Foto: Crusaders

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ARTIGO OPINATIVO – E depois de 7 vitórias consecutivas, os Blues voltam a perder e a entregar a liderança totalmente isolada aos Crusaders! Os tricampeões de Scott Robertson foram extraordinários nos últimos 20 minutos, transformando a vantagem de 8 pontos dos Blues em praticamente nada, demonstrando mais uma vez porque são os melhores do Super Rugby! Mas foi entre Hurricanes e Highlanders que se viu o melhor jogo da ronda, com a bola a ser levada em mãos quase 1km!

Segue a análise a mais uma ronda do Aotearoa explicada ao pormenor.

Os “Ups” da semana: os 15 minutos dos Crusaders e as virtudes dos ‘Canes

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65 minutos de jogo, Blues estavam a perder por um só ponto e dentro do jogo… passados três minutos, surgiu uma penalidade a favor da equipa da casa que ampliou o resultado e aplicou uma dose de pressão extra, elevando as emoções de jogo para um nível quase louco que a franquia de Auckland não soube gerir, caindo naquela armadilha que os Crusaders são mestras a montar.

Se na primeira parte e na reentrada para a segunda os Blues pareciam mais eficientes nos seus processos, em especial na defesa e interferência no breakdown, foi precisamente naquele período dos 15 minutos finais que os Crusaders decidiram mostrar realmente que têm outra profundidade não só de opções mas de estratégia, com Richie Mo’unga a elevar a passada – a primeira-parte foi apagada com algumas decisões menos inteligentes – e o par de centros a evoluírem do simples crash and bash (receber a bola e ir ao contacto, para depois se iniciar uma fase rápida) para uma espécie de pólos de movimentação de bola que submeteram a defesa da equipa de Auckland completamente em pânico e sem capacidade para amparar as duas estocadas finais.

Em parte, o ataque dos Crusaders não foi tão esclarecido ou não criou tantos problemas devido a uma exibição mais fraca por parte de Bryn Hall, com os Blues a aproveitar e a terem controlo dos timings de jogo durante alguns períodos, que acabou por acabar quando Mitchell Drummond entrou, alterando o nº9 suplente por completo a velocidade de jogo e o aproveitamento estratégico. Isto significa, que a vitória dos Crusaders veio em boa parte das soluções saídas do banco de suplentes, com Drummond e Will Jordan a serem autores dos ensaios, sem esquecer a influência de Quinten Strange no breakdown ou alinhamentos. Os Crusaders são tricampeões por vários motivos e estes 15 minutos finais contra os Blues voltaram a relembrar que para já não há adversário a altura para fazer frente aos homens de Scott Robertson.

Contudo, para os lados de Wellington parece que há a possibilidade de existir uma terceira força com capacidade suficiente para incomodar tanto os Crusaders e Blues na discussão do título do SR Aotearoa, pois os Hurricanes parecem ter voltado a um patamar de qualidade ofensiva que já fazia saudades. Os comandados de Jason Holland entraram em campo com outra perspicácia nas operações atacantes, vendo-se mais penetrações na muralha defensiva adversária, para além de uma série de combinações que permitiram tanto a Ben Lam como Kobus van Wyk terem mais espaço para acelerar pelas alas, elevando o ritmo do encontro para um nível mais emocionante e espectacular.

Os Highlanders também conseguiram fazer o mesmo, apesar de terem tido menos lucidez ou capacidade para ver como chegar ao ensaio, com Mitch Hunt a pautar uma série de excelentes jogadas colectivas e individuais, uma delas até chegou à área de validação contrária mas foi anulada devido a uma pretensa obstrução no início do arranque do médio-de-abertura.

Regressando à exibição da franquia de Wellington, Fletcher Smith deu uma resposta necessária como camisola nº10, fornecendo boas bolas para que Ngani Laumape (jogo sensacional e à antiga do centro All Black) e Vince Aso tivessem outra profundidade e espaço para explodirem e criarem danos suficientes na defesa dos Highlanders. Com os centros a carburar e TJ Perenara a dar um show em termos de dinamismo e ritmo, os Hurricanes foram a equipa que mais dominou dentro das quatro-linhas seja nos metros conquistados, posse de bola ou território, ficando-lhes bem a vitória no final dos 80 minutos.

 

Os “Downs” da semana: a experiência de Black-Barrett e as obstruções em ‘Canes vs ‘Landers

E o que dizer da falta de profundidade e beleza do combo Otere Black e Beauden Barrett? Leon McDonald (com pressão da NZRU ou não?) continua a apostar nesta ideia que nos jogos frente aos Chiefs e Highlanders tinham revelado problemas complicados e agora contra os Crusaders agudizou-se por completo, ao ponto que Black passou praticamente ao lado no encontro (conseguiu um zero em metros conquistados, quebras-de-linha, tacklebusts ou defesas batidos) à parte de duas assistências fáceis para ensaio e Beauden Barrett não teve impacto suficiente para desferir qualquer dano relativamente profundo na defesa contrária – duas quebras-de-linha e 4 defesas batidos em 25 metros com a oval em seu poder.

