Foto de um dos protestos na Nova Zelândia contra a visita dos Springboks em 1981.

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Democracia Corintiana. Jogos Olímpicos de 1968 e os punhos erguidos dos atletas americanos Tommie Smith e John Carlos. Jesse Owens e os Jogos Olímpicos de 1936. Os casos nos quais o esporte se misturou à luta por democracia e direitos humanos são muitos. O rugby não é diferente e há muitas histórias, mas a mais famosa, é claro, é a luta contra o regime do apartheid na África do Sul – regime racista que governou o país de 1948 a 1994, separando brancos e negros na vida social e retirando direitos da maioria negra do país.

 

Rugby e apartheid: uma luta na política internacional

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A história do rugby como parte da luta contra o apartheid é longa e influenciou na política de outros países. Na Nova Zelândia, a primeira crise veio em 1960, quando os All Blacks visitaram a África do Sul e foram obrigados pelo governo a não usarem seus atletas maoris, pois as leis sul-africanas não permitiam partidas “inter-raciais”, já que os Springboks contavam apenas com atletas brancos. Com o veto e a manutenção da partida, a Nova Zelândia entrou em ebulição para discutir, dentro de seu próprio país, a questão da discriminação dos maoris. Os protestos fizeram com que os All Blacks só voltassem a visitar os Springboks em 1970, quando o governo sul-africano aceitou liberar os maoris como “brancos honoráveis”.

Ainda assim, os protestos seguiram. Dentro da África do Sul, foi formada uma federação de rugby não-racial, que lutava para acabar com a divisão dentro do esporte, posicionando-se contrária ao apartheid, mas sem voz na formação da seleção do país, formando, alternativamente, os South African Barbarians, que fizeram uma gira à Inglaterra em 1979 com um primeiro selecionado multiétnico.

Em 1976, os All Blacks voltaram a visitar os Springboks e o fato culminou em um boicote internacional ao regime do apartheid, proibindo partidas internacionais de qualquer esporte contra seleções da África do Sul – além do boicote de países africanos aos Jogos Olímpicos daquele ano, por conta da participação da Nova Zelândia. Em 1980, os British and Irish Lions quebraram o boicote visitando os Springboks, sob o pretexto de não representarem um país especificamente. Os protestos dentro do Reino Unido e na Irlanda sobre o tour levaram os britânicos a não visitarem mais os sul-africanos até 1997.

O ápice se deu em 1981, quando a África do Sul visitou a Nova Zelândia, passando por cima do boicote. O chamado “Rebel tour” convulsionou a Nova Zelândia e também fez com que os All Blacks não voltassem mais país até os anos 90. No entanto, em 1985, uma equipe extra-oficial da Nova Zelândia, os Cavaliers, foi formada para ir à África do Sul, gerando protestos nos dois países e tendo como resultado o congelamento de novas iniciativas até o processo de democratização da África do Sul.

O desfecho dessa história você conhece: o fim do regime do apartheid e a eleição de Nelson Mandela para a presidência da África do Sul, com o país recebendo a Copa do Mundo de Rugby de 1995, na qual Mandela se aproximou dos Springboks para transformar o rugby num símbolo de unidade nacional, a fim de evitar que ódios e ressentimentos colocassem em xeque a jovem democracia sul-africana.

Para mostrar como o rugby influenciou na política muito antes de Mandela, fica nossa dica de documentário (em inglês). Trata-se de um filme sobre a rivalidade histórica entre All Blacks e Springboks e suas relações com a política – e como há questões das quais não há como escapar.