Papua contra Gales em 2017. Foto: RLWC

Tempo de leitura: 8 minutos

Se há países onde o Rugby Union é importante e são pouco conhecidos por isso, há países onde o Rugby League (o rugby de 13 jogadores) tem sucesso maior. Vamos a uma lista dos países onde o League é maior que o Union.

 

- Continua depois da publicidade -

5 – Sérvia

Continente: Europa

População: 7 milhões

Se tem um país na Europa que merecia mais sucesso do que tem no League é a Sérvia. Na época que a nação fazia parte da Iugoslávia, o Rugby League chegou a ser brevemente praticado (entre os anos 1950 e 1960). No entanto, o esporte desapareceu e retornou nos anos 2000, deixando para trás o Union, que sempre foi muito pequeno por lá. Um fator importante para o crescimento recente do League sérvio foi sua introdução em clubes esportivos de massa, famosos pelo futebol e basquete, como o Estrela Vermelha e o Partizan de Belgrado. Os sérvios conseguiram inclusive vaga para seu campeão disputar a Challenge Cup, a Copa da Inglaterra, com o Estrela Vermelha atualmente buscando ser admitido na liga inglesa.

Outro fator que ajuda o League na Sérvia são as colônias de sérvios na Austrália e Inglaterra. Entretanto, o país ainda não foi capaz de se classificar à Copa do Mundo.

4 – Grécia

Continente: Europa

População: 10,7 milhões

Quem conseguiu o feito inesperado de se classificar à Copa do Mundo de Rugby League foi a Grécia, garantida já na edição 2021. Enquanto o Rugby Union caiu em desgraça na Grécia, perdendo filiação à federação europeia, o League atingiu o feito inédito ao ser capaz de engajar sua comunidade residente na Austrália.

O Rugby League na Grécia ainda é pequeno e tem próxima relação com os sérvios, tendo sido introduzido por lá apenas nos anos 2000. No entanto, clubes formados recentemente já começaram a ter atletas aparecendo na seleção nacional e a expectativa para 2021 é positiva para o League grego, que espera trilhar o caminho do Líbano.

3 – Líbano

Continente: Ásia

População: 6,9 milhões

No Líbano, o Rugby League vem ganhando clubes e adeptos nos últimos anos, muito por conta da força de sua seleção. O motivo é simples: a Austrália é um dos países com maior colônia de libaneses no mundo, sendo que a maioria deles imigrou para o país durante a Guerra Civil do Líbano (anos 70 e 80). A cidade com mais libaneses na Austrália é Sydney, capital do Rugby League no país.

Nos anos 90, libaneses-australianos que voltaram para o Líbano introduziram o League por lá e o esporte ganhou aderência, sobretudo dentro de universidades.

O Líbano criou sua própria seleção de League, os Cedars (em referência ao Cedro, árvore símbolo do país), formada sobretudo por australianos de origem libanesa, mas que já conta com atletas formados no próprio Líbano. O resultado foi rápido e o Líbano se classificou para os Mundiais de 2000 e 2017. Em 2017, os Cedars alcançaram as quartas de final, sendo eliminados em jogo apertado contra Tonga. Os Cedars se garantiram também na edição 2021, sendo hoje considerados uma das 10 melhores seleções do mundo.

2 – Papua Nova Guiné

Continente: Oceania

População: 8,9 milhões

A Papua Nova Guiné é o segundo maior país da Oceania em população, atrás apenas da Austrália – e, para surpresa de muitos, maior que a Nova Zelândia. O país é famoso por contar com 851 idiomas diferentes e também por ser o país onde o Rugby League é o esporte nacional, sem qualquer contestação.

Diferente de outros países da Oceania, onde o Union prevalece, na Papua o League é paixão nacional, com cada aldeia tendo seu time. O League por lá é famoso entre os antropólogos, por ter substituído a guerra e criado uma nova forma de identidade local e relação com os vizinhos.

Ex colônia britânica, a Papua passou a ser administrada como território da Austrália entre 1949 e 1975, quando obteve sua independência. Mas a influência australiana, sobretudo do estado de Queensland (onde o League é o esporte mais popular), é grande desde os anos 30.

A fundação dos Kumuls, a seleção do país (batizada em alusão a uma espécie de ave do paraíso, os famosos pássaros símbolo do país), em 1975 foi seguida por sua participação na Copa do Mundo em 1985. Desde então, a Papua jogou todos os Mundiais e a seleção se tornou importante representação do país. Os Kumuls jogam anualmente contra os australianos, em jogos famosos por sua brutalidade, e no currículo a Papua tem uma famosa vitória sobre a Nova Zelândia em 1986 e um histórico triunfo em 2019 sobre a Grã-Bretanha. Já sua seleção feminina chocou o mundo ao vencer as inglesas no ano passado.

A profissionalização do League masculino da Papua já vem ocorrendo desde 2014, com a criação de uma equipe profissional do país, o PNG Hunters, que disputa a Queensland Cup, equivalente à segunda divisão australiana. Em 2017, os Hunters se sagraram campeões da competição.



