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O que não falta a Buenos Aires, destino cada vez mais comum a brasileiros, são museus. O Judío contém relíquias e depoimentos de sobreviventes do holocausto residentes na Argentina; o de Ciencias Naturales, fósseis do maior (Argentinosaurus) e do mais antigo (Eoraptor) dinossauros já encontrados, e um crânio do T. Rex; o MALBA tem Abaporu, da Tarsila do Amaral; há os do Imigrante, da Casa Rosada, da História Nacional, de Evita, Carlos Gardel…

Esportes também têm seu espaço, com o museu do Boca tendo lugar cativo mesmo nas programações mais curtas do turista que não é tão ligado a futebol – o do River, bem mais distante do centro turístico, é ainda melhor. O Argentinos Juniors, que revelou Maradona e Riquelme, também tem o seu. E, igualmente, o Rugby, na região metropolitana da capital argentina. E é um espaço nada desconhecido para brasileiros fãs da bola oval, embora o Portal do Rugby ainda não o tivesse visitado.
 
Segundo o curador, Jorge Luccioni (ex-jogador do extinto Central Buenos Aires e que ainda pratica rugby, em partidas para maiores de 80 anos), cerca de 600 brasucas estiveram lá ano passado, e na caixinha de contribuições era possível ver bem mais de uma nota de real espalhadas. Ainda assim, havia sido com espanto que o atendente do albergue reagiu ao pedido de um brasileiro para ligar ao museu para saber horários, não encontrados no site, para depois afirmar que “é pequeno, mas é lindo”. Quanto aos horários: 10 às 18 horas de terça a domingo (mas é provável que não abra em dia de jogos da seleção). A entrada é franca; a caixinha é para doações espontâneas mesmo.
 
O museu não fica na cidade de Buenos Aires, e sim em San Isidro, ao norte da capital. Mas pode ser encaixado na programação de quem faz outro passeio turístico “pop”, a descida pela foz do Rio Paraná a partir da cidade de Tigre. Agências de turismo que exploram esse passeio normalmente partem de van desde Buenos Aires e fazem uma escala na estação ferroviária do Tren de la Costa em San Isidro, que fica a caminho de Tigre. Na estação é que fica o museu. Os guias lhe dariam cerca de meia hora para aproveitar San Isidro e, consequentemente, ele.
 
Se preferir maior liberdade de tempo, sem agências, pegue trem no terminal ferroviário de Retiro, em Buenos Aires – a linha C do metrô leva até lá, pela estação Retiro. No terminal, use a linha Mitre. Ela tem estações em San Isidro e em Tigre, mas não pelo Tren de la Costa. Ainda assim, a estação da Mitre em San Isidro não é distante da do Tren de la Costa; está a seis quadras dela. Se quiser pegar a da Costa, terá de inicialmente usar a linha Mitre do mesmo jeito, mas no trem que vai até a estação Bartolomé Mitre e não à estação Tigre. Na estação Bartolomé Mitre, você faz conexão com a estação Maipú, a primeira do Tren de la Costa, que por sua vez termina na estação Delta, mais próxima à foz do Paraná.
 
De qualquer forma, por trem você deve levar uma hora para chegar a San Isidro. O museu não poderia ficar em lugar mais apropriado: a cidadezinha é a capital do rugby hermano. Ali estão os mais vitoriosos clubes da URBA, os rivais CASI (Club Atlético de San Isidro) e SIC (San Isidro Club). O CASI, que revelou Pichot e o atual técnico puma Phelan, por sinal, está a cerca de sete quadras do museu: pergunte pela esquina da Roque Sáenz Peña com 25 de Mayo. Se você tiver tempo de sobra, na cidadezinha de San Fernando, entre Tigre e San Isidro, está o Buenos Aires Cricket and Rugby Club, o pioneiro do rugby e do futebol na Argentina – sua instituição mãe, o Buenos Aires Football Club, foi fundada em 1867.
 
Como não poderia deixar de ser, o material principal é focado no rugby argentino, mas há um generoso espaço para regalos de adversários. Talvez o mais surpreendente seja o uniforme da antiga seleção M19 da União Soviética. Também têm espaço camisas de Brasil, Austrália, Inglaterra, Gales, Escócia, Irlanda (de 1952, quando ocorreu a primeira vitória argentina sobre uma seleção de alto nível: não ainda da seleção, mas do clube Pucará) e África do Sul, contra quem aparecem as camisas de maior destaque do rugby argentino. 
 
Logo à direita após entrar, pode ser vista uma camisa original da excursão que a Argentina fez pela África em 1965. Foi ali que ela, ao vencer os Junior Springboks, tornou-se Pumas. Na mesma vitrine, a mais antiga foto da seleção, antes de sua estreia em 1910 contra os British Lions no centenário da Revolução de Maio. À frente, aparece a camisa colorida dos Jaguares, como foi chamada a seleção da CONSUR nos anos 80 para jogos contra a boicotada África do Sul na época. 
 
Embora Brasil, Chile, Uruguai e Paraguai também estejam representados nas cores e no brasão dos Jaguares, a única vitória sobre os Springboks veio com quinze argentinos, em 1982 – é a única vitória argentina até hoje sobre a seleção principal da África do Sul. À esquerda, uma vitrine com três diferentes camisas dos Pumas, com destaque para a mais antiga ainda preservada, de 1932. 
 
Também de um jogo contra os Junior Springboks, hoje essa camisa está tão desbotada que mal pode se ver as listras celestes. Próximo, uma foto gigante da primeira equipe de rugby fora da comunidade britânica, a da Faculdade de Engenharia. Um dos jogadores é Jorge Newbery, pai da aviação argentina e nome do aeroporto doméstico de Buenos Aires. Outra foto de destaque é a de Che Guevara como rugbier do Los Tilos. Pequenos itens de um lugar sensacional para o fã do esporte. Site: www.museodelrugby.com
 
PS: Na mesma estação ferroviária de San Isidro, também havia um bar-loja temático de rugby, o Kick Off. Infelizmente, ele fechou. Mas se sua viagem se conciliar com Montevidéu, ainda poderá encontrar uma unidade, no bairro de Carrasco – o mesmo do aeroporto da capital uruguaia.
 
Escrito por: Caio Brandão