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ARTIGO COM VÍDEO – Nesse sábado a Copa do Mundo começa a decidir seus dois grandes finalistas e a primeira semifinal é nada menos que o maior clássico do rugby mundial: África do Sul e Nova Zelândia, que se enfrentam pela quarta vez em uma Copa do Mundo. Nos confrontos anteriores, foram duas vitórias dos Springboks (na final de 1995 e na disputa do 3º lugar de 1999) e uma vitória dos All Blacks (nas quartas de final de 2003), mas, ao longo da história são os neozelandeses que levam a vantagem, com 52 vitórias contra 35 dos sul-africanos (que, entretanto, seguem junto dos Wallabies como um dos dois únicos times com vantagem em Mundiais contra os All Blacks). Neste ano, pelo Rugby Championship, os All Blacks falaram mais alto e venceram na casa dos Springboks, em jogo emocionante. Porém, deixemos o histórico de lado e vamos ao presente: quem ganha?

 

Para a partida em Twickenham, a Nova Zelândia terá apenas uma alteração no time titular que superou a França nas quartas. É o pilar Joe Moody, que substitui o lesionado Wyatt Crockett, com Ben Franks no banco de reservas. A África do Sul, por sua vez, não mudou ninguém do time que derrotou Gales no apagar das luzes. A novidade vem do banco, com Victor Matfield virando opção para o técnico Heyneke Meyer, que, contudo, não quis mexer na dupla de segundas linhas Lood De Jager e Eben Etzebeth.

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Todos os campeões da história da Copa do Mundo foram campeões invictos e a África do Sul pode se tornar o primeiro país a quebrar tal tabu. Porém, Heyneke Meyer já deixou claro em entrevista antes da partida que o favoritismo é toda da Nova Zelândia, considerada por ele o maior time da história do rugby mundial. Steve Hansen, por outro lado, sabe que a África do Sul renasceu e, como já provou inúmeras vezes, é cauteloso o bastante para manter sua equipe com foco máximo no que deve ser feito em campo, deixando longo da cabeça as armadilhas do favoritismo.

 

No papel, é inegável a vantagem dos neozelandeses, ainda mais com a África do Sul tão claudicante. Neste ano, a seleção sofreu duas das mais dolorosas derrotas da sua história (contra Argentina e Japão) que, entretanto, estão mostrando terem efeito positivo, pois fizeram a equipe se recompor e colocar na cabeça que a única forma de amenizar as memórias ruins é chegando no topo: ao título Mundial.

 

Sob o prisma das estatísticas, a Nova Zelândia leva vantagem tanto no ataque como na defesa, apesar da África do Sul apresentar números excelentes. Os All Blacks chegam à final com a incrível marca de não terem perdido nenhum scrum e nenhum lateral seu ao longo da Copa do Mundo, ao passo que os Springboks tiveram aproveitamentos superiores a 95% em ambos, com as perdas sendo obra japonesa. Nos tackles, a África do Sul tem índice de aproveitamento levemente melhor, mas cedeu mais penais aos oponentes. Os número, no entanto, são muito próximos, o que não é de se admirar pelas campanhas devastadoras (no caso dos Boks, devastadora apenas após a derrota para o Japão).

 

Onde o jogo será decidido, então? Em qualquer lugar. Vem se tornando clichê dizer que a vitória passa pela superioridade no breakdown e nos laterais, já que ambos resultam, em geral, em maior posse de bola e, em um jogo cada vez mais físico, quem controla a bola sai na frente. Ainda mais com a chuva se aproximando de Londres. Em condições climáticas complicadas, no entanto, o imponderável aparece. E a chuva favorece os Springboks, que gostam de um jogo físico, onde haja menos espaços para correr com a bola e onde não prevaleça a habilidade individual, que favorece os All Blacks. Com o jogo aberto possível, a Nova Zelândia leva a vantagem, e não apenas pela qualidade de sua linha, sempre mortal nos famosos contra-ataque, mas também pela capacidade de seus modernos forwards em correrem com a bola.

 

A Copa do Mundo provou que o Rugby Total de Steve Hansen é a arma neozelandesa, que é capaz de colocar um scrum-half dentro do alinhamento lateral ou um pilar esperando a bola na ponta. No time de Hansen, todos jogam em todas as posições, o que dificulta enormemente a linha defensiva dos oponentes. Os All Blacks têm avançados de agilidade notável, como Kieran Read e Dane Coles que se movimentam por todo o campo, de forma a não seguir os padrões esperáveis para atletas de suas posições. Ambos são opções reais no jogo de mãos, aparecendo na ponta com vantagem física sobre seus marcadores, rompendo as defesas.

 

A África do Sul é mais quadrada e seus forwards menos móveis. Ainda assim, a batalha não está perdida. Se na primeira linha Dane Coles está em alta e Bismarck du Plessis sente o peso da idade, na segunda linha os Boks estão em franco crescimento, com Etzebeth e De Jager – uma máquina de tackles – compondo uma jovem e temível dupla. Do outro lado, Brodie Retallick é mais um dos forwards distintos, com qualidade no jogo de mãos e capaz de fazer muito mais do que ir para a colisão. Jogando ao lado do rodado Sam Whitelock, que é ingrediente essencial para qualquer jogo de tensão elevada, a segunda linha neozelandesa imporá um grande desafio aos sul-africanos, pois reúne mais qualidade técnica e experiência. Read e Retallick estão no topo dos jogadores que mais laterais roubaram até aqui no Mundial e exercerão grande pressão nos alinhamentos sobre os Boks.

