Foto: Brumbies

Tempo de leitura: 5 minutos

Os Brumbies são os campeões do Super Rugby AU 2020, apesar de terem sofrido e suado (muito) nos últimos 5 minutos de jogo, altura em que os Reds tentaram procurar o try do empate, mas perdendo nas franjas do breakdown! Uma final emotiva, com espaço para grandes jogadas, grandes estrelas e, também, grandes tries!

“Ups”: nos pés de Lolesio e no arranue de Kuridrani

Dos 28 pontos marcados pelos Brumbies, 13 vieram pelos pés de veludo (e já explicaremos porque é que podemos adjetivar assim) de Noah Lolesio, que ainda foi responsável pelo excelente offload/assistência para o try de Andy Muirhead, tendo retornado à competição – depois de dois meses lesionado – com toda aquela pujança que marcou nesta sua época de estreia pela franquia de Canberra. Não sendo um 10 clássico ou da mesma amálgama que foi Bernard Foley, Quade Cooper ou Christian Lealiifano, Lolesio é um jogador com um potencial estrondoso e com um poder genial para mudar por completo um jogo, alterando o ritmo de uma combinação ofensiva só pela imposição da sua técnica de passe ou drible, desmontando um tacleador ou uma linha de defesa num mero segundo, como aconteceu naquele try de Muirhead e vale a pena visitarmos esse momento.

- Continua depois da publicidade -

Para quem desejar ver acompanhar pelos highlights é o 2º try do jogo, aos 26 minutos do relógio… depois de duas excelentes entradas de Tevita Kuridrani, que conseguiu ganhar sensivelmente 50 metros e duas quebras-de-linha, Joe Powell colocou a oval rapidamente nas mãos de Lolesio, que se viu numa situação de 4 para 5 não tendo vantagem em termos numéricos. Contudo, o 10 simulou que iria para o lado exterior da defesa dos Reds e bateu rapidamente os pés para o interior, apanhando os tacleadores desprevenidos… nesse micro segundo, o abertura entrou no contacto e desferiu um offload matreiro para as mãos de Andy Muirhead que só teve de acelerar, baixar-se e bater até entrar na área de validação.

Visão de jogo, rápida leitura de como poder aproveitar uma situação de emergência defensiva do adversário, finta de pés veloz e um offload de categoria… uma receita para o try e, porque não, vitória. Foi responsável por um ou outro erro, como aquela recepção a um pontapé que acabou por cair para a frente, mas foi constantemente o centro das atenções dos Brumbies, gravitando toda a estratégia dos agora campeões do Super Rugby australiano em seu redor, compondo um jogo ao pé pulsante, de pressão e ardiloso com um engenho extraordinário em como aproveitar a subida de linha desenfreada da oposição contrária, esgrimindo-se sempre com aquela composição de pés desconcertante e difícil de parar.

Os Brumbies dominaram o encontro quase por completo, tendo tido 78% da posse de bola entre os 40 e 60 minutos de jogo numa demonstração avassaladora da sua qualidade enquanto coletivo, fazendo a oval girar a uma passada lenta mas intensa, algo legível e ao mesmo tempo manhosa, aproveitando cada vantagem para avançar no terreno e procurar pontos, tendo por vezes perdido tries “feitos” por um certo egoísmo ou pressa de concluir um bom processo de jogo.

Podem ter feito mais erros próprios, perdido mais vezes a bola no contacto e até realizado mais penalidades, a verdade é que o domínio de jogo escapou-se-lhes só durante breves períodos, mantendo uma frieza de movimentos defensivos, de domínio das emoções e força de aguentar que só está ao nível dos verdadeiros campeões.

A jogada de Noah Lolesio no try de Muirhead (1:10)

“Downs”: Reds jogaram apenas nos 15 minutos finais de cada tempo

Verdade que os Reds saíram para o intervalo a perder por só cinco pontos e acabaram por fechar o encontro a também um try não convertido de distância do empate, mas para quem viu o jogo completo, é com naturalidade e justiça que os Brumbies foram os vencedores da final do Super Rugby AU 2020, pois a franquia de Queensland pouca presença teve nos 22 metros dos seus adversários, ficando várias vezes arredado ao seu meio-campo e até área de try. Defenderam bem?

Definitivamente que sim, pois foram capazes de pôr fim a três situações de try iminente dos Brumbies, capturando a oval no chão (Fraser McReight, Harry Wilson e Angus Blyth foram fundamentais nesse processo) para devolver algum oxigênio e espaço de manobra, quando tudo parecia destinado a um amontoar de pontos para a equipa da casa. Contudo, a nível de conseguirem assumir o protagonismo nos processos ofensivos e de conquistarem a linha de vantagem ou de sobreporem à defesa dos Brumbies nunca foram completamente capazes, sendo apanhados numa contra-resposta engenhosa e “irritante”, com Filipo Daugunu ou Tate McDermott a mostrarem-se a sua irritação de forma visível e audível.

Faltou paciência e capricho de saber esperar pelo momento ideal e de perceber que para derrubar uma equipa tão experiente e inteligente como o elenco de Canberra, que apresentou uma durabilidade física de alto recorte – e os Wallabies só têm de aproveitar este vetor para realizarem uns excelentes Test Matches em 2020 – e desmotivante para os Reds, optando por tentar sair a jogar através do jogo ao pé de James O’Connor, sem nunca terem surtido realmente em algo de palpável. Lutaram até ao fim, até poderiam ter ganho caso não tivessem perdido aquele alinhamento nos 5 metros e depois uma bola no chão umas jogadas depois, mas em abono da verdade, foram a segunda melhor equipa não só desta final mas de toda a competição e neste jogo em particular, só mostraram o seu melhor rugby no try de Harry Wilson (uma jogada individual extraordinária de Jordan Petaia, que ficou demasiado tempo retido na ponta) e nos últimos 10/15 minutos da segunda metade do encontro.

Os craques: Lolesio, Banks, Wilson e McDermott

O abertura, chamado para o trabalho dos Wallabies, fez quase de tudo, desde um drop bem metido na 2ª parte, para uma assistência brilhante para o try de Muirhead, reforçando toda uma genialidade individual sempre que recebia a oval em seu poder e desatava a correr para inventar um espaço ou abrir uma linha de corrida para um colega seu. 13 pontos, 1 assistência, 1 quebra de linha e 3 defesas batidos no seu retorno à competição depois de dois meses parado!

Banks é um atleta completo, seja pelo seu poder de sprint e aceleração que faz a diferença no aproveitamento de um espaço na linha de defesa ou pela capacidade em dar uma potência total nos pontapés, tendo terminado como o jogador com mais metros conquistados (70) nesta final.

O nº8 dos Queensland Reds, Harry Wilson, tentou compensar a alguma falta de energia ofensiva dos seus parceiros da avançada (só Blyth e McReight o acompanharam nesses trabalhos) com excelentes avanços com a oval em seu poder, imbuindo-se de um fisicalidade imponente que lhe possibilitou arrancar dois turnovers e uma penalidade ao bloco dos Brumbies, sem esquecer o try marcado depois de uma jogada extraordinária individual de Jordan Petaia.

Tate McDermott pode ser ainda um produto longe de estar acabado, mas a verdade é que consegue dar outra velocidade à oval quando a sua equipa lhe permite e dar oportunidade para isso, tendo sido responsável pela abertura de bons espaços na defensiva dos Brumbies, sem esquecer os detalhes técnicos de elevada categoria evocados nesta final.