Foto: Nations Cup

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A Inglaterra dominou e controlou a Irlanda e a França aproveitou os erros da Escócia, com ambas as seleções a terem um “pé e meio” na final da Autumn Nations Cup e explicamos em três pontos o que se passou na 2ª jornada da nova competição da World Rugby.

A maestria no breakdown e o domínio no tackle segundo a lei inglesa

Foi uma das melhores exibições a defender da Inglaterra dos últimos 5 anos, igualando-se à exibição rubricada diante da Nova Zelândia no Mundial de Rugby 2019, pondo fim a 12 jogadas de try iminente da Irlanda, que terminaram sempre ora com um turnover ou com uma bola presa no maul dinâmico, dando Eddie Jones mostras que tem os seus comandados afinados num ponto supremo e que deve colocar algum tremor nos seus adversários europeus e mundiais. Os ingleses terminaram o encontro com um registo memorável no que toca ao número de tackles tentados e efetivos, com 246 encaixadas em 255 tentativas, acrescentando-se ainda mais 9 tackles dominantes, oferecendo uma percentagem de 96%, um número impressionante e só ao alcance das melhores das melhores seleções mundiais.

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O ataque irlandês foi de certa forma imprevisível na maior parte do tempo, procurando ganhar a frente através de mauls ou piques, isto quando dentro dos últimos 10 metros atacantes, sem que esta estratégia realmente surtisse qualquer efeito e acabou por resultar num efeito galvanizador para os ingleses, que se alimentaram mentalmente dos turnovers e recuperações de bola no contacto para se superiorizarem e sentirem que eram capazes de vergar a Irlanda. E quem foram os principais placadores da Rosa? Maro Itoje com 24 e 2 turnovers, Tom Curry com 23 (1 turnover), Billy Vunipola com 22 (1 turnover), Sam Underhill com 21 (1 turnover) e Kyle Sinckler com 20, sendo que nenhum destes cinco jogadores falhou qualquer tackle no decorrer do tempo em que estiveram em campo, e isto prova não só a dose de agressividade alta mas também da excelência e categoria no manter o foco em termos da participação defensiva.

Contudo, não foi só nos avançados que residiu a exigência e excelência no espectro defensivo, já que Owen Farrell, Jonny May e Jonathan Joseph terminaram com 100% de eficácia nas 31 placagens realizadas, assinalando que 40% foram dominantes e isto significa que brilhantismo na placagem foi essencial em todos os sectores e posições da Inglaterra.

Essencialmente foi uma prestação totalitária das hostes inglesas, pondo um ponto final abrupto e justo nas aspirações da Irlanda de chegarem à final da Autumn Nations Cup, resistindo agora a seguinte questão: conseguirá a Inglaterra replicar uma exibição na defesa – o ataque não foi fenomenal, fazendo o trabalho necessário no contra-ataque – do mesmo nível frente à França, uma seleção mais endiabrada nas combinações ofensivas?

Gales com novas caras, mas com o mesmo pensamento

Mais de 300 metros percorridos e somente 6 quebras de linha com poucos detalhes técnicos que gerassem desequilíbrio na defesa contrária, foram estes alguns dos números do País de Gales na parca vitória na recepção à Geórgia, que pouco fez para contrariar o favoritismo e domínio dos galeses.

Wayne Pivac procurou dar o palanque a uma série de novos nomes caso de Callum Sheedy, Louis Rees-Zammit, Johnny Wlliams ou Johnny McNicholl, sem que fosse capaz de alterar a maneira de jogar do ataque ou da contrarreação depois de terem recuperado uma bola num ruck ou alinhamento, acentuando-se ainda mais a lentidão dos processos que resulta principalmente das opções tomadas pelos seus manobradores de bola, que ora estão pouco profundos optando por transmitir uma bola segura mas demasiado defensiva, que permitia ao bloco georgiano fechar os espaços disponíveis para os galeses, ora tentam ir pelo jogo ao pé que pouco ou nada trouxeram de novo a nível de criação de situações perigosas.

A previsibilidade das ações do ataque da seleção galesa só ajudou à defesa georgiana que pouco teve de “pensar” para fechar a sua área de validação, tendo estes sofrido só dois tries naquele que foi um dos melhores resultados de sempre registrados pelos Lelos, sem que no entanto tenham realizado uma boa exibição a nível global, pois tanto foram caçados com relativa facilidade na movimentações ofensiva, como não conseguiram mostrar qualquer domínio nas formações-ordenadas, onde até chegaram recuar e ceder perante o pack de avançados adversário – Jake Ball e e Samson Lee revelaram-se as melhores unidades dos dragões vermelhos.

Num encontro em que se esperava por ver um País de Gales mais ágil, veloz e com propensão para criar situações ofensivas de outro calibre, acabámos por ver um elenco pouco intenso nas entradas no contacto e sem grande sentido de procura de risco, acabando por não explorar o que de melhor Liam Williams ou Louis Rees-Zammit são capazes de fazer com a oval em seu poder.

Escócia inimiga de si própria

58% de posse de bola, sendo que a Escócia esteve mais de um minuto a mais dentro da área de 22 da França (4:43 para 3:43) e… nenhum try. Como é que isto foi possível? Então podemos adicionar ainda mais um dado que vai colocar ainda mais questões de como é que os escoceses não foram capazes de ganhar o encontro… terminaram com 442 metros de conquista de terreno, para 321 dos Les Bleus, mas sem terem conseguido fazer qualquer try. Este é o ponto preocupante do facto dos homens de Gregor Townsend terem tido mais posse de bola e metros e não terem conseguido traduzido esses dados em algo mais palpável que 15 pontos, todos feitos a partir da bota de Duncan Weir.

O que revela isto sobre a seleção do Thistle? Inoperância na combinação e execução de jogadas no ataque, falta de virtuosismo e criatividade para explorar a defesa opositora e débil capacidade para ganhar os metros efectivos dentro dos últimos 15 metros.

Existe em todos os parâmetros um ponto comum, que é Duncan Weir, pois o abertura não consegue ser o típico nº10 de desequilíbrio e de versatilidade vertiginosa, sendo mais virado para a posse tática, o movimentar a bola sem ganhar metros (12 no total deste jogo) de forma a garantir uma boa base de apoio ao ataque da Escócia e que opta pelo pontapé para tentar criar algum tipo de instabilidade na equipa contrária. Porém, frente a uma seleção tão bem preparada a nível tático como a França, o papel de Weir acabou por ser quase reduzido ao trabalho de chutar a bola no jogo contínuo ou de garantir pontos através das penalidades, participando raramente de maneira positiva no ataque da Escócia algo que condenou os da casa a uma derrota por mínimo de 7 pontos.

A Escócia teve na mão a possibilidade de derrotar mais uma vez esta nova França, mas desta feita faltou outra elasticidade mental e perfume ofensivo – seja por Hastings ou Russell – para derrubarem a compacta atitude defensiva francesa que fugiu de Murrayfield com os 4 pontos e a final da Autumn Nations Cup praticamente garantida.