Podem arguir que Black fez os passes para os ensaios de Mark Telea e Rieko Ioane, mas olhando para a generalidade dos 80 minutos e para aquilo que os Blues podem e conseguem fazer em termos de combinações das linhas atrasadas, foi abaixo de medíocre, tendo sido manietado e manipulado pela defesa dos Crusaders na maior parte do encontro.

Não só isto, como também Beauden Barrett é um dos melhores aberturas dos últimos 10 anos e esse facto parece não servir de argumentação sequer para colocá-lo na posição que imperou e inclusivé ganhou dois títulos de melhor do Mundo, sem esquecer a ligação directa à conquista de três Rugby Championships e uma série de outros troféus nos All Blacks. Beauden Barrett na camisola de nº15 garante estabilidade na recepção dos pontapés, impõe outra inteligência na saída seja ao pé ou à mão e garante, quando possível, um desequilíbrio defensivo aos seus adversários quando recebe um passe dinâmico, só que não é o game changer que foi nos Hurricanes. Os Crusaders sabiam como neutralizar esta ideia forçada de Leon McDonald e os Blues acabaram por pagar o preço de não terem uma plataforma de jogo ofensivo minimamente explosiva, que ainda sofreu mais dano quando perdeu a resiliência física.

O último down é mais curto mas é em relação aos dois ensaios anulados no segundo jogo da jornada… foram ou não obstruções de Ash Dixon a Duplessis Kirifi e de Devan Flanders a Shannon Frizell? A verdade é que ambas as situações podiam ter terminado com ensaio, pois se na primeira há um empurrão com a anca muito discutível por Dixon – Kirifi não perece ter sido assim tão influenciado pelo toque dos talonadores dos Highlanders -, na segunda é altamente controverso o bloqueio de Flanders, uma vez que Frizell parece esboçar uma placagem.

De qualquer das formas, se as obstruções acabaram por ser um ponto de alguma dúvida, a NZRU tem de chegar a consenso com as equipas de arbitragens em relação ao rolling away (o placador tem de sair do eixo da bola para permitir que haja fluidez no ruck), já que em diversas situações vê-se o placador a tentar sair do sítio, mas sem efectivamente conseguir sair uma vez que está preso no chão, ou a não fazer qualquer movimento pois está com vários “corpos” por cima de si, tornando impossível que desapareça daquele sítio. Se a palavra segurança é tomada como obrigação total na actualidade do mundo do rugby, então porque é que se pede ao placador no chão para colocar o seu corpo em risco (entorses ou luxações no ombro ou braço) num tentar sair ou não sair do sítio onde está quando é claramente impossível fazê-lo bem?

Os craques da rodada: Mo’unga, Tela, Perenara e Hunt

Se houve jogador que deu um salto qualitativo da primeira para segunda-parte nesta jornada, esse alguém foi Richie Mo’unga, pois o abertura passou de uma exibição algo estática para um catalisador de problemas para a defesa dos Blues, não só pela importância que teve nos ensaios de Will Jordan e Mitch Drummond, mas também pela imprevisibilidade que impôs durante a segunda metade do encontro.

No lado dos Blues, o destaque podia cair em Rieko Ioane (jogo sólido a atacar e defender) mas desta feita é necessário dar os louros a Mark Telea, responsável por algumas das melhores jogadas individuais de todo o encontro. O ponta foi quem mais correu na franquia de Auckland (70 metros), somando-se ainda duas quebras-de-linha e quatro defesas batidos (está no topo da classificação deste parâmetro com 24), numa exibição que só faltou o ensaio.

Seja a jogar a formação ou abertura, é impressionante o quão extraordinário é TJ Perenara. O co-capitão dos Hurricanes foi uma voz equilibrada e inteligente durante todo o encontro, impondo aquele ritmo e intensidade que permite à sua equipa jogar de uma forma mais “limpa” e fluída, pavimentando o caminho da equipa e Wellington até à vitória – 3 quebras-de-linha e 3 defesas batidos, para além do ensaio que colou até Aaron Smith ao chão.

Pode nem sempre fazer uma exibição de se aplaudir, mas neste encontro foi uma lança afiada para abrir caminho por entre a linha-defensiva dos Hurricanes, com Mitch Hunt a conquistar 80 metros com a bola em seu poder -e seriam mais de 100 se a jogada do ensaio anulado tivesse contado -, ludibriando placadores com um par de fintas e dribles desconcertantes e “mágicos”.

 

Os números

Mais pontos marcados: Richie Mo’unga (Crusaders) – 16
Mais ensaios marcados: Vários – 1
Mais quebras-de-linha: Ngani Laumape (Hurricanes) – 4
Mais placagens: Jack Whetton (Highlanders) – 17
Mais turnovers: Dalton Papalii (Blues) e Tom Christie (Crusaders) – 2
Mais defesas batidos: Ngani Laumape (Hurricanes) – 9
Melhor da Jornada: Richie Mo’unga (Crusaders)

O passe sensacional de Mo’unga para o ensaio dos Crusaders (2:39)

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