Foto: Super Rugby

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ARTIGO OPINATIVO – E o Mundo (melhor, a Nova Zelândia) está prestes a manter-se nas mãos dos Crusaders, que não permitiram qualquer surpresa no campo dos Chiefs, assegurando uma vitória por uns contundentes 32-19, bastando ganhar só mais um jogo para garantir o título de campeão do Super Rugby Aotearoa. Mesmo assim, os Blues não desistem de chegar ao título de campeão e somaram uma bela vitória no Forsyth Barr Stadium por 32-21, com destaque para a exibição colectiva.

“Ups”: 60 minutos à Crusaders, 80 minutos à Blues

Os homens de Scott Robertson voltaram a marcar 12 pontos nos últimos 20 minutos, mas já antes estavam a impor um domínio totalmente asfixiante aos Chiefs, que só conseguiram realmente estar em jogo durante os 20 minutos finais da primeira metade do encontro. Mesmo que tenhamos vislumbrado alguns períodos de equilíbrio entre as duas franquias neozelandesas, a verdade é que o domínio pertenceu quase por completo aos Crusaders, tendo sido a equipa mais lúcida com a bola em seu poder, não só criando constantemente espaços entre os defesas adversários como os aproveitou incisiva e rapidamente, e um exemplo dessa situação foi o ensaio de Tom Sanders.

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Richie Mo’unga vincou novamente o seu génio, analisando rapidamente os erros na reposição defensiva da equipa comandada por Warren Gatland para seguir-se uma total exploração dos mesmos, sendo bem apoiado por Sevu Reece, Will Jordan (é o melhor marcador da competição e o jogador com mais metros coleccionados, estando a 500 metros de chegar a 1km), Tom Christie, Tom Sanders, Jack Goodhue e Mitchell Drummond e é importante perceber o papel destes dois em específico.

O centro construiu uma exibição sólida, explorando melhor o espaço interno e funcionar elegantemente bem como um aríete que forçava aos Chiefs recuar e assim permitir que Goodhue ganhasse essa frente de guerra. Já Mitchell Drummond é aquele formação munido de uma sapiência extraordinária na hora de mudar ritmos e timings, expondo as falhas dos adversários, acelerando as combinações dos Crusaders constantemente, sem esquecer a qualidade de passe que deu outro espaço de manobra a Mo’unga. A conjugação destas componentes fez com que os Crusaders estivessem sempre por cima dos acontecimentos, regulando bem a intensidade de jogo e forçando uma reação quase sempre negativa da equipa da casa quando se dava uma rotura defensiva.

Os tricampeões em título impuseram a sua vontade, armados daquele rugby que se torna tóxico para quem está do outro lado da barricada e a derrota contra os Hurricanes está totalmente resolvida.

Apesar dos Crusaders terem recuperado da queda da semana passada, os Blues continuam a sonhar com a possibilidade de chegar ao primeiro lugar, sendo este um necessário que dificilmente acontecerá pois os Crusaders teriam de perder frente aos Highlanders na jornada seguinte, precisamente a equipa batida pelo contingente de Auckland nesta ronda. Uma primeira parte gloriosa dos comandados de Leon McDonald garantiu uma vantagem de quase dez pontos, essencial para fazer face à boa, mas ainda escassa, reacção dos ‘landers na segunda metade do encontro.

Beauden Barrett não fez um jogo bom em termos de destaque individual, já que só somou uma quebra-de-linha, mas completou uma excelente exibição como orquestrador das movimentações de ataque dos Blues, fornecendo excelentes passes tanto ao pé (aquele crosskick para Caleb Clarke foi de um nível soberbo e criou imediatamente um desequilíbrio profundo nos opositores contrários) como à mão, forçando aos Highlanders terem de expandir a sua linha de defesa para proporções nada desejadas, acabando por levar ao surgimento de contínuas claras situações de perigo.

Com Caleb Clarke e Rieko Ioane em super forma no que serviço de portador de bola e com uma linha de apoio especialmente móvel, ágil e enérgica, destacando-se Akira Ioane (finalmente começa a dar sinais de crescimento como jogador, ultrapassando só aquele tipo de atleta que só quer ter a oval em seu poder), Dalton Papali’i e Patrick Tuipulotu, a formação visitante tomou sempre a dianteira do encontro, movendo-se com enorme facilidade, conduzidas por um fio de jogo lógico e colectivamente bem estabelecido, tendo conseguido tantos metros como os Highlanders mas com menos portagens de bola (135 para 88 em termos de carregar a oval).

