Foto: Fiji Rugby Union

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ARTIGO OPINATIVO – Já está terminado o 2º fim de semana dos Internacionais de Verão 2021, com Irlanda e Inglaterra a dominarem na recepção aos EUA e Canadá, enquanto a Nova Zelândia e Fiji proporcionaram o melhor encontro desta jornada, sem esquecer o empate muito físico entre País de Gales e Argentina.

 

ALL BLACKS E FIJI, PODEM FAZER ISTO ANUALMENTE?

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Emoção ao seu expoente máximo, rugby total exacerbado a um patamar alucinante e uma ode aos skills e estratégia de risco no ataque (e defesa) que ofereceram um jogo apaixonante para todos. Este foi o retrato do Nova Zelândia-Fiji, o 2º encontro da Steinlager Series 2021, ganho pelos All Blacks por 57-23, mas que foi discutido a taco-e-taco até aos 65 minutos, altura que a selecção treinada por Ian Foster subiu de velocidade e acabou por dilatar o placard, não contando este a competitividade dos Flying Fijians.

Como esperado, a melhor selecção de entre as três das Ilhas do Pacífico, entrou em campo com a vontade de provar a sua qualidade e deixar o alerta de que continuam a ser uma ameaça incessante, apostada em procurar gerar problemas no breakdown para depois acelerar no contra-ataque até chegar a um ponto avançado do terreno adversário ou, de forma inesperada, ser eficiente numa fase-estática, conseguindo uma plataforma de ataque estável e de grande ameaça para quem defende, tudo isto vislumbrado neste encontro jogado em Dunedin.

Note-se que o primeiro dos ensaios das Fiji foi a partir de um maul dinâmico, empurrando os seus congéneres neozelandeses para trás até Albert Tuisue ter espaço suficiente para mergulhar e fazer os 5 pontos, levando ao público ao rubro. A Nova Zelândia que saiu a ganhar confortavelmente na primeira-parte, apresentou um jogo fluído e difícil de interceptar, com uma capacidade maleável para transportar a oval e constantemente a transmitir até onde queriam, resultando naquelas jogadas esperadas por aquela que é uma das melhores selecções à escala global.

Porém, e apesar da vitória aparentemente “gorda” , os All Blacks expuseram dois problemas preocupantes que foram bem explorados pelas Fiji: o apoio lento ou caótico ao portador da bola; e alguns excessos individuais que tiraram pontos. As Fiji foram capazes de efectuar 6 turnovers/penalidades a partir de um ruck neozelandês, atacando com qualidade a bola no chão, castigando a falta de apoio ao portador da bola, o que impôs algum nervosismo aos All Blacks em determinados momentos.

Terá isto advindo da vontade da Nova Zelândia ter mais jogadores preparados para receber a oval no jogo ao largo, arriscando assim um apoio menos concorrido ao portador de bola? Ou a execução de garantir a bola no ruck está com falências que advêm de algum problema inerente aos treinos? São questões que têm sido levantadas desde o Mundial 2019, atingindo o seu pico máximo na derrota com a Argentina em Novembro de 2020, encontro em que os All Blacks somaram 8 penalidades nesse sector, estando assim longe de o ter apurado nesta nova temporada internacional.

O “caos” nos rucks e a excelente técnica de ataque à bola no chão por parte das Fiji (mérito de Vern Cotter, o seleccionador) permitiu a estes terem uma posse de bola mais constante e que significou boas jogadas, rugby corrido e pontos, contribuindo para o drama que se sentiu até aos 65′, altura em que os All Blacks mantiveram/subiram os índices físicos, enquanto os fijianos derraparam e foram consentindo erros.

Excelente jogo, bons ensaios e uma promessa de que uma saga de jogos entre estas selecções da Oceana tem a capacidade de impulsionar a modalidade nas nações ditas de menor dimensão, entusiasmando o público mundial!

 

DRAGÕES E PUMAS ANULAM-SE

A Argentina conquistou um empate interessante no Principality Stadium em Cardiff, isto e apesar dos Pumas terem apresentado praticamente o seu melhor XV (Agustín Creevy deixou de contar para Mario Ledesma, desde 2020 e, ao que tudo indica, não figurará mais nas convocatórias) enquanto os galeses de Wayne Pivac continuam no processo de lançar novas referências, realizar testes e até galardoar excelentes épocas a jogadores que já se esperavam afastados das chamadas à selecção, como foi o caso de Josh Turnbull (7 placagens e 1 turnover vindo do banco de suplentes).

A igualdade a 20 pontos levantou algumas questões para as duas equipas, entre elas: porque é que a Argentina continua com dificuldades em fazer render no ataque, com só 3 quebras-de-linha e 13 defesas batidos? E porquê a insistência numa luta de bravura quando se pede momentos de frieza e de calculismo, evitando cair num desvario emocional problemático em termos de disciplina, como se viram as 4 penalidades consecutivas que acabaram por “ofertar” o empate aos galeses? Do lado do País de Gales, as dúvidas vão para a capacidade conclusão/finalização de certas combinações ofensivas quando os jogadores das linhas atrasadas mais emblemáticos não estão presentes, como George North, Josh Adams, Liam Williams, Dan Biggar ou Gareth Davies?

