Tempo de leitura: 3 minutos

Nas semifinais do Super 8, a partida entre São José e SPAC produziu um fato lastimável. No minuto 12 do jogo, Palle Thomsen, hooker do SPAC e verdadeiro ícone do rugby nacional, jogando em alto nível aos 41 anos de idade, saiu lesionado de campo e passou por uma cirurgia delicada por ruptura do assoalho orbital.

 

O lance está sendo analisado pela CBRu, que, como apuramos, terá uma definição sobre o caso antes da final ocorrer. A entidade teve acesso a imagens não veiculadas no ar e ainda não chegou a uma decisão. A lesão de Palle foi nas redes sociais atribuída a um soco do pilar joseense Mariano, porém as imagens não deixam claro se realmente foi o golpe de Mariano que resultou na lesão de Palle e uma apuração junto dos envolvidos no lance até agora não resultou em uma conclusão de nossa parte. Em conversa com o pilar Lucas Abud (SPAC) que formou ao lado de Palle, este afirmou que não viu Mariano agredir seu companheiro de equipe.

- Continua depois da publicidade -

 

O lance foi visto durante a transmissão do SPORTV e pode ser revisto pelo YouTube da CBRu (12’06”):

Muito pode ser discutido sobre o lance e possíveis punições. Sem entrar no julgamento sobre o atleta agressor, sobre se a agressão fora um revide a uma agressão prévia vinda do SPAC, sobre o que a arbitragem ou o TJD deviam ou devem fazer, o caso em questão leva a um questionamento maior: o que pode ser feito para que isso não se repita?

 

E a pergunta é clara, pois se hoje o protagonismo desse lance lamentável veio de São José, com ou sem culpa do SPAC, e que foge da conduta que se espera de gentlemen do rugby, amanhã episódio semelhante pode acontecer – como já outras vezes aconteceu – com protagonistas de outros clubes, e, pior, sem o vídeo para servir de prova para condenação. No Super 8, uma agressão é facilmente punível. Em um campeonato menor, em um amistoso, não.

 

Clamar por uma punição exemplar, neste caso, é uma solução necessária, mas também superficial, pois a lição aprendida pode ser: não agrida quando há vídeo. Um atleta punido no Super 8 pode mudar a sua conduta no Super 8, mas, e quando estiver no Campeonato Paulista, por exemplo, sem recurso do vídeo?

 

A lição duradoura não pode ser dada pelo TJD, pela CBRu, pelas federações ou pelos árbitros. Quem muda a conduta de um atleta em campo de verdade é seu treinador, que pode lhe dar a punição mais efetiva – ficar de fora de uma partida. Quem também pode mudar a condução é o capitão, que é a reserva moral de uma equipe, que deve liderar pelo exemplo e cobrar os demais atletas. Mas, qualquer atleta da equipe também pode ajudar a mudar, chamando seu amigo (pois o rugby produz mais que colegas de equipe, cria laços de amizade) e lhe mostrando que ele errou, que deveria se retratar.

 

No rugby, muitas vezes esquecemos de ter esse tipo de cobrança interna. A tendência para as equipes é se autopreservarem. O atleta aprende desde cedo a defender seu companheiro de time, mas sem senso crítico. Em nome do coletivo, do grupo, todos abaixam a cabeça, para não haver “racha” na filosofia da equipe, que pode prejudicar o rendimento. Em nome da coesão do grupo, esquece-se de primar pelos valores, e que os valores devem ser levados na relação com o adversário em campo. A solução mais simples costuma ser dizer que o outro time faz igual, que isso é Rugby, que acontece no Mundial e nos maiores campeonatos internacionais. Isso justifica? Isso torna o delito correto? Inversamente, até onde vai o limite do que é uma agressão condenável no rugby? Afinal, quem já jogou na primeira linha sabe que muita coisa acontece longe dos olhos da arbitragem. O que em um momento parece uma agressão gratuita logo pode ficar claro que foi um revide, e cria-se uma bola de neve sobre quem começou o atrito. E por que é tão irreal (ou ingênuo) pensar em um jogo sem que haja as famosas trocas de socos às escondidas em um scrum por exemplo?

