Foto: Super Rugby NZ

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Depois dos campeões já terem sido apurados, e de termos acalmado os ânimos (ainda se festeja em Queensland depois daquele ensaio milagroso de James O’Connor) é altura de vermos quem foram os melhores, comparando o Super Rugby AU e Aotearoa neste artigo de fecho de contas.

 

MELHOR FRANQUIA: REDS

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Sim, os Crusaders não perdem uma final desde que Scott Robertson assinou como treinador da franquia de Christchurch, tomando a partir de então a dianteira e a hegemonia do rugby do Hemisfério Sul, levando medo aos seus adversários e rivais quer da África do Sul (até 2020), Austrália, Nova Zelândia, Japão e Argentina. Porém, seria totalmente errado não atribuirmos o título de melhor franquia aos Queensland Reds de Brad Thorn, que durante toda a temporada só perderam um único jogo (frente à Western Force), derrotando os então campeões Brumbies por três ocasiões, iniciando aquilo que poderá vir a ser uma espécie de domínio dentro do rugby australiano, muito devido às capacidades técnicas do plantel dos koalas como à longa fornada de “diamantes” e jovens que estão a emergir.

Na combinação do Super Rugby AU com o Aotearoa, os Reds terminaram como a equipa com mais pontos marcados (290), 2ª melhor defesa (186 pontos sofridos, enquanto os Crusaders terminaram nos 178), 2ª melhor tanto nos ensaios sofridos (19 no total, os mesmos que os seus rivais de Chirstchurch, com os Brumbies a terem sofrido só 16 em toda a temporada) como nos marcados (Brumbies com 40, seguidos dos Reds com 34 e Crusaders com 33), impondo também bons números nos metros conquistados (3,5 kms), quebras-de-linha (85, menos duas em comparação com os campeões do Aotearoa), defesas batidos (foram a melhor franquia neste aspecto com 219) e penalidades.

Deixando os números e estatísticas para trás, há dois pontos que são essenciais do porquê de termos atribuído o título de melhor franquia em 2021: o atingir do objectivo máximo do projecto; sedimentação dos processos de jogo. Brad Thorn chegou em 2018 numa altura em que os Reds eram uma franquia submersa em problemas estruturais e técnicos, com um plantel precário, especialmente, no equilíbrio e domínio físico do bloco de avançados, tendo iniciado uma reformulação profunda que em 2021 atingiu o primeiro troféu após longos anos de “ausência” das grandes decisões. A vitória no Super Rugby AU 2021 foi o culminar de uma fase do projecto, pois a meta principal passa pelos Reds serem a franquia-referência dentro da Austrália e uma das principais do Hemisfério Sul, seja a nível da qualidade dos jogadores, como do staff técnico (olhando para os Crusaders, foi no departamento de treinadores que se começou a formar a hegemonia) ou de servirem de base para os Wallabies de Dave Rennie.

Rugby rápido e divertido, pulsado por processos de jogo incisivos e dinâmicos, em que os 8 avançados não se imiscuem de participar na criação de jogadas ou combinações, assumindo os 3/4’s também o papel de excelentes defesas (Hunter Paisami, Filipo Daugunu e James O’Connor por exemplo) na arte de placar ou de aplicar a expansão da rede de defesa. Os saders são “penta” campeões, e dominam as atenções dos fãs de rugby, mas os Reds começam a ser vistos como um “perigo” em termos do rugby contínuo e rápido, como se viu em 2021.

 

MELHOR JOGADOR: DAMIAN MCKENZIE (CHIEFS)

Foi, talvez, o prémio mais difícil de escolher, não por não sabermos quem o merecia, mas pelo facto de termos 4 jogadores com os méritos individuais necessários para lutar por este “troféu”. A nossa shortlist para o MVP da temporada ficou em Codie Taylor (7 ensaios e detentor de duas prestações de uma classe suprema), Fraser McReight (é um dos melhores asas do Hemisfério Sul neste momento), Richie Mo’unga (a exibição na final foi uma demonstração do que consegue fazer) e Damian McKenzie, com qualquer um destes a ter sido autor de pelo menos uma exibição decisiva para ajudar a sua equipa a chegar à vitória, seja num jogo em particular ou na decisão final de campeão.

