Mapa de estudo para 16 federações (Portal do Rugby).

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ARTIGO OPINATIVO – O assunto favorito aqui desta coluna há anos vem sendo a questão da filiação de novos estados à CBRu, questão essa que eu já atribuí como essencial para nos adequarmos aos valores do rugby de verdade.

Tivemos no mês um excelente debate pelo Rugby Talks acerca do assunto e está cada vez mais claro que o sistema burocrático atual da Confederação para filiações de novos estados está defasado e prejudica a própria Confederação.

Qualquer especialista em marketing ou gestão esportiva conhecedor da realidade do rugby já teria advertido que a situação de apenas 6 estados serem filiados à Confederação e os demais não terem uma situação clara traz atenção negativa ao esporte e arrisca afastar apoiadores (tanto apoiadores com interesses nas regiões excluídas, alguns já atuantes, aliás, como apoiadores que entendam que a situação prejudica o ambiente interno do esporte).

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No final deste ano a Confederação terá eleições para seu Conselho e esse assunto precisa ser resolvido logo, assim que uma nova gestão assumir, para o bem do esporte. O problema se tornou muito mais político do que racional.

No entanto, a resposta está numa instituição que todos conhecemos: o World Rugby (a federação internacional). Sem dúvida alguma, o World Rugby tem problemas de representatividade, que vem se tornando públicos, com a própria América do Sul atualmente fazendo oposição à atual gestão. Pichot, em sua candidatura derrotada à presidência da entidade, defendeu mais representatividade para os países emergentes. A Confederação Brasileira apoiou a candidatura, defendendo o que é justo: mais participação para todos. E a mesma lógica precisa vigorar no nosso rugby.


No entanto, o World Rugby apresenta hoje mesmo um sistema de filiação que é bastante lógico. O problema do World Rugby é que filiação não significa voz no seu Conselho – mas isto é um outro problema.

Há 4 tipos de país para o World Rugby, de acordo com seu documento que regula as filiações:

  • Membros associados à federações continentais;
  • Membros plenos das federações continentais;
  • Membros associados ao World Rugby;
  • Membros plenos do World Rugby;


Para se tornar membro associado do World Rugby é preciso ter 2 anos de filiação a uma federação continental. E para passar de associado a plenos do World Rugby há uma série de regras (clique aqui para conferi-las).

Isto é, os países que não têm o rugby maduro o bastante para serem membros plenos do World Rugby, podem ser membros associados ou, na pior das hipóteses, membros das federações continentais. Precisamos de um sistema que ofereça um caminho a ser trilhado por todos os estados dentro da Confederação. Hoje, esse caminho tem que ser trilhado fora dela, o que é péssimo por não oferecer legitimidade ao trabalho.

Evidentemente, uma mudança de estatuto não é tão simples assim e precisar ser discutida com critérios técnicos, mas parece haver consenso a nível nacional da maioria da comunidade do rugby que a situação não pode continuar assim – e o caminho para uma situação mais adequada não é um “bicho de sete cabeças”.

Infelizmente, arrisco-me a dizer que de todos os 30 primeiros colocados do Ranking mundial, o Brasil seja o único país que tem parte de seu território fora de uma estrutura organizativa reconhecida por sua confederação. Nos Estados Unidos, até mesmo Alasca ou Havaí são parte da federação do país. No Canadá, apenas dois dos três territórios do Ártico não fazem parte de federações regionais (mas também não têm clubes, pelas condições climáticas). Confesso que não conheço a estrutura do rugby na Rússia, mas o rugby é forte na Sibéria e isso garante competições nacionais ou regionalizadas, de Moscou até Vladivostok, na fronteira com a Coreia do Norte. Os modelos para solucionar nosso problema geográfico estão debaixo do nosso nariz, no nosso próprio esporte.

Trago agora alguns tópicos importantes para a discussão, que publiquei em 2019.