1 – Austrália

Continente: Oceania

População: 26 milhões

Obviamente, o país mais famoso pelo Rugby League é a Austrália. O esporte domina os estados de Queensland e New South Wales, que juntos têm mais de metade da população do país. O League é o esporte do povo nesses estados, jogado nas escolas públicas, ao passo que o Union é mais elitizado tradicionalmente, jogado nas escolas privadas.

A entrada do League na Austrália se deu em 1908, com a debandada de atletas e equipes do Union para o League ocorrendo naquele ano em Sydney, desejosos de buscarem o caminho da profissionalização. Nasceu, assim, a NSWRL, antecessora da atual NRL, a liga australiana, a mais rica do mundo.

A NRL domina o esporte globalmente, enquanto o State of Origin, a série anual de duelos entre as seleções de Queensland e New South Wales, é tido como o maior evento esportivo da Austrália. Não por acaso, os Kangaroos, a seleção do país, dominam a Copa do Mundo, sendo 11 vezes campeões mundiais (incluindo os 2 últimos títulos). Recentemente, as Jillaroos, a seleção feminina, também alcançou o topo do mundo.




Menção honrosa – Ilhas Cook

Continente: Oceania

População: 18 mil

 

As Ilhas Cook são muito pequenas: apenas 18 mil habitantes. E pertencem à Nova Zelândia. Os dois tipos de rugby são praticados por lá, mas é no League onde a seleção do país tem destaque, tendo jogado os Mundiais de 2000 e 2013 e tendo se classificado para 2021, sempre contando com seus 60 mil cidadãos que residem na Austrália ou Nova Zelândia. Em comparação, o Union levou as Cook aos Mundiais de Rugby Sevens de 1997 e 2001, por exemplo. Com os dois esportes sendo jogados igualmente nas pequenas ilhas, a categoria “menção honrosa” foi mais justa.

O que é o Rugby League

O Rugby League é uma modalidade do rugby que nasceu em 1895 no Norte da Inglaterra. Na época, o rugby (o Rugby Union) proibia o profissionalismo no mundo todo, mas um grupo de clubes ingleses se opôs à proibição de pagamentos a jogadores e romperam com a federação inglesa, formando uma liga independente. A fim de mudar a dinâmica do jogo e torná-lo mais aberto, a liga passou a promover mudanças nas suas regras, criando uma modalidade distinta, jogada com regras diferentes. O League, no entanto, se difundiu fortemente apenas no Norte da Inglaterra e na Austrália, onde é mais popular que o Union. O esporte ganhou popularidade ainda na Papua Nova Guiné (país da Oceania onde é o League e não o Union quem reina) e, em menor dimensão, na Nova Zelândia e em algumas partes da França.

As entidades que organizam o Rugby League no mundo não têm ligações com as entidades do Rugby Union. A federação internacional do League é a International Rugby League (IRL) – Federação Internacional de Rugby League. No Brasil, a entidade que organiza o League é a CBRL – Confederação Brasileira de Rugby League.

Quais as principais diferenças do League para o Union?

  • O League é jogado por 2 times de 13 jogadores cada, com 4 reservas, sendo que um atleta que foi substituído poderá retornar a campo. A modalidade reduzida principal é o Nines, de 9 jogadores de cada lado;
  • No League, o try vale 4 pontos, a conversão 2, o penal 2 e o drop goal (chamado também de field goal) 1 ponto;
  • Não existem rucks. Quando um atleta sofre o tackle, é seguro e vai ao chão o jogo é parado. O atleta com a bola é liberado, rola a bola com os pés para trás e o jogo é reiniciado. É o chamado “play the ball”;
  • Cada equipe tem direito a realizar 5 vezes o play the ball e, na sexta vez que um atleta é derrubado, a posse da bola troca de equipe. É a chamada “Regra dos 6 tackles”. Com isso, é comum após o 5º tackle a equipe com a posse da bola chutá-la;
  • Se a equipe defensora tocar na bola entre um play the ball e outro a contagem de tackles é zerada. Quando uma equipe com a posse de bola comete um erro de manuseio e a bola troca de posse o primeiro tackle é considerado “tackle zero” e a contagem se inicia apenas após ele;
  • Não há lineouts. A reposição da bola que saiu pela lateral é feita a partir de um scrum. Penais chutados para a lateral são cobrados com free kick;
  • Na prática, os scrums não possuem disputas, pois a equipe que introduz a bola na formação pode introduzi-la diretamente no pé de sua segunda linha. Porém, a equipe sem a bola pode tentar empurrar a formação para roubar a bola (o que é raro de acontecer);
  • Não existe o mark. Com isso, chutes no campo ofensivo são frequentes;
  • Um chute dado atrás da linha de 40 metros do campo de defesa que saia pela lateral após a linha de 20 metros do campo ofensivo é chamado de “40/20” e premia a equipe chutadora com a manutenção da posse da bola e com a contagem de tackles zerada;
  • A numeração dos atletas no League muda. Os números mais altos são para os forwards e os números menos são para a linha. O fullback é o camisa 1 e o pilar o 13, por exemplo;