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O início de janeiro foi marcado pelo início da aplicação do novo protocolo sobre tackles perigosos e das novas Leis experimentais do World Rugby, que foram propostos com dois intuitos primordiais: garantir maior segurança física aos atletas e ​tornar o jogo mais rápido e dinâmico para o espectador.

 

A elevação do “tom” da arbitragem com relação aos tackles perigosos considerados imprudentes ou acidentais teve como intuito reduzir os riscos do contato com a cabeça, parte de uma série de medidas de prevenção contra concussões que o World Rugby vem tomando nos últimos meses. O tema foi longamente debatido na imprensa internacional e algumas questões importantes sobre os efeitos das medidas no jogo foram levantadas. No popular programa de TV Rugby Tonight, da BT Sports britânica, Ben Kay e Ugo Monye, dois ex jogadores ingleses, discutiram sobre como o portador da bola pode levar vantagem sobre os defensores por conta do protocolo e como que o rigor da arbitragem sobre o contato com a cabeça pode ter desdobramentos nas imediações do in-goal, com penal tries podendo ser marcados com maior frequência.

No último sábado, o duelo entre Scarlets e Ulster pelo PRO12, a Liga Celta, já teve polêmica entre os torcedores, com os galeses do Scarlets conquistando um penal try que foi envolto de reclamações posteriores da parte dos irlandeses do Ulster.

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Consultamos Luís Mourão, ex árbitro, colunista do programa Mesa Oval e criador do Fair Play Rugby (www.fairplayrugby.com.br), site nacional dedicado à capacitação técnica no jogo de Rugby (que inclui Arbitragem), sobre a questão levantada por Kay e Monye. “As situações levantadas já acontecem há muitos anos e continuarão sendo, subjetivamente, analisadas, uma a uma, por cada árbitro”, ressaltou. Aqui, a solução técnica para os atletas será a ênfase nos tackles lateralizados. “Não há nada que se possa fazer quanto a isto se não mudarem a técnica de tackle. Quanto mais se afasta do risco de lesão durante o tackle, mais se afasta também de uma eventual subjetividade equivocada dos árbitros”.

 

Mourão ressaltou a importância de se compreender a diferença entre intencionalidade e periculosidade no tackle. “Particularmente entendo que estes dois critérios (intencionalidade e periculosidade) são muito ‘próximos’ dentro no nosso esporte e andam, por vezes, lado a lado. Se a arbitragem não os distingue corretamente pode haver confusão na dosimetria da sanção”. Nesse sentido, “raramente um tackle perigoso acidental pode ser tão perigoso ou gerar lesões tão sérias quanto um tackle perigoso intencional. Mas pode acontecer? Sim, sem dúvida. E onde está a diferença? Justamente na intencionalidade. Porém, o critério principal continua sendo periculosidade e a sanção pode acabar sendo igual, enquanto que o ‘agravante de intencionalidade’ virá somente na descrição em súmula, conforme ocorra ou não em cada caso”.

 

Sobre a suposta vantagem do atleta que sofre o tackle, “a questão principal e perigosa, não mostrada por eles é a utilização indevida do cotovelo ou antebraço à frente para evitar o contato do tacleador”, ressaltou. ” A situação em si de tackle perigoso ou não, no jogo próximo ao in-goal, é exatamente a mesma, só se acrescenta a possibilidade de impedimento de try ou não de forma intencional através de foul play (no caso tackle perigoso), o que geraria eventual try penal. Abaixar-se para buscar maior estabilidade (baixando o centro gravitacional) vai continuar sendo técnica desenvolvida e é a mais correta, não há nada o quê se fazer quanto a isto”.

 

“A sequência mental para arbitragem parece ser: 1 Qualificar como perigoso ou não o contato com a cabeça; 2 Se perigoso, então, classificar o contato como intencional, imprudente ou acidental (por periculosidade e não intencionalidade, num primeiro momento; apesar dos termos levarem a outro entendimento para os distraídos); 3 Sancionar conforme classificação, visto que a sanção é obvia após qualificação como ‘perigoso’. Isso exige também uma melhoria de posicionamento dos árbitros no momento pré tackle”, concluiu Mourão.

 

Para nós aqui no Brasil, pensando no nível amador, é essencial que a elevação do tom da arbitragem colocada agora pelo World Rugby, os protocolos para a segurança dos atletas no contato com a cabeça e os debates que estão acontecendo sobre a técnica do tackle e o julgamento da arbitragem sobre os tackles estejam na cabeça de todos os que fazem rugby no país, sejam treinador, jogadores, dirigentes ou árbitros. É justamente a conscientização sobre tais questões o grande desafio deste início de ano. Estudar é preciso, rever-se é preciso, buscar esclarecimento sobre as dúvidas é preciso, ainda mais num mundo do rugby que passa por uma verdadeira revolução física, com jogadores, em todos os níveis, melhor preparados. O rugby está em constante movimento e transformação. Não importa se ele é amador ou profissional.

 

Concussão de George North

Em dezembro, o galês George North sofreu uma pancada na cabeça atuando por seu clube, o Northampton Saints, em clássico da Premiership inglesa contra o Leicester Tigers. O lance desacordou North que, no entanto, voltou a jogar, em decisão que foi contra o protocolo de concussões do World Rugby, que prevê que o atleta seja imediata e permanentemente retirado da partida quando sob risco de concussão, com uma série de medidas que devem ser tomadas pelos médicos da partida. O World Rugby investigou o acontecido em conjunto com a Premiership e a RFU (a federação inglesa), concluindo que os médicos priorizaram a avaliação de uma possível lesão na coluna, deixando a avaliação sobre uma possível concussão em segundo plano, não aplicando devidamente o protocolo sobre lesões na área da cabeça.

 

A entidade publicou sua satisfação sobre as medidas posteriores da Premiership e da RFU e a atenção dada pelo Northampton Saints no trabalho de educação e conscientização de seu corpo médico.

 
Agradecemos também a Carlos Puttini, da comunidade Rugby Brasil no Whatsapp, pela sugestão da pauta.

 
Foto: Ben Evans/Sportsfile – Ulster após derrota contra o Scarlets

2 COMENTÁRIOS

  1. Em qualquer esporte se valoriza mais o ataque e não a defesa e as regras são sempre voltadas para que quem quer propor o jogo tenha vantagens pois, teoricamente, destruir é mais fácil que construir. Não acho que seja tanto o caso do rugby, mas, não tenho dados sobre iso, me parece que o tackle perigoso geralmente se dá quando o tackleador esá MAL POSICIONADO, portanto ele é de uso indevido SIM, mesmo que não intencional, pois a capacidade técnica também se avalia pelo coletivo, pelo posicionamento e pela antecipação da defesa ante o ataque. Ganha quem sabe se posicionar, quem joga coletivamente com a comunicação e quem não se utiliza somente da força física, mas também da agilidade e coordenação tática. Ganham os mais inteligentes.