No caso dos argentinos, a procura de guerrear e contestar cada duelo físico parece ser uma obrigação de modo a criar algum tipo de instabilidade emocional ao adversário, invocando nomes como Pablo Matera, Marcus Kremer, Julio Montoya ou Tomas Cubelli para se apresentarem como os principais catalisadores deste comportamento. Todavia, esta subida de tom físico e oral pode ter os efeitos contrários em determinados momentos, como foi o caso do somatório de penalidades quando não havia necessidade de contestar no chão ou de entrar com uma placagem menos “segura” e de mais adornada para o choque total (o vermelho de Juan Mallía foi resultado de uma placagem alta, ficando a nota de que o árbitro exagerou algo na decisão), algo que o País de Gales aproveitou para seu benefício nos últimos 15 minutos.

Já o País de Gales falhou na concentração quando esteve perto do ensaio por duas ocasiões, cometendo demasiados erros no jogo à mão (13 erros próprios e 8 penalidades quando estavam no ataque), deitando tudo a perder quando se pedia eficácia, frieza e letalidade. Felizmente, Tomos Williams, uma das estrelas em ascensão dos dragões vermelhos, apareceu para resgatar um ensaio que ofereceu o empate quando faltavam 8 minutos para o fim de jogo, mas não é possível deixar de questionar que os campeões em título das Seis Nações revelam uma bipolaridade “complicada” nos termos do domínio de jogo.

20-20 e veremos no próximo sábado se teremos vencedor desta série de dois jogos entre Pumas e Dragões…

 

RONAN KELLEHER É O PRÓXIMO GRANDE 2 MUNDIAL?

Tiremos o facto que o talonador marcou quatro ensaios (um marco também alcançado por Dane Coles no mesmo fim-de-semana) neste encontro ante os Estados Unidos da América, que terminou num pesado 71-10, para perceber se tem ou não influência no bloco de avançados e, também, na forma de jogar desta Irlanda. Os dados estatísticos revelam: 60 metros conquistados, 1 quebra-de-linha, 4 defesas batidos, 4 tackle-busts, 4 placagens efectivas, 12 bolas introduzidas no alinhamento (100% de eficácia), um turnover e zero penalidades.

Ora, e fora dos números? Bem, Ronan Kelleher possui aquela capacidade de aparecer solto, junto das unidades de 3/4’s quando se dá um pico de aceleração da posse de bola, assumindo-se como um potencial portador de rápida explosão e que consegue tirar bons dividendos no contacto ou no explorar dos espaços. Por outro lado, é um daqueles avançados que tem o dom de saber trabalhar bem encima da linha-de-vantagem entrando em força nos piques, batendo e continuando a manter o “motor” a trabalhar, o que vale a conquista de pelo menos mais uns quantos centímetros, com esta técnica de choque e tração a poder valer a vantagem suficiente para se seguir uma jogada perigosa.

A Irlanda teve um adversário menos competente, verdade, que caiu de qualidade e rendimento do fim-de-semana passado para este, o que não ajuda a perceber se Ronan Kelleher realizou uma grande prestação por total mérito seu ou porque os Estados Unidos de América não tiveram a capacidade para amparar uma Irlanda motivada e mais alegre. No entanto, o talonador irlandês já tinha realizado umas Seis Nações em grande estilo, ao ponto que Warren Gatland convidou-o a participar nos primeiros treinos dos British and Irish Lions na ilha de Jersey, oferecendo pistas em relação à qualidade e do futuro do jogador do Leinster, que está na senda de se tornar uma referência não só da franquia irlandesa como também do seu país.

Os últimos rumores apontam para que seja incluído no grupo de trabalho dos Lions nesta semana, dando a indicação que poderemos ainda ter uma surpresa extraordinária nos próximos dias, esta não por via de lesão de alguém, mas por opção da equipa técnica da selecção britânica-irlandesa.

 

NÚMEROS E DADOS DA 1ª RONDA

Maior marcador de pontos (jogador): Dane Coles (Nova Zelândia) e Rónan Kelleher (Irlanda) – 20 pontos (4 ensaios)
Maior marcador de pontos (equipa): Irlanda – 71 pontos
Maior marcador de ensaios (jogador): Dane Coles (Nova Zelândia) e Rónan Kelleher (Irlanda) – 4 ensaios
Maior marcador de ensaios (equipa): Irlanda e Inglaterra – 10 ensaios
Jogador com melhores números ofensivos: Adam Radwan (Inglaterra) – 174 metros conquistados, 3 ensaios, 5 quebras-de-linha, 11 defesas batidos e 5 tackle-busts