Foto: Super Rugby

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ARTIGO OPINATIVO – E que o que dizer do Super Time entre Western Force e Melbourne Rebels, que acabou com a vitória dos visitantes nesse prolongamento depois de um encontro extremamente combativo e com raros momentos espectaculares!

“Ups”: Toomua para toda a obra!

Os Rebels ganharam no Super Time, num encontro jogado sempre numa toada monocórdica, sem grandes movimentações espectaculares, entregando praticamente todo o poder aos avançados que trataram de “dizer” a que velocidade se jogava e como atacar em cada nova bola. No caso da franquia de Melbourne isto se deveu talvez à ausência de Dane Haylett-Petty e à lesão de Ryan Louwrens (o nº9 saiu lesionado quando ainda não estavam cumpridos trinta minutos de jogo), impondo estes dois pormenores algumas limitações na manobragem da oval, na intenção de procurar uma agilidade de combinações aceleradas com estes elementos a bloquear aquele detalhes ofensivos normais dos Rebels, forçando então a optar por algo mais pesado mas confiável.

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Não significa isto que a linha de 3/4’s jogou mal, até porque Matt To’omua protagonizou uma exibição sólida, tendo ficado em vista várias das acções defensivas. O abertura por mais de 10 ocasiões limitou a acção das unidades mais rápidas da Western Force, subindo bem na defesa, fechando imediatamente o ângulo bom de passe, com estes dois aspectos a forçar alguns erros de Jono Lance no momento de transmitir a bola aos seus colegas de equipa.

Para açucarar esta prestação de excelência na linha-de-defesa, foi o nível das placagens encaixadas incapacitando adversários ou a conseguir mesmo forçar uma marcha-atrás do portador da bola, impondo assim uma defesa astuta, de profunda agressão e domínio, algo que por vezes não é notório nos aberturas australianos. A Western Force foi capaz de fazer 20 pontos, 10 dos quais vieram através de ensaios, porém nunca tiveram grande espaço para fazer a bola circular e isto se deveu ao tal compromisso defensivo da maior parte do elenco dos Melbourne Rebels.

Se Force-Rebels foi um encontro algo parado, o mesmo não se pode dizer do jogo entre Brumbies e Reds que terminou de forma dramática para a franquia de Queensland, pois estavam na frente do marcador até aos 79 minutos, oferecendo uma penalidade nesse minuto aos seus congéneres de Canberra, que seria perfeitamente bem executada por Mark Hansen, ficando os louros da vitória entregues aos homens de Dan McKellar. Todavia, e não querendo tirar o mérito aos Brumbies, pois acreditaram até ao fim que iriam dar a volta à situação, quem mostrou melhor rugby foram os perdedores.

Os Reds realizaram uma extraordinária 2ª parte dominando a velocidade de jogo, mexendo a bola entre unidades e a capacitar o encontro de contornos dinâmicos e emotivos, como bem se demonstrou pelos dois espectaculares ensaios conseguidos, em que James O’Connor e Harry Wilson assumiram total protagonismo. O abertura voltou a pontilhar uma exibição recheada de pormenores técnicos deliciosos, sejam os pop passes ou offloads desenhados na cara da defesa, arrancando boas combinações com Paisami e Hamish Stewart, enquanto o nº8 foi um portador de bola sensacional, conseguindo explorar a linha de defesa dos Brumbies por três ocasiões, saindo em alta velocidade para abrir caminho para o ensaio.

A harmonia dos Reds com a bola em seu poder é apaixonante, recheado de elementos preciosos, como a facilidade em virar o jogo de sentido ou de passar das unidades de três jogadores, para um combo de quatro em que exploram todo um universo de movimentações que surtiu efeito nos segundos quarenta minutos. Só que por vezes ter um rugby mais eloquente não é suficiente para derrotar um mais pesado.

Os Brumbies fizeram três ensaios, todos eles de maul dinâmico, vincando o seu alto domínio nas fases estáticas ou no desafio entre físicos, dominando o encontro durante largos períodos de tempo, como em quase toda a primeira parte. Este é outro perfil que o rugby australiano tem de querer aperfeiçoar e que este elenco dos Brumbies domina por completo, tendo ainda uma capacidade inegável de acreditar nas suas valências mesmo quando está a perder, indo até ao limite das suas capacidades para repor ou construir a vantagem no placard.

O 2º Super Time dos Rebels acabou em vitória (5:47)

“Downs”: Force lamenta perda de oportunidades

Quanto pode custar um alinhamento falhado? E quatro? Os Queensland Reds revelaram alguns problemas no lançamento da bola ou no captar da mesma no ar, dando espaço aos Brumbies para respirarem em mais que uma ocasião, algo que deverá ter frustrado Brad Thorn. Tanto Paenga-Amosa (em jogo corrido é dos talonadores mais completos do rugby australiano) como Alex Mafi sentiram exactamente as mesmas dificuldades em conseguir colocar a oval no sítio certo, sendo que este já não foi o primeiro jogo em que se viu este problema dos alinhamentos e que acabou por custar uma vitória, pois ante os Melbourne Rebels acabaram por consentir um empate quando tiveram duas oportunidades nos últimos cinco metros, introduzindo também aí de forma errada.