 

O trunfo dos Springboks está na terceira linha, com Schalk Burger e Duane Vermeulen formando aquela que talvez seja a mais temida dupla do momento. Vermeulen é genial, Burger incansável, e ambos têm condições de pleitear ter vantagem sobre Read e McCaw, que pode ser um mito, incansável e astuto, mas estará diante de iguais. Vermeulen mostrou sua capacidade de decidir partidas contra Gales e Burger está entre os melhores em qualquer estatística defensiva da Copa. Contudo, quem decidiu o jogo do Rugby Championship entre as duas seleções em 2015? McCaw.

 

Mas, talvez o duelo mais aguardado da partida seja entre os scrum-halves, os dois melhores da atualidade: Aaron Smith e Fourie Du Preez. Há que se esperar coisas grandes de ambos. Smith é incisivo, Du Preez controlador. Ambos podem colocar a partida em suas mãos e são um dos fatores de maior desequilíbrio em campo. No apoio deles, estará o embate de nova e velha gerações de abertura. Dan Carter mostrou contra a França que não está nada acabado e ainda pode mostrar muito, sobretudo cheio de vontade de finalmente vencer uma Copa do Mundo atuando. Já Handré Pollard foi muito criticado ao longo da temporada e segue como uma promessa acima de tudo. Esta é a hora da promessa desabrochar de vez.

 

Nos centros, é experiência contra juventude também, e novamente é inegável que Ma’a Nonu e Conrad Smith estão um passo adiante. A idade pode estar chegando, mas ambos ainda formam a melhor dupla do mundo e mostraram isso ao longo do Mundial, brilhantes tanto no ataque como na defesa. O entrosamento é irretocável. Do outro lado está a dupla Damien de Allende e Jesse Kriel, nova, ainda com acertos, sobretudo defensivos, a fazer, mas agressiva e perigosa demais com a bola em mãos.

 

Atrás, a Nova Zelândia também leva vantagem. O destaque fica por conta do duelo épico entre jovem e velha gerações de pontas. Dessa vez, a experiência maior está do lado dos Boks, com Bryan Habana e JP Pietersen, mas o momento pesa a favor dos All Blacks, com Julian Save e Milner-Skudder voando baixo. Se Milner-Skudder é a velocidade imparável e a sensação da Copa, Savea é a estrela ascendente do rugby mundial que pode virar lenda, emulando e quem sabe superando os passos de Jonah Lomu. Ele é forte, rápido, uma máquina de tries. E chega à partida justamente brigando com Habana para ser o tryman da Copa – e o maior anotador de tries em um só Mundial. Com outras Copas pela frente, Savea pode se tornar o maior da história. Mas, descartar Habana da jogada é loucura, o que dará ainda mais emoção para o duelo. Um deslize e Habana não perdoa. E, por fim, entre os fullbacks, Willie Le Roux entrou no Mundial como candidato a melhor do mundo, mas até agora não decolou e mostrou sérias deficiência defensivas, sobretudo na bola aérea. Ben Smith, por outro lado, segue sólido e dando apoio imprescindível para os pontas. Mais um ponto a favor dos Homens de Preto, mas com condições sim de uma reviravolta dos verdes.

 

E no banco de reservas? Mais pontos a favor dos All Blacks, com muito mais peças de reposição à altura e com um técnico muito melhor (sorry, Meyer). Sony Bill Williams pode mudar tudo no segundo tempo, Beauden Barrett é capaz de entrar e dar qualidade ao time a qualquer momento e a dupla de terceiras linhas que aguarda poderia ser titular de qualquer time do mundo, com Sam Cane e Victor Vito. A África do Sul tem muito menos peças que mudem o curso de um jogo.

 

Agora é sentar e ver mais um jogo que entrará para a história do rugby, sem dúvida

 

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13h00 – África do Sul x Nova Zelândia, em Twickenham, Londres – ESPN+ AO VIVO

Árbitro: Jérôme Garcès (França)

Assistentes: Romain Poite (França) e John Lacey (Irlanda) / TMO: George Ayoub (Austrália)

 

África do Sul: 15 Willie le Roux, 14 JP Pietersen, 13 Jesse Kriel, 12 Damian de Allende, 11 Bryan Habana, 10 Handré Pollard, 9 Fourie du Preez (c), 8 Duane Vermeulen, 7 Schalk Burger, 6 Francois Louw, 5 Lood de Jager, 4 Eben Etzebeth, 3 Frans Malherbe, 2 Bismarck du Plessis, 1 Tendai Mtawarira.

Suplentes: 16 Adriaan Strauss, 17 Trevor Nyakane, 18 Jannie du Plessis, 19 Victor Matfield, 20 Willem Alberts, 21 Ruan Pienaar, 22 Pat Lambie, 23 Jan Serfontein.

 

Nova Zelândia: 15 Ben Smith, 14 Nehe Milner-Skudder, 13 Conrad Smith, 12 Ma’a Nonu, 11 Julian Savea, 10 Daniel Carter, 9 Aaron Smith, 8 Kieran Read, 7 Richie McCaw (c), 6 Jerome Kaino, 5 Samuel Whitelock, 4 Brodie Retallick, 3 Owen Franks, 2 Dane Coles, 1 Joe Moody.

Suplentes: 16 Keven Mealamu, 17 Ben Franks, 18 Charlie Faumuina, 19 Victor Vito, 20 Sam Cane, 21 Tawera Kerr-Barlow, 22 Beauden Barrett, 23 Sonny Bill Williams.

 

Histórico: 90 jogos, 52 vitórias da Nova Zelândia, 3 empates e 35 vitórias da África do Sul. Último jogo: África do Sul 20 x 27 Nova Zelândia, em 2015 (The Rugby Championship);

 

*Hora de Brasília
Último jogo (The Rugby Championship 2015):

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