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Texto e análise por: Daniel Venturole

 

São José e Desterro venceram a segunda edição do BR Sevens (Brasil Sevens) nesse fim de semana em um campeonato com equipes de diversas regiões do Brasil, grandes jogos, e ótimas surpresas.

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O Portal do Rugby cobriu as mais de 20 horas de evento. Com a proximidade dos Jogos Olímpicos, e o apoio crescendo na modalidade em todos os níveis, este artigo não deixa de ser um panorama do que podemos esperar para o futuro próximo no Seven-a-side.

 

bh comemora

Rio de Janeiro e Minas Gerais. Situações opostas no masculino e feminino


Os times masculinos do Rio de Janeiro e Minas Gerais acabaram nas quatro últimas posições do BR Sevens, uma situação que não condiz com a tradição de longa data do Varginha e Niterói, e pegou de surpresa quem esperava melhor sorte para os novatos do Taurus, que bateram o sempre favorito time do estado e o Rio Rugby, que tem jogadores de grande qualidade em seu plantel, e terminou entre os oito melhores em 2011, sem grande alterações no seu grupo.

 

No feminino no entanto, os estados só tem o que comemorar. As meninas do Niterói fizeram bonito mais uma vez e confirmaram a condição de ser uma grandes forças do Rugby feminino, fazendo jogos muito duros e caindo apenas diante do Desterro, que viria a se sagrar campeão, e diante do SPAC na decisão de terceiro lugar. O Portal do Rugby vem ressaltando o crescimento do BHRugby feminino nos últimos dois anos, com um grupo cada vez mais forte e técnico, que encontrou o seu ápice no BR Sevens, terminando na sexta posição, o que classificou a equipe direto para o Super Sevens 2013, substituindo o São José. Sem dúvida um time a ser observado mais de perto nos próximos campeonatos.

 

desterro campeão

A consolidação do Sul

A região sul do Brasil já apresenta há algum tempo um Seven-a-side de qualidade tanto no masculino (com o Desterro sempre forte e a base do Curitiba fazendo bonito no adulto) quanto no feminino, sempre associado ao time catarinense.

A novidade que 2013 nos trouxe foi a maturidade do Charrua, depois de anos apresentando um bom time com jogadoras experientes (liderada pela guerreira Lucia Ferreira, Roberta Gondim e Juliana Menezes) que sempre caíam nos momentos decisivos, mas que finalmente alcançou a merecida final do BR Sevens. A marca registrada do time era o físico, com jogadoras de porte acima da média nacional (olho nelas CBRu!), mas agora varia bem o seu jogo, complicando a defesa. Como novos talentos surgindo em Porto Alegre, é de se esperar que o Charrua chegue a cada vez mais decisões.

O Desterro, mesmo com desfalques importantes, como a capitã Julia Sardá, Beatriz Pereira e Maira Magdaleno jogou foi superior sobre seus adversário em todos os aspectos. Sofreu apenas três tries nos dois dias de jogos, e viu a alma guerreira de Vanessa Chagas atuando de nariz quebrado na final. Possui um time muito equilibrado, difícil de apontar uma jogadora melhor em um grupo tão bom em cada uma das posições, mas a presidente do clube, a experiente Mika e Amanda, grande finalizadora na ponta, se sobressaíram. Título mais do que merecido.

Fica também o destaque para a base do Curitiba feminino. As Touritas surpreenderam a equipe do Portal do Rugby (que desconhecia grande parte do grupo) e se sagrou campeã junior. Quando se juntarem a jogadoras de qualidade  como a abertura Gabriela Pelegrini no adulto, vão dar trabalho.

No masculino, a novidade ficou por conta do BC Rugby, que venceu o poderoso Curitiba nas fase de grupos apostando em um jogo mais lento (mas caiu diante dos Touros na fase final), e terminou na ótima sétima posição. Com certeza veremos mais do time de Balneário Camboriú.

Já o Farrapos pode ser considerado uma das sensações do campeonato. O time, comandado pelo experiente Carlitos Baldassari contou com pelo menos três forwards de um dos packs mais fortes do Brasil, mas que provaram seu valor no Seven-a-side, com destaque para Guilherme Coghetto e uma revelação nos backs, o jovem Lucas Mariuzza (que é colaborador do Portal do Rugby), mostrando muita maturidade diante tradicionais adversários como o SPAC e Desterro.  O time terminou na quinta posição, mesma posição que alcançaram no Super 10, ou seja, é hoje a quinta força do Rugby nacional.

 

Formato de 18 equipes é o melhor?

Algo que me chamou atenção nessa edição foi o formato com 18 equipes divididas em seis grupos, classificando os melhores de cada grupo mais os dois melhores segundos colocados. Aparentemente a fórmula é boa (a série Mundial feminina é parecida), mas esconde um problema. Em grupos mais difíceis (como o caso de Pasteur/Desterro e Jacareí/Bandeirantes) com as equipes realizando apenas dois jogos cada (na série Mundial feminina, as equipes realizam 3 jogos cada), uma equipe que teria condições de lutar pelo título pode ser eliminada logo de cara, pois só terá mais um jogo para tirar o saldo negativo. Ainda acho que o formato da Série Mundial masculina, com 16 times divididos em 4 grupos, passando adiante os dois melhores, a melhor opção.

 

pedro rosa

Torcida zero – Embu das Artes é o melhor local para essa competição?

Assim como no Brasileiro Junior de Sevens, realizado uma semana antes no mesmo local, as “torcidas” presentes nos estádio eram compostas em sua maioria pelos próprios jogadores, descansando entre uma partida e outra (no campeonato Junior a presença dos pais dos jogadores foi mais marcante). O fato das finais serem televisionadas não deve ter sido um fator que afastou as pessoas, já que as finais do Super 10 de XV sofreram do mesmo problema.

Provavelmente a distância para Embu das Artes (cerca de 30Km de São Paulo em estrada com pedágio) tenha sido mais determinante. Ainda que não exija um deslocamento tão grande, certamente pode desencorajar as pessoas a passar o dia todo em um local com pouca estrutura. A área VIP destinada a receber representantes de patrocinadores, era acanhada e com infra estrutura muito básica. A CBRu pode fazer melhor, como já fez ao mandar o jogo das eliminatórias no estádio do Nacional na capital paulista. Obviamente não estamos considerando os custos envolvidos em cada um dos locais, mas se o objetivo era atrair a torcida (houve até uma campanha com uma famosa cadeia de restaurantes para promover o evento, iniciativa muito legal e que merece ser repetida) a entidade errou.

Por falar nisso, quem ganhou os 10 vouchers da campanha foi a torcida do Bandeirantes, sem dúvida nenhuma a mais animada durante toda competição, estão de parabéns.

 

É hora de considerar o porte físico no feminino? 

Acho que o grupo atual das Amazonas tem muita qualidade, sou fã de várias jogadoras que hoje defendem a amarelinha. Mas penso jogadoras como as do Charrua podem ser integradas ao projeto de alto rendimento (que possui cerca de trinta jogadoras divididos em 3 grupos, o principal, um intermediário e outro para quem está começando no alto rendimento), pois possuem um porte físico bem parecido com a de inglesas, holandesas, neozelandesas, australianas, etc. O Rugby feminino é tão físico quanto o masculino, não se enganem quem acha o contrário, e isso faz uma diferença enorme. No masculino o físico é um dos itens considerados na seleção de jogadores, não deve ser diferente no feminino.

É hora de colocar mais jogadoras à prova do Alto Rendimento.