 

Falamos que o rugby é uma família e que há respeito com o outro time porque todos somos irmãos de rugby. Mas, será que praticamos isso de verdade? Não é a atitude de um atleta do São José que está em jogo. Nem mesmo o rugby brasileiro. É muito maior que isso.

 

Desse e de outros episódios não esperamos execração pública de ninguém. Apenas esperamos que haja respeito a todos os envolvidos e autocrítica de quem errou em querer mudar.

 

Ao Palle, ficam nossos votos de melhoras, pois fez e faz muito pelo rugby, sempre.

23 COMENTÁRIOS

  1. Palle querido, que sua recuperação não seja tão dolorosa e o mais rápida possível, afinal vc é pai de família e sabemos bem das consequencias em estar afastado.
    Que sinceramente o jogador seja punido corretamente e o mais importante e que não vi até agora, que o São José ao menos mande seu pesar à família do Palle, jogador tradicional, com 20 anos de rugby e merece um minimo de satisfação do time adversário.

  2. Dá pra ver claramente o soco que o pilar da no jogador do SPAC. Reparem no video, tempo 12:06, do lado do SPAC, aquele jogador do SJRC, sem número no uniforme, mas que parece muito com o pilar Mariano “Brujo” Paes (http://www.saojoserugby.com.br/atletas/mariano-r-paez), que está tumultuando o scrum, ali do lado do SPAC, dá um baita soco “gancho” em alguém que ainda está dentro do scrum. Instantes depois, aparece na imagem o jogador do SPAC caíndo.

    https://youtu.be/j6-OaCn2_3g?t=12m4s

  3. O nosso esporte ja eh visto como violento por aqueles que nao o conhecem, so quem joga sabe que eh um jogo duro mais leal. O que nao podemos eh deixar os agressores impune. Na Nova Zelandia a alguns meses atras um garoto de 17 anos foi EXCLUIDO do rugby para sua vida toda por agredir um arbitro. Nao tem desculpa, ele nao quebrou o soquete do olho do arbitro, nao tem desculpa, ele tem so 17 anos ainda eh um moleque, nao tem desculpa, o arbitro marcou um lance errado e prejudicou o time dele, nao tem desculpa. O ponta de Samoa pegou 6 jogos de punicao por uma joelhada no jogador do Japao. Se os opressores nao forem punidos adequadamente entao nao ha motivos para termos penalidades e regras. Um jogador que joga a tempo suficiente para chegar a uma final de campeonato Brasileiro e ainda nao aprendeu o codigo de lealdade do rugby nao merece jogar. Eu nao estou condenando o jogador, eu estou pedindo por justica, que o lance seja apurado e se constatado como jogada desleal que ele seje punido adequadamente. Nao foi a primeira vez nem a ultima que isso aconteceu mais que sirva de licao e mostre que isso nao pode ser tolerado. Ao Palle e sua familia eu so posso desejar muita sorte e uma boa recuperacao. Ao jogador do SJ que ele respeite espirito do rugby, assuma a culpa e aceite a punicao se ele cometeu a penalidade ou que ele seje absolvido se ele esta sendo acusado incorretamente.

  4. Gostaria de esclarecer que quem julgará o processo em primeira instância será uma das duas Comissões Disciplinares do STJDRu (Superior Tribunal de Justiça Desportiva para o Rugby), pois o Super 8 é um Campeonato Brasileiro e portanto na jurisdição desportiva correspondente à abrangência territorial da CBRu. O TJDRu-SP, somente atua na jurisdição desportiva correspondente a FPR (Federação Paulista de Rugby).

  5. Achei muito boa a opinião na matéria publicada, não é com punição exemplar que isto se resolve, devemos trabalhar mais na educação e nos valores.
    Lamento muito pelo Palle, mesmo.

