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No início desse mês, a atleta da seleção brasileira feminina de rugby Isadora Cerullo esteve presente na Brazil Conference, uma conferência organizada por alunos brasileiros da Harvard University e do Massachusetts Institute of Technology (MIT) com a ambiciosa missão de construir um espaço global para discutir o futuro do Brasil e seu papel no mundo.
 
E sua noiva Marjorie “Yu” Enya, acompanhou essa jornada e compartilha com a gente como foi!
 
Os paineis do evento viraram notícia porque envolviam nomes de peso, de celebridades corporativas como Jorge Paulo Lemman à figuras políticas proeminentes como a ex-presidenta da República Dilma Roussef; mas não só por isso. O que torna essa iniciativa tão única e especial não é sua capacidade de trazer uma constelação de diferentes áreas para discutir temas pertinentes ao futuro do país, mas sim a ousadia de colocar as divergências (e o respeito a elas) como um ingrediente fundamental para o sucesso de qualquer iniciativa transformadora. Mas o que o rugby tem a ver com isso?
 
Izzy foi convidada para compor um painel sobre violência, diversidade e inclusão, e compartilhou a mesa com Djamila Ribeiro (ex-secretária de Direitos Humanos de São Paulo), Áurea Carolina (vereadora de Belo Horizonte) e Marcos Nisti (CEO do Instituto Alana). Na plateia, palestrantes anteriores como Wagner Moura e Luciana Boiteux ouviam atentamente perspectivas tão diversas sobre um assunto tão pertinente aos desafios do Brasil. Os desavisados facilmente poderiam presumir que Izzy estava lá para repetir seu depoimento sobre ter sido pedida em casamento num episódio que viralizou internacionalmente. Poderiam achar, também, que as causas abraçadas por ela dizem respeito exclusivamente às mulheres, mais especificamente aquelas que não se identificam como heterossexuais. O recado que sua presença deixou, porém, é uma lição que muitos outros esportes ainda precisam aprender (e que o rugby não pode perder de vista): é necessário promover a relevância do esporte além do espetáculo. E voltando ao contexto da Brazil Conference: é necessário promover a relevância do diálogo nas interações cotidianas, e não só naquelas sujeitas ao escrutínio em redes sociais ou monitoradas em fóruns que tem o diálogo como fim.
 
A participação de Izzy veio acompanhada pela pressão adicional de ser a única atleta convidada a palestrar no evento. Nas palavras dela, “não era só uma questão de apresentar uma experiência pessoal, mas de explicitar a relevância do esporte em uma conversa sobre como promover o diálogo em um país que parece estar cada vez mais dividido pela ausência dele. Era um evento majoritariamente composto por acadêmicos, políticos e homens e mulheres de negócios, então o desafio era fazer valer meu espaço fora do nicho exclusivamente esportivo”. Ao longo do painel, a hesitação se transformou em êxito com todos os presentes reconhecendo que o ofício de atleta vem carregado de significados – e que, quando o assunto é diversidade e inclusão, há muito que se aprender com o rugby.
 
O rugby brasileiro está cheio de exemplos de projetos sociais que investem exatamente no potencial do rugby para ser um veículo de transformação, mas há um exercício que explicita este potencial mesmo nos círculos em que não existe um esforço deliberado para gerar transformação. Olhe para o seu clube, para sua trajetória no rugby, e conte quantas pessoas diferentes de você só entraram na sua vida por causa do esporte. Não raro a conclusão será que o rugby não é o que você sempre esteve procurando, e sim aquilo que trouxe as coisas de que você nem sabia que precisava.
 
Segundo Nizan Guanaes, a Brazil Conference se estabelece como a Davos brasileira por conseguir encontros antológicos, improváveis e por isso mesmo frutíferos. Adversários, figuras antagônicas e controversas foram convocados a abandonar suas vaidades e intransigências em nome de compartilhar um espaço criado por um denominador comum (a subjetiva intenção de “criar um Brasil melhor”) a todos eles. E, se à primeira vista parece estranho que o rugby estivesse presente neste evento, vale dizer que nosso esporte tem a tradição de promover esses encontros improváveis: na nossa microesfera, chamamos de Terceiro Tempo.

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