Foto: Lions Rugby

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ARTIGO OPINATIVO – No 1º test match a doer entre British and Irish Lions e Springboks, a vitória ficou para o elenco comandado pro Warren Gatland, que aguentaram (e até dominaram) nas fases-estáticas ou no maul, colocando os seus adversários debaixo de uma chuva de pontapés de difícil captação, que retirou aquela capacidade de contra-ataque vertiginoso dos homens de Rassie Erasmus e Jacques Nienaber. Estes são os três pontos principais da 5ª semana da viagem dos turistas pela África do Sul!

 

A NOTÍCIA DE ABERTURA: LIONS RESPONDEM ONDE MENOS SE ESPERAVA

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Sem entrar na secção de análise ao que se passou dentro de campo, a notícia principal vai para o facto dos British and Irish Lions terem sido capazes de apresentar uma formação-ordenada de grande confiança e um maul dinâmico ofensivo destruidor. Imperava a dúvida se os turistas tinham ou não categoria/capacidade para suster aquela que é a melhor selecção nas fases-estáticas, com este ponto de interrogação a advir não da falta de qualidade individual (Tadhg Furlong, Kyle Sinckler, Luke Cowan Dickie ou Ken Owens podem ser considerados de topo mundial nesta área) mas do encaixe colectivo positivo, algo que não seria de estranhar, pois é sempre um combo internacional quase do nível dos Barbarians.

Contudo, e depois de Warren Gatland ter escondido a maior parte das ideias e estratégias dos Lions no encontro ante a África do Sul A, no 1º test match destas saga de três jogos frente aos Springboks, o pack de avançados dos britânicos-irlandeses foi não só fiável como dominou na 2ª metade do encontro, forçando duas penalidades aos campeões do Mundo e retirando qualquer possibilidade de ascendente táctico, algo que perturbou a saída de bola de Faf de Klerk e a intervenção de Handré Pollard no fazer a equipa a jogar, um ponto que discutiremos a seguir

O ponto de interesse aqui é que a equipa técnica dos Lions foi capaz de fabricar uma formação-ordenada agressiva, que respondeu aos Springboks a partir do 3º encaixe dos 8 contra 8 (concederam duas penalidades nas duas primeiras devido a um encaixe errático por parte de Furlong), impondo problemas algo inesperados a Rassie Erasmus (o DoR da África do Sul esperava por um combate intenso, sem ser tão igualitário), sem que a sua equipa fosse capaz de os contornar e procurar outro caminho para dominar o território.

Todavia, fica a pergunta: vão aguentar a tarimba no segundo encontro?

A ANÁLISE AO(S) JOGO(S): ARTILHARIA DOS PONTAPÉS DERRUBOU BOKS

Falámos de como os avançados dos Lions anularam qualquer intenção de domínio dos Springboks a partir das fases-estáticas, tendo mesmo estes sido empurrados para trás nos mauls dinâmicos, sem que tivesse mconseguido retirar dividendos dos poucos mauls próprios, facilmente desmontados por Maro Itoje, Courtney Lawes e Alun Wyn Jones. Porém, um dos pontos de interesse máximo a analisar foi o jogo ao pé dos homens de Warren Gatland, criando sucessivas dificuldades e problemas aos campeões do Mundo de 2019, pois tanto Cheslin Kolbe (5 erros no salto no ar), Willie Le Roux (1), Damian Willemse (1), Kwagga Smith (3) e Elton Jantjies (1) não conseguiram captar a oval em condições, forçando erros constantes, impedindo um controlo de bola seguro e, deste modo, ficarem sem uma circulação de bola de qualidade.

Este factor foi bem visível, ou fez-se sentir mais, na 2ª metade dos 80 minutos, altura em que os Lions entraram em campo com uma estratégia ligeiramente diferente, pois alternavam entre o risco de jogar com as linhas-atrasadas (que na maior parte das ocasiões não correu da melhor forma ou não teve a expansão territorial total) e o rapidamente atirar um pontapé alto e curto, dificultando a intervenção dos boks quando um dos seus jogadores tinha de assumir a difícil missão de o captar, perante a pressão de Duhan Van der Merwe, Anthony Watson, Maro Itoje e Courtney Lawes, entre outros.

