Foto: Bruno Ruas @ruasmidia

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ARTIGO OPINATIVO – Momentos que marcaram esta RWC19… quais foram os mais especiais para o leitor? Deram-se inúmeros detalhes, pormenores e episódios que facilmente fazíamos uma tapeçaria carregada de contrastes e tonalidades, mas optámos 5 que devem ficar para sempre relembrados como os mais marcantes.

5 momentos do Campeonato do Mundo 2019 para nunca mais esquecermos!

SIYA KOLISI LEVANTA O CANECO

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Quantas pessoas apostavam numa vitória tão clara dos Springboks na final do Mundial 2019, tendo em conta o que passaram nos últimos quatro anos? Depois de um autêntico motim contra Alistair Coetzee e a subida de Rassie Erasmus ao “poder”, iniciou-se um processo de formatação do que tinha de ser a África do Sul para o próximo Mundial de Rugby… no meio das dúvidas todas que surgiram no caminho do seleccionador a mais preocupante passava por escolher o capitão.

Inicialmente caiu nas mãos de Eben Etzebeth, depois passou para Warren Whiteley, voltando para a frente e para trás até que o melhor candidato possível surgiu quase do nada: SiyaKolisi. Como primeiro capitão negro dos Springboks, o peso do Mundo caia um pouco sobre si, uma vez que existia a ilusão de que esta decisão e outras que envolviam jogadores negros passava por um sistema de quotas inexistente ao mais alto nível na África do Sul.

Kolisi provou que não foi capitão por uma questão social e/ou política, mas sim pela influência, voz e exemplo que transpira a cada arrancada, placagem, formação-ordenada ou outro apontamento técnico, numa demonstração do que pode ser a nova era para o rugby sul-africano. O momento em que levanta o 3º título mundial da África do Sul será para sempre lembrado como único e talvez é a hora de parar de achar que o rugby em terras de boks pertence à elite ou aos afrikaans.

JAPÃO MARCA O TRY DO ESCÂNDALO

Aos 59 minutos de jogo, um médico japonês sprintou a uma velocidade tal que ninguém teve a capacidade de capturá-lo ficando o incidente marcado em Shizuoka… 23 irlandeses assistiam atónitos ao momento que o seu Mundo começou a ruir, enquanto milhões festejavam de uma forma tão excitante que era impossível o resto público não acompanhá-los. Falamos claro do try de Kenki Fukuoka marcado à Irlanda e que levou o Japão a aceitar de que era a sua hora de dar o passo em frente e se afirmar como uma selecção de Tier1, com capacidade de ombrear com as outras demais.

Depois de uns primeiros 15 minutos de muito sofrimento, onde os irlandeses foram realmente superiores, seguiu-se a recuperação e reviravolta num encontro que teve notas heróicas e para sempre inesquecíveis. O try de Fukuoka foi um hino a tudo o que há de bom no rugby mundial.

 

O ELEMENTO MAIS IMPORTANTE DO JOGO SOBE AO CÉUS

Jerôme Garcés não teve um Mundial fácil, tendo caído no meio das críticas devido a exibições menos boas com o apito nas mãos, mostrando sempre uma atitude humilde e forte mesmos nesses momentos. Agraciado com a condução da final do Campeonato do Mundo 2019, Garcés deu boas provas que é um dos melhores árbitros da modalidade, conseguindo primar pelo exemplo, sensatez e capacidade de acalmar as equipas nos momentos mais críticos.

No final dos 80 minutos, o árbitro dirigiu-se às bancadas, num ritual reconhecido dos jogadores, mas nem tanto neste individuo essencial para que aconteça o jogo… para chegar até à sua família, foi levantado pelos assistentes de jogo, demonstrando que tudo no rugby é à base do colectivo e da equipa. Jerôme Garcés não tem que fazer vénias pela sua prestação na final, pois quem tem de efectuar essa cortesia são os jogadores, dirigentes e adeptos.

Foto: Bruno Ruas @ruasmidia

STEVE HANSEN E O FIM DE UMA ERA

Em 8 anos de liderança de Steve Hansen na Nova Zelândia raramente se viu uma demonstração de emoção por parte do histórico seleccionador, ficando sempre na retina como um homem que bloqueava os sentimentos, optando pela atitude mais racional e cientifica, de uma dureza quase extrema. Porém, naquele que foi o seu último jogo como o comandante dos All Blacks, o campeão do Mundo por uma ocasião (2015) não conseguiu suster a emoção e lágrimas quando ouviu e viu o estádio todo a gritar pelo seu nome e a aplaudir depois do jogo frente ao País de Gales, numa clara demonstração de carinho, respeito e reconhecimento pelo trabalho feito.

O legado que Steve Hansen montou para os neozelandeses pode parecer agora “curto”, mas as sementes para o futuro estão bem plantadas e não há dúvidas que o futuro sucesso (e vão tê-lo) tem uma marca forte e profunda deste senhor do rugby que assim disse adeus a uma das cadeiras de sonho do desporto mundial.

URUGUAI TE AMO

O Uruguai terminou em último no seu grupo do Mundial de Rugby, mas é impossível esquecer o que fizeram naquele encontro frente às Ilhas Fiji no 2º encontro da fase-de-grupos, que terminou com uma improvável vitória da celeste. Os festejos, a emoção e a felicidade dos teros quando derrubaram uma das selecções mais vibrantes do Mundo do Rugby é daquelas imagens que vai para sempre ficar tingida nesta 9ª edição de uma das maiores provas do desporto mundial.

A cara de Juan Manuel Gaminara, o capitão do Uruguai, descreve o sentimento naquele momento em que Pascal Gauzere apita para o fim do jogo: atónito, feliz, surpreendido e apaixonado pelo rugby. Vale a pena ter estas surpresas em todos os Campeonatos do Mundo, não vale?

 

Escrito por: Francisco Isaac