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A História do Rugby no Brasil é centenária. O Portal do Rugby inicia agora uma série que tratará de mostrar de forma bem sintética o percurso do rugby pelo país. Para saber mais, você pode ler o livro A História do Rugby no Brasil, 1891-2009, disponível apenas em e-book (clique aqui).
Depois de tratar do período de 1891 a 1918, o tema nesta semana é 1919 a 1945. Para saber mais sobre o período, indicamos ainda a tese de mestrado Passe para Trás! (clique aqui para baixar)
A retomada do rugby em São Paulo e no Rio
Depois do rugby ser interrompido em São Paulo e no Rio de Janeiro com a Primeira Guerra Mundial, a volta de britânicos ao Brasil reacendeu a chama da bola oval nas duas cidades nos anos 20. No Rio, há registro de formação de equipes em 1921, mas foi mesmo em 1925 que o rugby se firmou no Rio Cricket, em Niterói, com a comunidade britânica. A passagem de navios estrangeiros pelo Rio favoreceu que o Rio Cricket periodicamente tivesse oponente internacionais.
Outro porto que propiciou a prática do rugby é o de Santos, com os estrangeiros da cidade formando em 1925 uma equipe no Santos Athletic Club, liderados por um australiano, Vivian Bensuzan.
Enquanto isso, na capital paulista, o São Paulo Athletic Club passava por dificuldades e não foi nele que o rugby foi retomado. Os britânicos de São Paulo, liderados pelo inglês Gordon Rule e pelo escocês Jimmy McInyre, formaram o São Paulo Rugby Football Club em 1924, treinando atrás do Monumento do Ipiranga. Em 1925, a equipe foi incorporada por um clube esportivo – famoso pelo futebol – chamado Associação Atlética das Palmeiras (que não é a Sociedade Esportiva Palmeiras atual!), baseado onde posteriormente se fixou o Clube de Regatas Tietê.
Com equipes em São Paulo, Santos e Niterói, o rugby voltou a ser possível. Em 1926, a representação de São Paulo enfrentou Santos e o Rio – e com isso nasceria a primeira competição nacional no ano seguinte.
A Taça Beilby Alston e a Taça Wilson
A Taça Beilby Alston nasceu em 1927 como o duelo anual entre as seleções de Rio e São Paulo. O jogo se tornou uma tradição, sendo jogado anualmente até a década de 60, com interrupção apenas com a guerra civil em São Paulo em 1932 e com a Segunda Guerra Mundial.
Enquanto no Rio o rugby seguiu ligado aos britânicos do Rio Cricket, em São Paulo o esporte ganhou novos adeptos ao longo dos anos 20, com o Club Athlético Paulistano formando sua equipe, que consistia de muitos brasileiros, sem ascendência britânica, mas também de alguns britânicos, como o capitão Sydney Smith, brasileiro de ascendência britânica, que depois ajudaria a levar o rugby de volta ao SPAC após a guerra. Paulistano e AA Palmeiras criaram inclusive uma taça entre si, a Taça Wilson, que pode ser considerada o Paulista original. O rugby também foi jogado pelos alunos da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, enquanto treinos foram registrados no Corinthians, Germânia (atual Pinheiros), Ypiranga…
No entanto, com a Revolução de 1930, o cenário esportivo mudou bastante e tais clubes, que começavam a olhar para o rugby, abandonaram o projeto da bola oval. Nos anos 1930, com encerramento da Associação Atlética das Palmeiras, o Paulistano abandonou o rugby e a bola oval paulista voltou a ser representada pelo São Paulo Rugby Football Club da comunidade britânica. Isso até a Segunda Guerra Mundial, quando muitos jogadores se engajaram na guerra e o rugby foi paralisado.
Junior Springboks e British and Irish Lions
Navios que aportavam no Brasil propiciavam jogos adicionais aos rugbiers paulistas e cariocas. Os dois visitantes mais famosos foram os Junior Springboks – a seleção sul-africana “B” – e a Seleção Britânica (chamada de British Isles apenas na época, mas hoje conhecida como os famosos British and Irish Lions).
As duas seleções passaram pelo Brasil por terem como destino a Argentina. Os sul-africanos passaram pelo Rio quando em 1932, quando retornavam de viagem à Argentina, e deveriam ter encarado uma primeira seleção brasileira. No entanto, a guerra em São Paulo fez com que o combinado brasileiro fosse, na verdade, formado por atletas do Rio. O resultado foi 73-00 para os Junior Boks.
