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ARTIGO OPINATIVO – O Sul-Americano de 2020 se encerrou com o Brasil somando 3 derrotas, contra Uruguai, Argentina e Chile. As entrevistas com Fernando Portugal e Ige no Rugby+ e Rugby Talks do Portal do Rugby foram bastante esclarecedoras com relação ao trabalho que vem sendo realizado. O app da Sudamerica Rugby também nos oferece números sobre o torneio – o que não tínhamos antes. Assim, podemos tirar melhores lições do que rolou neste mês na América do Sul.
Equipe | Pts | J | V | E | D | |
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Argentina | 14 | 3 | 3 | 0 | 0 | |
Chile | 9 | 3 | 2 | 0 | 1 | |
Uruguai | 5 | 3 | 1 | 0 | 2 | |
Brasil | 0 | 3 | 0 | 0 | 3 | |
Tabela completa |
O Chile vai brigar por vaga no Mundial 2023
Já falávamos sobre isso no ano passado. A contratação do uruguaio Pablo Lemoine – treinador que levou o Uruguai à Copa do Mundo de 2015 – para conduzir o Chile já sugeria que os Condores renasceriam. Em 20 jogos disputados pelo Chile desde 2016 no Americas Rugby Championship, foram 19 derrotas. Porém, havia uma clara deficiência nas condições de trabalho para os treinadores dos Cóndores e agora a Federação Chilena deu um passo adiante em seu alto rendimento. O recado do Chile foi claro nesse Sul-Americano.
As Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2023 serão em 2021 e 2022 e é claro que Estados Unidos e Uruguai seguem como os maiores favoritos às 2 vagas diretas do continente (já que a Argentina já está classificada), sobretudo porque contarão com atletas que atuam na Europa. Por sua vez, o terceiro colocado ganhará vaga na Repescagem Mundial e, no papel, o favoritismo é do Canadá. Se até o ano passado o Brasil parecia o maior candidato a tentar derrubar algum favorito, o Chile já avisou que não está atrás.
A SLAR nivelará o alto rendimento do rugby sul-americano
No ano que vem, a liga profissional sul-americana (a SLAR) dará um sistema de fato profissional aos atletas uruguaios, brasileiros, chilenos, paraguaios, colombianos e ao desenvolvimento argentino. Serão ao redor de uma dezena de partidas no primeiro semestre, que prepararão as equipes para o Americas Rugby Championship (que valerá como Eliminatórias para o Mundial 2023).
Até 2019, o Brasil havia saltado de status na América do Sul pela qualidade do nosso alto rendimento, com atletas que vivem de rugby e estrutura de treinamento invejável no NAR (um dos melhores centros esportivos de alto rendimento do continente). Tal estrutura colaborou para que o peso do número reduzido de juvenis no país e a precariedade dos clubes fosse amenizada. Agora, não teremos mais esse diferencial. Mesmo que a SLAR de 2020 tenha sido cancelada pela pandemia, os efeitos de sua criação já estão visíveis.
Renovação, formação: aspectos incontornáveis do rugby profissional
Ao analisarmos as estatísticas do Sul-Americano, ficou muito claro que o Brasil pecou demais no número de penais cometidos ao longo do torneio, bem como perdeu sua vantagem no scrum.
É preciso relativizar muitas coisas por conta da pandemia, mas os Tupis entraram em um processo de renovação, que inclui novos atletas no pack e no sistema criativo. A liga profissional demandará profundidade de elenco, o que significa que a capacidade de se renovar continuamente será crucial para o sucesso a longo prazo. A renovação implica também ter atletas que tiveram uma boa formação na base, com experiência de jogo superior à que temos hoje. Uruguaios e chilenos costumam chegar mais rodados à seleção adulta e isso poderá ser uma vantagem considerável ao processo de renovação deles. A SLAR colocou à prova jovens jogadores brasileiros, com resultados bastante diversos. Alguns se saíram bem, outros sofreram. Isso é normal, mas não temos muita profundidade nas categorias de base para seguirmos evoluindo.
O fato do nosso rugby de clubes – em especial o juvenil – estar muito abaixo das realidades de Chile e Uruguai – e, ao que parece, nada acima do que têm Paraguai e Colômbia – vai cobrar o seu preço – a menos que algo seja feito. Em 2019, apenas um estado teve campeonato de rugby XV juvenil. Isso é inaceitável para quem quer crescer.
Psicologia será central para o futuro dos Tupis
Mais que isso, tanto os penais em excesso como a dificuldade histórica em defender mauls têm um aspecto psicológico. É justamente a preparação mental dos atletas ao longo de 2021 que desempenhará um papel central para o sucesso do Brasil nos próximos anos. Uma categoria de base competitiva ajuda demais na formação mental dos atletas, pois jogam desde cedo com pressão, mas o trabalho é contínuo ao longo do período como atletas adultos.
Para além disso, uma liga profissional significa cobrança. Os atletas verão nos próximos anos muita gente fazendo cobranças nas redes sociais. Torcedor pede mudanças no time. Torcedor critica jogador quando os resultados não aparecem. O jogador brasileiro vai precisar lidar com o que lê e ouve na internet.
Comunicação é tudo
É essencial reconhecer o tamanho da evolução da comunicação da Sudamérica Rugby para este Sul-Americano. O trabalho foi excelente, com estatísticas, vídeos e fotos sendo disponibilizadas com velocidade que ajudou demais nosso trabalho. Mais que isso, a Sudamérica Rugby parece caminhar no sentido correto para engajar os fãs – algo essencial para o sucesso da SLAR.
A pandemia ainda criou maior know-how da imprensa em como trabalhar remotamente e isso ficou claro no sucesso que foram as entrevistas que fizemos com a comissão técnica brasileira que estava no Uruguai. Muito se aprendeu na comunicação neste mês e a expectativa é positiva para 2021 nesta área.
A vaga de repescagem das Americas para mim está no mesmo pé para Canada, Chile e Brasil. Os jogos entre estes países serão bem disputados mas vitorias contra os outros adversarios (EUA e Uruguai) podem ser decisivos.
O SLAR vai mudar a cara do rugby da região, mas acredito que jogadores que tem experiencia na Europa vão ajudar muito as seleções e seria muito interessante se os Tupis ganhessem este tipo de reforço também.
A CBRU e federações estaduais precisam pensar com urgencia um plano de criação e desenvolvimento do rugby juvenil brasileiro, realmente sem BASE sem FUTURO.
O psicologico será sempre um fator importante e que os Tupis devem trabalhar muito, não podemos entrar nas pilhas dos adversarios e temos de manter o controle emocional.
Achei fantastico termos a oportunidade de ouvir os tecnicos da seleção após os jogos espero e torço muito que isso se torne rotina.
Continuamos a querer seleção forte e so temos clubes fracos…….o caminho do sucesso e exatamente o contrário.
E consequentemente campeonatos fracos..