Mas, como o título revela, o escolhido foi Damian McKenzie, o defesa/abertura dos Waikato Chiefs, melhor marcador de pontos do Super Rugby Aotearoa com cerca de 111 (James O’Connor chegou aos 124 no SR AU). Os números finais do yellow flash foram simplesmente sensacionais, como podem ver no tweet em baixo. Mas qual foi a influência do radiante nº15 na manobra de jogo dos finalistas do Super Rugby Aotearoa 2021? McKenzie conferiu sentido quando apostavam no rugby expansão, aparecendo sempre velozmente na cara da defesa para ser ele próprio a tentar a perfuração e potencial quebra-de-linha, ou para desencadear uma jogada de alto desequilíbrio, como se viu repetidamente durante toda a campanha dos Chiefs nesta temporada, sendo uma constante ameaça no jogo espaço interior ou exterior.

A excelência nos pontapés aos postes (84% de eficácia) garantiu, pelo menos, 5 vitórias à sua franquia, voltando a merecer a designação de clutch (jogador-decisivo-fulcral) nº1 do rugby neozelandês, e é novamente um dos destaques do Hemisfério Sul neste momento, tendo os olhos postos na camisola 15 dos All Blacks.

MELHOR TREINADOR: CLAYTON MCMILLAN (CHIEFS)

Brad Thorn e Scott Roberston são os treinadores campeões de 2021 e merecem todos os elogios possíveis pelo imenso e espectacular trabalho efectuado não só nesta temporada, como nas anteriores. Porém, o coach do ano vai para Clayton McMillan, que foi capaz de levar os Chiefs à final do Super Rugby Aotearoa quando poucos esperavam por tal façanha, confirmando o sucesso já conquistado como técnico dos Bay of Plenty e Maori All Blacks.

A franquia de Waikato/Hamilton passou para as mãos de McMillan em 2021, a pedido de Warren Gatland que assumiu os British and Irish Lions para nova campanha, que depois de um 2020 desapontante (muito boa campanha em 2020 no Super Rugby geral para depois se seguir um Aotearoa sem qualquer vitória somada) foram levantadas dúvidas em relação à qualidade e valência do plantel dos Chiefs, com a maioria das personalidades afectas ao rugby a colocarem-nos como 4º/5º classificados para esta temporada que findou há poucos dias.

8 jogos depois – estamos a falar só da fase-regular – Clayton McMillan e os seus Chiefs foram capazes de não só ganhar o seu primeiro jogo no Aotearoa, como garantiram a qualificação para a final depois de terem derrotado os Crusaders pelo caminho, impondo uma sequência de cinco vitórias consecutivas e um estilo de jogo carregado de preciosismos técnicos, seja pelas arrancadas de Damian McKenzie, Etene Nanai-Seturo ou Shaun Stevenson ou pela inteligência física de Pit Gus Sowakula, Luke Jacobson (voltou a estar em grande depois de dois anos de várias lesões) ou Mitchell Brown, e não resistem quaisquer dúvidas do impacto do treinador para este sucesso em 2021.

Se for apontado o “dedo” na questão de terem ganho diversos jogos aos 80 minutos, a verdade é que o facto de terem conseguido conquistar os 4 pontos quando tudo parecia dizer o contrário, é a clara demonstração de que esta “sorte” só aconteceu através de um esforço e trabalho profundo no aspecto táctico e técnico, de um injectar de força na confiança e no acreditar próprio dos jogadores e de saberem gerir as emoções nos momentos mais cruciais da época.

MELHOR MOMENTO: DAMIAN MCKENZIE IMPÕE A 1ª DERROTA AOS CRUSADERS / O’CONNOR PARA A VITÓRIA

É praticamente impossível escolher qual dos dois momentos contados no título foi o melhor, pois fez parte da sequência de vitórias que colocaria os Chiefs na final do Super Rugby Aotearoa assim como impôs a primeira derrota aos Crusaders na temporada, enquanto o outro foi aquele em que num instante o título do Super Rugby AU ficou decidido, ocorrido já na bola de jogo e muito para lá dos 80 minutos. Para que possamos escolher um, vamos desmontar ambos e perceber o seu contexto, começando pelo do Chiefs.