Depois, em 1936, a seleção britânica, que também voltava de gira à Argentina, enfrentou uma seleção brasileira de fato, com o jogo sendo transferido de Santos para Niterói pelas condições climáticas. O Rio Cricket assistiu aos britânicos vencendo por 82-00, com o príncipe russo Alexander Obolensky tendo marcado 17 tries naquela partida (ou melhor, reza a lenda!).
Internacional de Porto Alegre, Vasco da Gama…
O rugby não esteve restrito a São Paulo e ao Rio nesse período. Em 1920, o Internacional de Porto Alegre chegou a montar sua equipe, de vida curta, para enfrentar marinheiros de um navio que passou pela cidade, enquanto em Minas Gerais há registro de rugby em Nova Lima ligado a presença de britânicos na mineração. A Bahia também teve brevemente rugby nos anos 20.
Além disso, se o torcedor do Colorado gaúcho agora sabe que o rugby passou por seu clube, o vascaíno também precisa saber que o rugby passou pela Colina no final dos anos 30. O Vasco da Gama criou um departamento de rugby que teve vida curta (entre 1936 e 1939), mas curiosamente foi todo formado por jogadores brasileiros.
Como definir a época?
O período do entreguerras, que pega o fim da República Velha e a Era Vargas, é um período de ascensão do rugby, seguida de estagnação. O rugby ensaiou se difundir nos anos 20, mas ficou acabou recuando e dependendo da comunidade britânica nos anos 30. De todo modo, é o momento no qual o rugby cria raízes no Brasil. O rugby brasileiro atual começou em 1924, pois há uma continuidade entre aquela comunidade até o dias de hoje.
Campeões da Beilby Alston
Ano | Equipe da casa | Placar | vs | Placar | Equipe visitante | Campeão |
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1927 | RJ | 29 | X | 03 | SP | |
1928 | SP | 08 | X | 06 | RJ | |
1929 | RJ | 16 | X | 05 | SP | |
1930 | SP | 08 | X | 11 | RJ | |
1931 | RJ | 27 | X | 03 | SP | |
1932 | * | |||||
1933 | SP | 03 | X | 00 | RJ | |
1934 | RJ | 15 | X | 03 | SP | |
1935 | SP | 03 | X | 00 | RJ | |
1936 | RJ | 11 | X | 00 | SP | |
1937 | SP | 12 | X | 16 | RJ | |
1938 | RJ | 03 | X | 08 | SP | |
1939 | SP | 20 | X | 00 | RJ | |
1940 | RJ | 06 | X | 05 | SP | |
1941-46 | ** | |||||
1947 | SP | 00 | X | 08 | RJ | |
1948 | RJ | 16 | X | 04 | SP | |
1949 | SP | 13 | X | 06 | RJ | |
1950 | RJ | 06 | X | 00 | SP | |
1951 | SP | 26 | X | 06 | RJ | |
1952 | RJ | 09 | X | 21 | SP | |
1953 | SP | 12 | X | 03 | RJ | |
1954 | RJ | 00 | X | 06 | SP | |
1955 | SP | 20 | X | 06 | RJ | |
1956 | RJ | 13 | X | 00 | SP | |
1957 | SP | 11 | X | 13 | RJ | |
1958 | RJ | 13 | X | 03 | SP | |
1959 | SP | 17 | X | 03 | RJ | |
1960 | RJ | 03 | X | 33 | SP | |
1961 | SP | 25 | X | 10 | RJ | |
1962 | RJ | 00 | X | 57 | SP | |
1963 | SP | 38 | X | 06 | RJ | |
1964-1969 | *** | |||||
1970 | RJ | 05 | X | 48 | SP | |
1971 | SP | 33 | X | 05 | RJ | |
1972 | RJ | 09 | X | 39 | SP | |
1973 | **** | |||||
1974 | SP | 24 | X | 09 | RJ | |
1975 | SP | 49 | X | 03 | RJ | |
1976 | RJ | 24 | X | 17 | SP | |
1977 | SP | 27 | X | 12 | RJ | |
1978 | **** | |||||
1979 | RJ | 15 | X | 30 | SP | |
1980-1982 | **** | |||||
1983 | SP | 15 | X | 07 | RJ | |
Ranking | Títulos | |||||
São Paulo | 24 | |||||
Rio de Janeiro | 15 |
*Sem disputa em 1932 por conta da Revolução Paulista;
**Sem disputa entre 1941 e 1946 por conta da Segunda Guerra Mundial;
***Sem disputa entre 1964 e 1969 por falta de atletas no RJ;
****Sem disputa, outros motivos.