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Na semana passada, você começou a acompanhar a aventura de Diego Dubard na Geórgia, sua seleção do coração. Desde a entrada tranquila nesse país do leste europeu, a rivalidade política com os russos e a estrutura do campeonato local. 

Nessa semana, vamos saber mais sobre a hospitalidade georgiana, a incrível troca de experiências com pessoas do Rugby do undo inteiro e um encontro inusitado em uma lanchonete norte-americana.

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“Um hóspede é um presente de Deus”, diz o ditado georgiano, e a recepção dos georgianos é fantástica. Eles fazem você se sentir em casa. Desde antes de sair do Brasil fiz amigos georgianos que são jogadores, dirigentes e torcedores por causa do Rugby, o que deixou tudo mais fácil. Recepção no aeroporto, translado, hospedagem, alimentação. Esses contatos me proporcionaram algumas oportunidades que parecem demais.

Na quinta-feira antes da partida fui convidado para assistir o treino da seleção georgiana e conhecer o centro de treinamento deles. São quatro campos (dois naturais e dois sintéticos), academia, clínica, área de fisioterapia, área de imprensa, arquibancada para 5 mil pessoas. Só o fato de brincar com a bola junto com jogadores que vão disputar a Copa do Mundo na Inglaterra, conversar com o treinador sobre porque ele está usando tantos chutes nos jogos e participar da coletiva com a imprensa já compensaria, mas ver que mesmo num país que tem no Rugby um dos melhores resultados esportivos (os outros esportes são judô, luta olímpica e levantamento de peso) tem problemas parecidos com o que nós enfrentamos aqui no Brasil mostrou que o nível de estrutura, ao menos, não é tão dispare assim.

Uma coisa que as pessoas precisam saber sobre a Geórgia é que a melhor internet gratuita de Tbilisi é do Wendy’s, uma cadeia de fast-food americana, da Avenida Rustaveli. Essa lanchonete também me deu um dos mais inusitados encontros da visita. Na noite de sexta-feira, antes de partir para o Nali Pub, que toca música internacional e é muito frequentado por estrangeiros, passei no Wendy’s para ver e-mails, atualizar o whatsapp, postar fotos no facebook e encontrei dois jogadores da seleção do Japão comendo um hamburgão escondido do manager e do treinador, Eddie Jones. É uma dessas coisas maravilhosas do rugby, basta você dizer que joga, treina ou apita, que vira assunto. Fiquei quase uma hora com os pilares importados que o Japão arrumou no pacífico falando bobagem sobre Rugby, discutindo lances e ouvindo a cada dez minutos que eu não deveria dizer ao manager que eles estavam ali. Quando nos despedimos parecia que tínhamos saído de um terceiro tempo depois de um jogo pegado, rindo de qualquer besteira que outro falava, fazendo piadas e prometendo que não contaria ao manager que eles estavam comendo hambúrguer menos de 48 horas antes do jogo. Promessa cumprida.

O Rugby realmente derruba barreiras. No Nali Pub, o lugar que mais frequentei em Tbilisi, encontrei dois galeses que ficaram emocionados quando contei que meu clube no Brasil tinha uma troféu em homenagem a um compatriota deles, conheci um ex-jogador de Fiji e seu amigo de Vanuatu, que ficou surpreso porque eu sabia que seu país existia. Conheci um árbitro sul-africano fazendo um estágio na Geórgia e com planos de ir para argentina ano que vem.

Sábado, véspera do jogo, e recebo uma ligação do gerente de mídia da Georgia perguntando o que eu ia fazer na tarde-noite, falei que não tinha nada programado e surge o convite. “Quer ser voluntário de comunicação com a imprensa da Georgia hoje e amanhã, dentro do campo?” Aceitei na hora. O trabalho era tranquilo, sentar e esperar, o prêmio era ver o jogo do campo. Foi no sábado que descobri uma tradição do Rugby internacional que não conhecia, o jantar pré-jogo (pre-match dinner), onde se reuniriam os dois staffs, os árbitros para acertar os últimos detalhes, comer e confraternizar (quem dera desse pra fazer isso no Rugby do Distrito Federal). O lugar escolhido foi o Sin Bin Pub, bar e restaurante dedicado ao Rugby georgiano, com caps, gravatas, fotos dos times locais, camisas usadas nas Copas do Mundo, presentes de outras seleções e times. Na mesma mesa, assistindo os jogos internacionais de sábado estavam Eddie Jones, treinador do Japão; Romain Poite, árbitro da partida, também conhecido por dar o amarelo ao Bismarck du Plessis; seus assistentes; e Mr. Richard Dixon, treinador da Georgia na Copa de 2011, consultor da World Rugby e provavelmente a pessoa que todos gostariam de conhecer.

Richie, ou bábu – vovô, em georgiano – é um senhor escocês que conhece profundamente o jogo. Amado por todos na Geórgia, se tornou treinador da seleção por amor. Em 2010, ele já prestava consultoria no desenvolvimento do Rugby georgiano, quando a Georgia perdeu seu treinador. O presidente da GRU ficou desesperado, como iria conseguir um treinador faltando tão pouco tempo para a Copa do Mundo? Ligou para o Richie pedindo ajuda e o escocês fez o que pode, ligou para conhecidos e não conseguiu nada. Então o presidente da GRU perguntou se ele poderia assumir o comando da Georgia.Babu já tinha sido treinador na Escócia até 2002, explicou que fazia muito tempo que não treinava um time. “Richie, é você ou não teremos um treinador. Só faça o melhor que você puder”, e foi assim que Richie Dixon comandou uma seleção numa Copa do Mundo.