salvador. Porém, neste ano aconteceu a fatalidade do desabamento de parte da arquibancada da Fonte Nova, o principal estádio público de Salvador e Pituaçu, estádio onde eram realizados os jogos de rugby, entrou em reforma para poder ser utilizado pelo Esporte Clube Bahia em competições nacionais de futebol.

Tentando solucionar o problema, partimos em busca de um campo gramado de dimensões oficiais. Eu, pelas raízes espanholas, sugeri o Galícia, porém, não tinha nenhum contato com os dirigentes do clube. Foi então que Suzane Sena, que apresentava um programa esportivo numa rádio local intermediou o contato com Renato Santarém, vice presidente do clube. Realizamos o torneio nas dependências do clube, e, percebendo a seriedade do grupo, nos foi proposto que passássemos a fazer parte do Galícia Esporte Clube. Diante da dificuldade de encontrar um local para treinos, prontamente aceitamos a proposta.

 

2 – Como funciona a parceria? Como é a relação entre o time de rugby e o clube social? O rugby tem acesso a todas as instalações do clube?

Trata-se de uma parceria bem simples. O Galícia Esporte Clube nos fornece o local para treinos, jogos, além das dependências para reuniões e, eventualmente, hospedar a equipe visitante (15 quartos, cozinha, banheiros, vestiário e um salão), enquanto o Galícia Rugby procura fazer algumas benfeitorias no clube e divulga o seu nome na mídia.

 

3 – Os atletas do rugby também são sócios do clube? Como vem sendo a relação entre o time de rugby, os sócios e os torcedores do Galícia?

Na verdade, não há um programa de associação por parte do clube. Quanto à relação com os torcedores , esta é muito boa. A maior parte da torcida do GEC é de senhores de meia idade para idosos e estes são muito empolgados, fieis e contribuem bastante com a compra de materiais (camisas, adesivos, etc) e com apoio durante os jogos.

 

4 – A parceria com um clube tradicional de futebol rendeu visibilidade ao rugby na cidade? Quais os maiores benefícios que você enxerga na associação com um clube famoso pelo futebol profissional?

A parceria, até então inusitada na Bahia, nos rendeu uma boa visibilidade sim. A curiosidade atraiu a mídia local, e fomos alvo de diversas matérias televisivas e em mídia impressa. Quando do nosso 1º título nordestino defendendo o nome “Galícia”, este foi muito noticiado pelo fato do Galícia, de muitas conquistas no futebol há décadas atrás, ter voltado a vencer.

Quanto aos benefícios, os mais significativos são o fato de poder contar com uma boa estrutura para nos prepararmos e os contatos que os dirigentes possuem, que auxiliam na redução de gastos.

 

5 – O fato do Galícia ser um clube de futebol que há muito tempo está longe dos holofotes atrapalha em alguma coisa? Ou se apresenta como uma vantagem para o crescimento do rugby dentro do clube?

Este fato nos incomoda um pouco por torcermos para o clube crescer como um todo.

Apesar da mídia não falar muito do Galícia, pela sua tradição, ele permanece possuindo um certo espaço. Este afastamento, no entanto, contribuiu para a nossa inserção no clube. A parceria com este esporte um tanto estranho para a maioria das pessoas atrai as atenções, sobretudo pelo fato de já ter se niciado com um grupo vencedor. Este fato se comprovou e foi realmente vantajoso não só para o rugby, que se estabeleceu no clube, como também para o Clube Esportivo que voltou a ter os holofotes voltados para si.

Hoje, nos interessa que o futebol do Galícia cresça cada vez mais. Creio que o retorno em investimentos para o clube social seria benéfico a todos.

 

6 – Hoje, como estão as atividades do rugby do Galícia? Quantos atletas o time possui? Quais categorias existem no clube? Quais campeonatos os times vem disputando e quais os projetos para o futuro?

Atualmente o Galícia Rugby conta com cerca de 40 atletas no masculino adulto e 18 no feminino.

O masculino vem disputando o Nordestão (Liga Nordeste), Nordeste 7’s e o Desafio Baiano de Rugby XV (uma série de 5 jogos com a FTC/Bahia Social, com o primeiro embate a ser realizado no dia 28/07). A equipe visa ainda participar de alguns torneios de Rugby 7’s no Sudeste do país.

A equipe feminina, em seu primeiro ano, está participando do Circuito do Nordeste de Rugby Feminino, e participará ainda do Nordeste 7’s. A equipe também tem o intuito de jogar alguns torneios de 7’s no Sudeste até o final do ano.

 

7 – Na sua visão, quais os potenciais benefícios da associação de uma equipe de rugby com um clube de futebol ou com um clube poliesportivo? Como você enxerga as possibilidades que estão se abrindo pelo Brasil para futuras parcerias desse tipo? E quais são os riscos da associação entre rugby e futebol?

A meu ver, a parceria com clubes menores, cujas torcidas sejam mais pacíficas, podem ser benéficas a ambas as partes. Creio que isto pode vir a trazer um crescimento em quantidade de atletas e na qualidade dos mesmos, por ter um local mais adequado aos treinos, além de fidelizar mais alguns apaixonados por acompanhar o esporte.

O meu maior medo das parcerias com os clubes de futebol é a rivalidade. Caso esta se mantenha saudável, será ótimo ter mais torcedores na arquibancada, porém, se os embates entre organizadas for trazido para a relação entre os clubes de rugby, o esporte se afastará demais das suas características. É muito bom ver clubes rivais se degladiando em campo e as suas torcidas festejarem lado a lado, assim como os jogadores farão após o apito final.

Para o jogo do Galícia do próximo dia 28, muitos torcedores do Vitória já estão se organizando para o apoiarem durante a partida e, de lá, partirem direto para o jogo de futebol do clube. Este é o rugby, um esporte onde a rivalidade deve permanecer em campo e o respeito deve ser cláusula pétrea.

Galicia ec