Foto: INPHO/ECPR

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Logo após a crise deflagrada no futebol europeu com o anúncio da Super League europeia, o debate acerca de ligas esportivas fechadas (o “modelo estadunidense”) e ligas esportivas abertas (com promoção e rebaixamento, o “modelo europeu”) voltou a estar em evidência.


No caso do rugby, o debate é quente, pois os dois modelos existem e competem entre si, seja no rugby de seleções, seja no rugby de clubes/franquias.

 

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Entre as seleções, o debate é eterno

O rugby de seleções nacionais é hoje dominado por duas competições fechadas, que não têm sistema de promoção e rebaixamento:

  • Six Nations, na Europa, envolvendo França, Inglaterra, Irlanda, Gales, Escócia e Itália;
  • The Rugby Championship, no Hemisfério Sul, envolvendo Nova Zelândia, Austrália, África do Sul e Argentina;

As duas competições – em especial o Six Nations – sofrem com constantes críticas dos países emergentes do rugby.

As demais competições de seleções, historicamente, são abertas, como, por exemplo, o Rugby Europe Championship (“Six Nations B”) e todas as divisões europeias abaixo dele, o Campeonato Asiático ou a Copa da África. O Americas Rugby Championship nasceu como uma liga fechada, mas tinha planejado o início de um sistema de rebaixamento e promoção em 2020, que teria ocorrido se não fosse a pandemia. Historicamente, o Campeonato Sul-Americano opera com um sistema aberto, mas que varia de ano para ano. O futuro das competições de seleções nas Américas segue incerto desde então.

No seven-a-side, o Circuito Mundial de Sevens segue o modelo aberto, com rebaixamento.

 

As quatro grandes ligas do rugby entre dois modelos

No rugby de clubes/franquias, o rugby vive uma batalha maior de modelos. O esporte conta com 4 grandes ligas, sendo elas 2 abertas e 2 fechadas.

As ligas abertas são:

  • Top 14 francês, a liga mais rica do mundo, que conta com uma segunda divisão forte, a Pro D2, sob a mesma organização do Top 14 (a LNR, a Liga Nacional de Rugby da França, é responsável pelas duas divisões);
  • Premiership inglesa, que vem discutindo a possibilidade de se fechar, uma vez que a segunda divisão do país (que não é controlada pela Premiership Rugby Ltd) é fraca e vive no limite do profissionalismo;
  • Outra liga aberta emergente é o Campeonato Japonês, que também trabalha com rebaixamento e promoção. Os demais campeonatos nacionais na Europa e as competições amadoras de clubes da Argentina, por exemplo, seguem igualmente o modelo de rebaixamento e promoção;

Já as duas grandes ligas fechadas do rugby são:

  • PRO16: a liga de Irlanda, Gales, Escócia e Itália, que será expandida em 2021 para incluir equipes da África do Sul;
    • O PRO16 nasceu em 2001 como Celtic League, com equipes de Gales, Irlanda e Escócia, como uma forma de fortalecer os times desses países, para poderem competir com ingleses e franceses economicamente. O rugby só se tornou profissional no mundo em 1995 e nos primeiros ainda ainda se buscavam os modelos ideais. Para isso, a competição foi idealizada como uma liga de selecionados regionais – e não de clubes. O rugby de clubes é amador ou semiprofissional nesses países, estando abaixo das franquias do PRO16;
    • Enquanto os times de Irlanda e Escócia foram criados a partir das seleções provinciais já existentes. Em Gales, inicialmente eram os clubes do país que disputavam a Celtic League. Em 2001, os clubes foram substituídos por novas franquias regionais em Gales, que não possuía seleções regionais até então;
    • Em 2010, a Celtic League se expandiu para a Itália, com a criação de duas franquias. Os times italianos não foram criados a partir de selecionados regionais e não têm a prerrogativa de representarem regiões;
    • A Celtic League foi rebatizada para PRO12 e depois para PRO14, quando 2 times sul-africanos, Cheetahs e Kings, excluídos da competição, migraram para a liga europeia, em 2017;
    • Com a saída da África do Sul do Super Rugby, as 4 maiores equipes sul-africanas migraram para o PRO14, formando o novo PRO16, com Cheetahs e Kings sendo excluídos. Os times sul-africanos também nasceram como seleções regionais;
  • Super Rugby: liga de Nova Zelândia e Austrália, que será expandida para as Ilhas do Pacífico em 2022. Até 2020, o Super Rugby tinha equipes de África do Sul, Argentina e Japão;
    • O Super Rugby nasceu em 1996 reunindo franquias de Nova Zelândia, Austrália e África do Sul. Nos 3 países, os campeonatos nacionais são de seleções regionais (chamadas de provinciais na Nova Zelândia e na África do Sul), com os clubes sendo amadores e restritos a competições locais. O modelo foi historicamente preferido para se lidar com os deslocamentos e com o fato do rugby ser amador até 1995;
    • As franquias do Super Rugby nasceram como representações regionais acima das velhas seleções provinciais, abrangendo territórios maiores;
    • Em 2016, o Super Rugby se expandiu para Argentina e Japão, mas o experimento acabou em 2020. Com a pandemia, os sul-africanos optaram por migrar para o PRO16;

Tanto na Nova Zelândia como na África do Sul os campeonatos nacionais de seleções provinciais seguem um modelo misto: eles são fechados, restritos aos selecionados provinciais, mas as equipes são separadas em divisões, havendo sistema de promoção e rebaixamento. Na Austrália, Nova Zelândia e África do Sul, os campeonatos locais amadores de clubes também seguem modelos de ligas fechadas.

Nesses casos do rugby, as ligas fechadas nasceram a partir do modelo (já existente desde a época amadora) de campeonatos de seleções regionais. Não nasceram a partir de clubes, como no caso da Super League proposta pelo futebol.

Outras ligas emergentes criadas recentemente que seguem o modelo de ligas fechadas são:

  • Major League Rugby, a liga da América do Norte;
  • SLAR, a liga da América do Sul;

 

E no rugby feminino?

O rugby XV feminino segue as mesmas tendências. Na Nova Zelândia e na Austrália, a opção é por campeonatos de selecionados regionais (Farah Palmer Cup e Super W, respectivamente), ao passo que na Europa o modelo é de competições abertas de clubes. No entanto, recentemente, o Premier 15s, o Campeonato Inglês (a liga mais próxima do profissionalismo no mundo), optou por fechar seu sistema de promoção e rebaixamento.

A nova liga mundial para seleções nacionais, o WXV, operará com um sistema aberto, mas com alguns privilégios para países mais fortes.