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Fernando Portugal é o novo treinador da Seleção Brasileira Masculina e nos deu uma entrevista exclusiva sobre o novo desafio. Portugal é o primeiro ex jogador da seleção a assumir como o treinador da seleção de XV desde Antônio Martoni no fim dos anos 90.

 

Pergunta: Como você recebeu o convite para assumir a seleção? Como você enxerga esse novo desafio na carreira?

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Resposta: A ideia de que o Rodolfo pudesse permanecer foi muito forte até o último momento. Então não tive muito tempo de digerir. A verdade é que estamos vivendo um momento de transição e fez-se necessária esta decisão. De todo modo assumi a posição de maneira interina. É um desafio muito grande, não pelo meu momento, ou minha carreira, mas pelo momento do rugby brasileiro. Os anos da era Ambrósio tiveram conquistas antes inimagináveis e não podemos parar de crescer. No momento estou pensando pouco na minha carreira e muito no rugby brasileiro.

 

Pergunta: Quais serão as suas prioridades no comando da seleção?

Resposta: Temos hoje duas frentes de trabalho, as Seleções e a estrutura do que seria o desenvolvimento do Alto Rendimento, as Academias. No que diz respeito à seleção minha prioridade é fazer com que o projeto deste time seja um projeto da comunidade do rugby. Os meninos jogam bem, são competitivos, encontraram uma maneira de jogar rugby com o Rodolfo e podemos criar novas variações, mas a seleção não pode ter fim nela mesma, precisa retornar para a comunidade. Quero encontrar este caminho.

 

Pergunta: Quais os pontos mais importantes para se dar continuidade e quais os maiores problemas a serem resolvidos dentro do trabalho da seleção?

Resposta: Hoje temos um sistema de treinamento e desenvolvimento de atletas no que diz respeito a desenvolvimento técnico e físico, que funciona muito bem. Há sempre o que melhorar, mas esta foi a grande herança deixada pelo sistema do Rodolfo. Não podemos parar. Porém, o desenvolvimento de um atleta sempre vai terminar no campo de jogo. E o que nos falta é competição em alto nível fora do ambiente de seleção.

Em 2020 não teremos compromissos da seleção no primeiro semestre. A janela internacional de amistosos World Rugby passou para Julho, o ARC acontecerá entre agosto e setembro e a janela internacional de novembro. Ou seja, não teremos jogos da seleção no primeiro semestre e precisaremos dar competição para os jogadores. Por isso estamos fazendo um esforço enorme para colocar uma franquia na Super Liga Sul-Americana.

 

Pergunta: Como você enxerga o processo de renovação da equipe (pensando no trabalho para 2023 e na proximidade com o trabalho realizado com os juvenis)?

Resposta: No jogo contra os Barbarians pudemos ver brilhar dois meninos frutos dos trabalhos da base dos clubes e da seleção, Felipe Cunha e Maranhão, que jogaram juntos os sul-americanos juvenis de 2016, 2017 e 2018. No campo ainda estavam Blade e Matheus, que também viveram este processo. Ou seja, há hoje um trabalho na base que se reflete no mais alto nível de competição da seleção brasileira adulta.

Devemos ter atenção ao início da Super Liga Sul-Americana, pois muitos destes meninos podem não estar no elenco da franquia e irão precisar de competição local de alto nível para seguirem se desenvolvendo. Precisamos amparar tecnicamente os clubes neste processo.

 

Pergunta: Pensando no futuro da seleção e no projeto da Liga, como será a abordagem do trabalho para conectá-lo com a comunidade do rugby (clubes, torcedores)?

Resposta: Precisamos entender que o Alto Rendimento não tem fim nele mesmo e não precisamos fazer uma escolha entre rugby profissional, ou amador. A verdade é que tudo faz parte de um ciclo que se retroalimenta. Quanto mais visibilidade o alto rendimento gerar, mais meninos e meninas irão praticar rugby, mais pessoas envolvidas e consumindo e maior potencial de encontrar os verdadeiros talentos. Ou seja, podemos e devemos trabalhar juntos, reconhecendo a importância de cada elo.

A Liga profissional faz parte deste processo e chegar a um mundial também. Por isso precisamos construir este projeto entre todos. O primeiro passo é entendermos isso desde o Alto Rendimento e caminharmos na direção da comunidade do rugby e não o contrário. Estamos desenhando um projeto com ações que contemplam esta filosofia.