Sem condão para segurar a bola nas alturas, os Springboks viram-se cada vez mais diminuídos, ficando algo reféns das fases-estáticas, um sector que não lhes correu nada bem mesmo com a entrada do trio-maravilha, Steven Kitshoff, Malcolm Marx e Frans Malherbe, com estes dois aspectos a limitarem o acesso aos 22 metros dos Lions – só estiveram lá durante um máximo de 50 segundos na 2ª parte.

O banco de suplentes dos turistas foi superior, ofereceu uma revitalização quase mágica quando foi necessário, castigando continuamente os seus adversários no breakdown e no contacto, evidenciando uma preparação física melhor (mais jogos de preparação e a maioria dos jogadores com as rotinas certas), outro pormenor que acabou por ser decisivo quando chegámos aos 15 e decisivos minutos finais deste 1º encontro.

Sim, os Springboks flertaram com a vitória até ao fim, mas se olharmos somente para a 2ª parte, o domínio territorial e de posse de bola vai para os British and Irish Lions, que só nessa secção de tempo do encontro somaram 60% de território e 58% posse de bola, com duas das três únicas situações de ensaio dos sul-africanos a advirem de dois erros próprios da superequipa das ilhas britânicas e Irlanda (captação de bola própria deficitária e sucessão de maus passes), ficando a vitória bem entregue aos visitantes.

O ALERTA: DAN BIGGAR SAI ATORDOADO

Duas más notícias, uma para cada treinador: Willie Le Roux e Dan Biggar sofreram impactos na cervical/cabeça e acabaram por falhar na reavaliação do HIA. O que isto pode significar? Nada ou que ficarão de fora para o 2º encontro das series dependendo dos testes médicos que se seguem. Quem fica a perder? Ambos. Se Le Roux segura os Springboks tacticamente atrás da linha de defesa, apresentando-se como a unidade mais segura no coleccionar pontapés altos (Cheslin Kolbe não o é, neste momento), Dan Biggar foi instrumental para a criação atacante dos Lions, sem esquecer a competência no jogo ao pé ou no captar nas alturas a oval, podendo Warren Gatland ter um problema mais complicado de resolver que Jacques Nieanber e Rassie Erasmus.

Finn Russell continua entregue aos cuidados médicos do staff dos britânicos-irlandeses, existindo só duas outras possibilidades em caso de lesão do 10 do País de Gales: Owen Farrell e Marcus Smith. Farrell detém um pontapé de fina qualidade e que pode também criar problemas, mas não se mexe tão bem com a oval nas mãos, nem garante garante confiança total à equipa no captar de bolas altas. Já Marcus Smith é um fantasista por natureza, verde em termos de experiência e que poderá ressentir-se perante uma defensa contrária onde estão jogadores como Damian de Allende ou Lukhanyo Am (excelentes placagens e uma aproximação defensiva de topo mundial), não sendo, portanto, uma escolha segura neste momento.

Conseguirá Biggar recuperar? Será só um ligeiro susto como foi Liam Williams? Ou os Lions vão ter de alterar a estratégia com a entrada de Owen Farrell?

 

OS STATS QUE NOS INTERESSAM

Maior marcador de pontos: Handré Pollard (Springboks) – 12 pontos
Maior marcador de ensaios: Luke Cowan Dickie (Lions) e Faf de Klerk (Springboks) – 1 ensaio
Jogador com melhor dados no(s) jogo(s): Willie Le Roux (Springboks) – 45 metros conquistados, 2 quebras-de-linha, 2 defesas batidos
Lesão preocupante: Dan Biggar (Lions) e Willie Le Roux (Springboks) – entre nenhuma a 2 semanas
Jogador que surpreendeu: Courtney Lawes (Lions) – um destruidor nato nos mauls dinâmicos, inteligente no jogo sem bola e capacidade de resiliência na saída dos rucks e formação-ordenada