Neste jogo bastava controlar aquela última introdução, garantir a posse de bola e esperar mais uns segundos para depois atirá-la para fora das quatro-linhas, contudo o nervosismo, a falta de confiança e a pressão dos Brumbies (feita tanto fisicamente como mentalmente) foram fatais e de uma situação controlada passaram para um pânico total, recuando no terreno até cometer a penalidade final e que assinou uma derrota às mãos dos Brumbies.

Por outro lado, a Western Force possuiu realmente uma grande oportunidade para brindar os seus adeptos de Perth com uma vitória, com o pontapé aos postes de Jono Lance aos 77 minutos a errar o alvo, numa posição que pode ser considerada muito acessível. Claro que os Rebels também podiam ter ganho aos 80 minutos, mas o disparo de Reece Hodge tinha uma dificuldade de quase 70 metros de distância, sendo que por ordem foi a equipa da casa primeiro com a chance de ganhar pela primeira vez no Super Rugby AU. Contudo, a Western Force teve claramente hipóteses de ganhar?

De todos os encontros foi aquele em que realmente conseguiram estar na contenda pelos 4 pontos até ao apito final, superando aquele problema da queda de forma física a partir dos 50 minutos de jogo, com um planeamento de jogo ligeiramente díspar em comparação com a jornada anterior, tentando fechar mais as fases, apostar menos em situações de risco ou de soltar a bola em jogadores que podiam fazer metros só que ficariam em situação precária no breakdown, evitando assim exporem-se fisicamente aos Rebels que se apresentaram com uma placagem de super impacto – Matt To’omua tirou fôlego em duas ou três placagens bem metidas – e basearam praticamente as suas operações em fases estáticas.

Minuciosos no jogo ao pé, compactos no garantir da posse de bola no ruck, a franquia de Perth bateu-se de igual para igual com a sua congénere de Melbourne, faltando adicionar algo ao seu plano para que tudo terminasse em festa: frieza. O pontapé de Jono Lance foi um momento crítico para os Force, não tendo sido o único… outro exemplo de momento foi a sequência após o ensaio de Ralston (jogada fenomenal de Frisby), que pedia uma recepção de bola segura e um controlo total para evitar e abrandar a possível reacção dos Rebels, mas acabaram por perder a posse de bola, cometeram uma penalidade e estenderam a passadeira vermelha a Matt Philip para o ensaio e reviravolta no marcador.

Apesar da derrota, e esta com contornos dramáticos, é notório o crescimento da Western Force esperando-se agora outra atitude mental para obterem a vitória que lhes escapa desde o início da competição.

Os craques da jornada: Toomua, Frisby, Wilson e Simone

O abertura desenhou alguns passes de fina qualidade, tomou excelentes decisões em momentos decisivos e terminou com 100% de eficácia nos pontapés de conversão/penalidade, sem esquecer as 11 placagens encaixadas em que duas delas impuseram fins abruptos a boas jogadas da Western Force.

Frisby realizou o seu segundo jogo pelo Western Force e não desapontou, com o formação montou uma das melhores jogadas de todo o jogo, com duas fintas-de-passe extraordinárias que abriram uma falha defensiva nos Melbourne Rebels, levando assim ao ensaio de Byron Ralston.

O 3ª linha dos Reds mostrou todo o seu melhor arsenal de qualidades, com quebras-de-linha estonteantes, um handling e passe de categoria, para além de uma fome contínua para placar (2º melhor placador do encontro, com 19 placagens encaixadas) e impor a sua fisicalidade no combate no contacto.

Irae Simone vai caminhando no sentido de se afirmar na Austrália, seja pela qualidade técnica com a bola nas mãos ou pés (tanto nos pontapés compridos como nos gruber’s) ou na leitura que faz ao tabuleiro de jogo, conquistando duas quebras-de-linha e bateu seis defesas em 40 metros conquistados, demonstrando um grande impacto nas ocasiões em que carregou a oval.

Os números

Mais pontos marcados: Jono Lance (Force) e James O’Connor (Reds) – 10 pontos
Mais ensaios marcados: Folau Fainga’a (Brumbies) – 2
Mais quebras-de-linha: Filipo Daugunu (Reds) – 3
Mais placagens: Angus Blyth (Reds) – 24 (23 efectivas)
Mais turnovers: Henry Stowers (Force) e Angus Scott-Young (Reds) – 3
Mais defesas batidos: Irae Simone (Brumbies) – 6
Melhor da Jornada: Harry Wilson (Reds)