Foto: Super Rugby

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ARTIGO OPINATIVO – A imprensa irlandesa publicou nesse sábado que os Jaguares argentinos poderiam ingressar no PRO16, a liga que reúne times irlandeses, galeses, escoceses, italianos e sul-africanos. Trata-se, por enquanto, apenas de um rumor, com a matéria não oferecendo fontes que o sustentem.

Segundo a reportagem, os argentinos ainda buscam uma solução após terem deixado o Super Rugby e sua federação quer uma solução com urgência. A proposta argentina é de basear os Jaguares na Espanha, mandando todos os seus jogos na cidade de Bilbao. Isto é, os Jaguares não mandariam jogos na Argentina, caso sejam admitidos no PRO16. Tal solução é diferente do que ocorrerá com os times sul-africanos – Bulls, Lions, Sharks e Stormers – que mandarão jogos em solo sul-africano.

O PRO16 acertou recentemente a venda de 28% de sua sociedade para o fundo de investimentos CVC. As federações de Irlanda e Gales mantiveram 24% cada, ao passo que as federações de Escócia e Itália têm 12%. Os sul-africanos jogarão o PRO16 como convidados por enquanto, pagando uma taxa anual para a liga. Os argentinos apostam na vontade do PRO16 de se expandir, impulsionado pelos interesses econômicos da CVC.

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O que há de verdade aqui?

Para quem está mais atento às negociações concretas do rugby internacional, é fato que os argentinos buscam uma nova liga para os Jaguares, mas parece pouco provável que um negócio com o PRO16 se concretize.

Primeiramente, o PRO16 acaba de se expandir para a África do Sul. Isso significa que quatro fortes competidores por título entram em 2021 na liga que atualmente vem sendo dominada pelos times irlandeses. Para galeses e escoceses, que venceram a liga apenas uma três vezes nos últimos 10 anos (Ospreys em 2012 e Scarlets em 2017, do lado galês; Glasgow em 2015, do lado escocês), a entrada dos sul-africanos já significará chances ainda menores de título. Gales divide seu talento em 4 times (Ospreys, Scarlets, Cardiff Blues e Dragons), ao passo que a Escócia em 2 (Glasgow e Edinburgh). Os Jaguares argentinos teriam como proposta concentrar num único time boa parte do talento do país. Isso significa que os Jaguares seriam fortes candidatos a título – algo provado pelo vice campeonato do Super Rugby em 2019. Isso certamente não interessa a galeses e escoceses – muito menos aos italianos.

Além disso, a alegação de que a Argentina oferece um acréscimo econômico à liga é questionável. Primeiramente, sem jogos em casa, os Jaguares estariam mais distantes do público argentinos e é difícil crer que terão o mesmo apoio que tinham na época do Super Rugby – sendo que esse apoio não tinha atingido todo o seu potencial, basta lembrar que o público para jogos dos Jaguares não era dos maiores. Ao ter que mandar seus jogos na Espanha, os Jaguares terão que construir fãs por lá e a escolha da cidade basca Bilbao não é boa, pois os fãs de rugby do País Basco já torcem para Biarritz e Bayonne, os clubes bascos do Top 14 francês. Não há tanto apetite na cidade, que também não conta com grande colônia argentino (os argentinos na Espanha estão em outras cidades).

Para piorar, os custos dos Jaguares seriam todos em Euros e a moeda argentina certamente não contribui. Como boa parte dos jogadores dos Pumas estão agora ganhando salários em Euros, Libras ou Dólares Australianos, não sairá nada barato reconstruir o elenco, ainda mais com um projeto afastado de seu torcedor. Com isso, do ponto de vista da liga, quanto dinheiro realmente os Jaguares aportariam é também questionável.

Ou seja, ou a reportagem é um click bait, ou a União Argentina de Rugby está com planos pouco sensatos. O mais sensato é desenvolver a SLAR – a liga profissional sul-americana – como competição formadora de talentos e buscar politicamente junto ao World Rugby garantir mais tempo para os Pumas trabalharem com seus atletas antes dos jogos. A Argentina foi 3º colocado da Copa do Mundo em 2007 sem ter os Jaguares.