Os Blues parecem ser uma equipa mais letal do que naquela sequência de duas derrotas e com Beauden Barrett a começar a ganhar rodagem na sua posição preferida, pode ser que ainda consigam fazer uma graça no último jogo da temporada (vão parar esta próxima jornada) frente aos Crusaders, os prováveis campeões deste Aotearoa.

O ensaio de Bateman é uma clara demonstração do poderio dos Crusaders

“Downs”: Gatland, é hora de motivar!

Continua a aumentar a pior sequência de todo o sempre para os Chiefs e a questão que se apresenta neste momento é se Warren Gatland está a proferir as palavras certas aos seus jogadores? É notório que de jogo para jogo há um aumento da instabilidade mental da equipa, tomando as piores decisões nos lances mais críticos do encontro, tratando a bola oval de uma forma descuidada que terminou com avants ou contra-ataques dos Crusaders, forçando um recuar e um reconstruir de todo o processo ofensivo. Nem Aaron Cruden, Damian McKenzie, Anton Lienert-Brown ou Brad Webber tiveram engenho e génio para mudar o espectro da derrota, e principalmente o abertura e formação dos Chiefs estiveram mais uma vez dois níveis abaixo do normal, errando não só combinações mas também passes, significando que algo não está bem não só a nível colectivo, mas também individual.

Sim, os Chiefs chegaram a estar a dois pontos de darem a volta ao resultado (até aos 60 minutos), levantado-se ligeiramente uma dúvida se os tricampeões neozelandeses iam somar nova derrota na competição, mas rapidamente esse cenário transformou-se num aumentar de vantagem para os Crusaders, que nunca seria revertida. É visível a dúvida, o descrédito e a falta de confiança nas acções tomadas, caindo num remoinho de problemas e erros fracturantes que só têm tornado esta campanha do Super Rugby Aotearoa num cenário terrível para os Chiefs.

Mas há uma questão final, que se prende com a arbitragem. Ben O’Keefe protagonizou três decisões que mudaram ligeiramente o curso dos acontecimentos, a começar pelo ensaio de Sevu Reece, nascido de um claro avant de Quinten Strange, sem esquecer com duas faltas no chão dos Crusaders nos seus 5 metros defensivos, que deviam ter sido penalidades a favorecer os Chiefs, destabilizando ainda mais os Chiefs com estas decisões (ou não decisões). Warren Gatland tem de pegar na equipa e tentar dar a volta no último jogo, mesmo que já seja impossível de fugir do último lugar.

Os craques da rodada: Mo’unga, Boshier, Akira Ioane e Tu’u

Nova grande exibição de Mo’unga, que apesar de não ter feito uma exibição a nível individual espectacular, foi o responsável por fazer os Crusaders mexer e assumir o jogo desde os primeiros minutos, organizando bem a equipa.

Boshier completou uns espectaculares quatro turnovers no breakdown, elevando o seu estatuto de perito neste sector no Hemisfério Sul, tendo ainda completado 11 placagens assertivas, sem esquecer que somou o seu 4º ensaio da temporada.

Diferente, com mais energia oferecida à equipa e ciente da necessidade em ter de se envolver de outra forma no ataque, Akira Ioane foi essencial no overlap sendo sempre uma unidade de ataque de grande perigo, mostrando ainda uma vocação extraordinária para atacar o breakdown, algo pouco visto nos últimos anos. Somou um ensaio, uma assistência, quatro offloads, 40 metros conquistados, duas quebras-de-linha e ganhou por oito ocasiões (em 10 portagens de bola) a linha-de-vantagem.

Do outro lado da contenda, Mikaele-Tu’u continua a ser um dos melhores jogadores dos Highlanders, seja pelo número estável de quebras-de-linha e defesas batidos (3 e 5 respectivamente), os inúmeros tackle busts e mais uma série de outros aspectos que lhe permitem sonhar com a convocatória para os All Blacks.

Os números

Mais pontos marcados: Damian McKenzie (Chiefs) – 14 pontos
Mais ensaios marcados: Finlay Christie (Blues) – 2
Mais quebras-de-linha: Caleb Clarke (Blues) – 4
Mais placagens: Sam Cane (Chiefs) – 19 (17 efectivas)
Mais turnovers: Lachlan Boshier (Chiefs) – 4
Mais defesas batidos: Richie Mo’unga (Crusaders) – 7
Melhor da Jornada: Will Jordan (Crusaders)

Um dos dois ensaios de Finlay Christie (00:56)