Parece-me incrível como que a questão da filiação de novos estados é entendida de forma equivocada por muita gente. Há dois pontos centrais que atrapalham a compreensão:

  • Muita gente interpreta que a filiação de estados do Nordeste, Norte ou Centro-Oeste seja indesejada porque encareceria muito os Campeonatos Brasileiros de Rugby XV (Super 12 e Taça Tupi). Tal interpretação é equivocada por três motivos:
    • 1 – A CBRu já trabalha com o conceito de regionalização;
    • 2 – Se houver falta de recursos da CBRu para arcar com viagens, ela mesma pode resolver a questão a partir do regulamento de seu torneio. A filiação à CBRu não está diretamente relacionada a isso;
    • 3 – A CBRu já abre espaço hoje para equipes de fora dos 6 estados filiados (SP, RJ, MG, PR, SC e RS) em competições de sevens, masculino ou feminino (Melina, Delta, Goianos, por exemplo);
  • Muitos acreditam que o motivo de filiação de um novo estado à CBRu é conseguir vagas em torneios nacionais. Esse não é o motivo principal e nem deve ser. Ele é um entre vários motivos e trata-se de um motivo para ser discutido em um segundo momento, isto é, após a filiação;
  • As metas para uma região precisam ser feitas a partir da leitura das suas próprias realidades. Fazer rugby próximo de outros clubes é muito mais fácil (ou menos difícil) do que fazer rugby distante de outros clubes;

Portanto, para que serve filiar seu estado à CBRu? Há razões que são muito mais importantes do que qualquer vaga em competições:

  • O motivo principal para uma federação ser filiada à CBRu é: LEGITIMIDADE. Para dentro do estado e para fora.
  • Em outras palavras, a partir do momento que uma entidade é filiada ela está tendo seu funcionamento chancelado pela CBRu, que é filiada ao World Rugby (federação internacional) e ao COB (Comitê Olímpico do Brasil), que são filiados ao COI (Comitê Olímpico Internacional);
  • Chancelado? Sim, a partir do momento que a federação é aceita, a gestão (as pessoas) eleita de acordo com o estatuto é a legítima (verdadeira, oficial) representante do rugby daquele estado. Isso é ESSENCIAL para:
    • 1 – Impedir que qualquer um se diga o representante do rugby do estado. Isso torna mais difícil a vida de charlatões;
    • 2 – Reduz o risco de rachas de clubes, isto é, garante estabilidade ao trabalho e coesão entre os clubes;
    • 3 – Permite conversar formalmente e com respaldo com patrocinadores e poder público. Qualquer um pode procurar apoiadores e governo, mas ter a chancela do reconhecimento da CBRu (portanto World Rugby e COB, portanto COI) oferece outro patamar e credibilidade à gestão;

Basta ver a história recente do rugby no Nordeste ou Centro-Oeste para entender como a questão da legitimidade é central.

A chance de se perder uma oportunidade por falta de legitimidade é imensa. Torna o sistema totalmente ineficiente. É justamente por isso que abaixo da Confederação existem Federações.

Qual o caminho adiante?

  • Faz sentido a CBRu estabelecer metas para as federações, mas elas precisam se adequar a cada realidade. Fazer rugby em São Paulo com viagens de 100 km e dezenas de clubes vizinhos não é igual fazer rugby na Amazônia isolado;
  • O que é essencial para uma federação existir é ela ser a representante dos clubes de seu estado ou região. Isto é, federação é quem representa;
  • Portanto, uma vez que uma federação prova representar uma comunidade e segue princípios legais (estatuto, eleições, documentação em dia), não há razão para não incorporá-la, isto é, garantir sua legitimidade;
  • Para nortear tal filiação e estabelecer metas, a CBRu pode e deve criar categorias distintas de filiação, que atendam a todas as realidades do nosso país continental, ao mesmo tempo que ofereçam metas para nortear o trabalho de todos. Direito e deveres. Sem direitos, é complicado cobrar deveres;
  • E cada federação pode (e deveria) ser dividida em associações regionais dentro de cada estado;

É lógico que algumas federações/associações de estados ou regiões (do mapa deste artigo) são meramente hipotéticos, pois em alguns casos o rugby está quase morto após anos de ilegitimidade. Mas é preciso de um modelo antes para o trabalho futuro se nortear.

“Já deu” esse assunto, não? O Conselho do próximo ciclo (2021-2024) não pode se omitir sobre Norte, Nordeste e Centro-Oeste mais.