Corinthians (atual Cobras) e Peñarol em 2020. Foto: Peñarol Rugby

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ARTIGO OPINATIVOHá quase um ano, a CBRu lançou a franquia Corinthians Rugby como a representante brasileira na SLAR, a nova liga profissional sul-americana. A identidade escolhida foi um verdadeiro erro, fruto de insensibilidade ou de julgamento falho com relação às prioridades e à realidade do rugby brasileiro.

Já estava óbvio na virada de 2019 para 2020 que o rugby brasileiro precisava trabalhar em busca de unidade, de cooperação, de senso de pertencimento. Isto é, já era urgente buscar uma estratégia para melhorar a relação com a comunidade. Um novo projeto de time profissional requer engajamento positivo do público. É evidente.

Adotar uma marca do futebol tem o efeito colateral previsível de trazer as paixões e as tensões criadas e forjadas em outro esporte para dentro do rugby. Acreditar que a comunidade do rugby iria ignorar o simbolismo da marca Corinthians e abraçá-la incondicionalmente é ingênuo, para dizer o mínimo.

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É claro que a intenção de ter o Corinthians no rugby era de trazer novos fãs e aporte financeiro. Pois bem, ao menos em  2020, o Corinthians não trouxe investimento extra para o rugby. Nem sequer garantiu um estádio para a franquia. Para que ter Corinthians se nem sequer um dos estádios do clube poderia ser usado? O Corinthians jogaria a SLAR em 2020 em Santo André, caso a pandemia não tivesse interrompido a liga.

Por sua vez, a ideia de que o Corinthians traria novos fãs conflita com o princípio óbvio de que o mesmo Corinthians dividiria a comunidade do rugby. Lógico, o rugby precisa seguir expandindo seu número de fãs. Porém, a melhor estratégia para expandir o apoio ao rugby é dividindo o que já existe? Afastando parte da comunidade? É claro que não é o melhor caminho.

Se a maior preocupação do rugby é unir, adotar uma marca que crie divisão é totalmente insensato. É óbvio que nenhuma marca é unânime e sempre haverá algum descontentamento de algum lado. Um clube de futebol, no entanto, jamais será capaz de representar todo um país. É divisório, por essência, e só se justificaria se houvesse mais de uma equipe brasileira na competição. Como o rugby brasileiro começará com apenas um time na SLAR (um time que quer representar todo o país), há certamente melhores alternativas.

Não me entendam de modo errado. O Corinthians é mais do que bem vindo no rugby. Qualquer clube de futebol é. Muitos rugbiers são contra clubes de futebol envolvidos com o rugby, mas isso é mais purismo do que sensatez. Se um clube quiser investir e apoiar a modalidade, qual o problema? Se os valores de respeito que o rugby prega prevalecerem na gestão da equipe, não há problema algum. Há vários clubes de futebol que têm times de rugby pelo mundo. Mas nenhum clube de futebol pode ocupar a posição de representante de todo o país. A Confederação Brasileira de Rugby precisa representar todo o Brasil e não pode ser ela representada por um clube de futebol que divida a comunidade.

Em 2021, a CBRu tem nova gestão, com um novo Conselho assumindo sua direção. A SLAR é a preocupação de maior urgência, pois o pontapé inicial para a liga é em março. É hora de começar a curar feridas e unir o rugby. O primeiro passo é ter uma nova marca para a franquia profissional.

Um característica marcante em ligas esportivas que criam franquia novas é a prática de eleger o nome do time por meio de votação entre os fãs. Seria um bom jeito de começar o ano.