    Já fiquei um ano fora dos campos pela mesmo tipo de agressão desleal e mesma fratura, já fui muito pisado, socado e até mordido sem motivo (também fui com motivo, mas é uma lei “não escrita” do jogo). Nunca fui um jogador violento, e já “ajusticei” também, em alguns casos me arrependendo logo depois do acontecido e até pedindo desculpas.
    Quem joga ou já jogou sabe que este tipo de situação é normal, e em muitos casos, aceita. Se tem alguns anos de rugby e nunca deu um soco ou pisou em alguém meus parabéns.
    As vezes só se “marca” com um soco leve quando alguém está em off-side ou com a mão na bola, e só fica mais “forte” quando a situação se mantém. Não sei se o Palle estava em offside, se estava mordendo, se vinham brigando desde o inicio do jogo. O fato de ser um jogador leal não o isenta e qqer uma destas situações.

    Não conheço o cara que deu o soco nem seu histórico, não vou dar aqui um juizo de valor e muito menos defender ele, só acho que as opiniões estão muito exacerbadas e emocionais.

  6. Realmente é visível o soco dado pelo Pilar.
    Sou radical nesse tema, para mim o Jogador do S. José deveria ser banido.
    Teve a postura que “se acha macho” ao se levantaar e estufar o peito, não passa de um covarde.
    Ações como esta precisam ser execradas do rugby, estamos em uma época de ascenção do esporte no Brasil e não pode passar em branco.
    O capitão treinador e o time como um todo deveriam ter vergonha e hombridade suficiente para tirar esse sujeito do time.

  7. Discordo que seja necessário punição exemplar, punição deve servir de “exemplo” pra nada.

    Punir, como o próprio autor assevera, não garante que eventos similares ocorram, o que deve haver é um maior acompanhamento pela CBRu, sobre os clubes, e dos clubes sobre os treinadores, e dos treinadores sobre os atletas, buscando EVITAR e PREVINIR esse tipo de situação, e não se preocupar exclusivamente no que fazer quando esse tipo de infelicidade acontece.

  8. Simples: Qualquer jogador inscrito em um campeonato (ou cluble) assina um termo de responsabilidade, com CPF e tudo mais, onde qualquer agressão desleal será julgada e punida com multa de R$1.000,00 (exemplo) e ainda o agressor terá que pagar a conta do hospital do agredido. Além é claro de tudo o que foi citado no texto. Aqui no Brasil é assim, cavalheirismo e honra são raros, tem que mexer no bolso dos valentões.

  9. Um ato covarde! Quem conhece um pouco o Palle Grandjean Thomsen (agredido) sabe que ele é uma das grandes referências que temos no rugby brasileiro, um jogador sensacional, um líder nato, um professor dentro e fora do campo, sempre com conduta exemplar.

    Todos temos atividades profissionais extra-campo, além de termos família e outros compromissos que um ato desse resulta em diversos problemas fora de campo, temos que lembrar que o rugby aqui ainda é amador, mas deve punir com profissionalismo o jogador que agrediu tão covardemente.

  10. Amigos, vou contar dois acontecimentos do nosso rugby de bastante tempo atrás, Tambem eu podia contar de outros acontecimentos sobre a falta de respeito para arbitrio. Neste casos sobre arbitragem as pessoas culpadas hoje em dia são pessoas chaves no rugby Paulista e Brasileira. Mas agora a indisciplina, no meiado da década dos 90 do século p.p eu estava assistindo etapa do famoso 7s do SPAC. Assim que terminou um scrum e o árbitro acompanhou a jogada que rapidamente aconteceu, do lateral eu vi um piilar em pé após o scrum socar pilar adversário, não uma vez mas várias. Naquele evento eu não estava trabalhando como árbitro mas fiquei tão revoltado que usei uma súmula e relatei o caso e enviei-a a ABR (ex-CRBu). O covarde que socava o adversário indefesa não foi punido. E como um ps querem saber quem era o vítima daquela agressão? Foi o presidente atual do nosso Federação Sami Arap. Outra vez, presenciei um atleta pisar o rosto de adversário preso na beira de um ruck. Assim que a chuteira do agressor covarde passou pela face do adversáro vi o sangue aparecer no rosto do vítima. Fiquei furioso e falei para o Presidente do clube do agressor: ” Vocês deveriam suspender este seu atleta.” Resposta que ouvi? “Se a gente suspendê-lo vai dar vantagem aos adversários. E ainda hoje as barbaridades acontecem com alguns atletas.