O relógio batia nos 77 minutos quando Damian McKenzie recebeu ordem para chutar aos postes e garantir uma vantagem de 1 ponto, caso a bola entrasse, ficando 3 minutos por se jogar. McKenzie olhou, chutou e a bola desenhou a linha certa para oferecer os 3 pontos da reviravolta. Dentro desses 180 segundos finais, os Chiefs estiveram a defender durante 2 minutos consecutivos, aguentado as constantes vagas de Crusaders, que queriam arranjar forma de garantir um ensaio ou posição para Mo’unga optar pelo drop, elevando os nervos para um patamar que ao mesmo tempo é desejado e indesejado pelos adeptos quer de um lado ou do outro. Aos 79:05, um 2ª linha com um capacete vermelho com a inscrição “Mum” (Mãe) na frente atirou-se ao breakdown e arrancou uma penalidade que lançou os Chiefs num alvoroço louco e os Crusaders para um capitan referral (desafio do capitão), que acabou por resultar em nada… fim de jogo, início de festa e o momento de certeza para os homens de McMillan na busca de um objectivo que chegaria semanas depois.

Mas terá sido o melhor? Bem, olhemos então para o dos Queensland Reds. Fase final do jogo, e depois de uma recuperação de bola aos 78 minutos (um erro gritante da avançado dos Brumbies), os Reds acamparam dentro dos 10 metros defensivos da franquia de Canberra, na busca de chegar ao ensaio (3 pontos não garantiam a reviravolta no encontro). Seguiram-se 8 penalidades, três formações-ordenadas e várias discussões entre as três equipas, sem que a equipa da casa perdesse o foco no objectivo: ganhar. Depois de terem “forçado” dois cartões amarelos aos Brumbies, os Reds desistiram de ir às fases-estáticas, arriscando agora tudo em seguir rápido e construir fases até abrir uma brecha e chegar ao ensaio. Taniela Tupou voluntariou-se, carregou e caiu a escassos milímetros da linha de ensaio… confusão instalada e de repente, Kalani Thomas arranca a bola do chão e atira um passe bem medido para um lançado James O’Connor que se atira para a vitória e campeonato, quando o cronómetro estava nos 86 minutos.

Olhando para estes dois grandes momentos, é, como sabíamos de antemão, impossível de escolher só um e colocamos os dois como merecedor deste prémio!

MELHOR CONTRATAÇÃO: BILLY HARMON (HIGHLANDERS)

Domingo Miotti realizou uma boa época ao pontapé pela Western Force – Tevita Kuridrani também se apresentou a bom nível em Perth -, Bryn Gatland apareceu a espaços nos Chiefs (boa exibição na final), Joe Powell foi um dos poucos pontos positivos dos Rebels, existindo outros vários reforços que se mostraram a bom ou alto nível nesta temporada do Aotearoa e AU, sem que fossem destaque constante durante o decurso da época. Por isso a escolha recaiu no asa dos Highlanders, Billy Harmon, contratado aos Crusaders em 2020.

Porquê escolhemos o internacional pelos Maori All Blacks? No decorrer de toda a época, o 3ª linha de 26 anos foi titular em seis jogos (entrou como suplente em outros dois encontros), completou 70 placagens, falhando outras 7 tentativas o que resulta em 90% de eficácia, e ainda arrancou 5 turnovers, dois deles realizados na mítica vitória frente aos Crusaders em meados de Abril, e terminou a época com só 2 penalidades cometidas.

No ataque, conquistou 100 metros, marcou um ensaio, penetrou a linha com sucesso por 3 ocasiões e bateu 9 defesas, demonstrando ser um asa mais de trabalho “pesado”, com capacidade para apagar “fogos” de forma célere e detentor de uma fisicalidade agressiva e que combinou bem com Shannon Frizell e Kazuki Himeno. Uma contratação acertada e que acabou por ajudar os Highlanders, já que o suposto dono da camisola 7, Liam Squire, sofreu uma lesão logo ao início da época.