Foto: Springboks

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ARTIGO OPINATIVO – Decisivo, impróprio para cardíacos e, possivelmente, irá atingir proporções titânicas quase cósmicas tanto pelo barulho que se gerou nas últimas semanas fora de campo, como pelo facto de quem conquistar uma vitória (nem que seja por um ponto) será coroado campeão destas series entre British and Irish Lions e Springboks.

Ao fim de dois jogos mal jogados no sentido de rugby contínuo/expansivo, mas de grande impacto físico e de mestria táctica ao nível do esperado, ambas as seleções têm as mesmas probabilidades de ganhar, apesar dos sul-africanos deterem um ligeiro favoritismo em virtude da vitória conquistada no test match n°2 (27-09), não sendo suficiente para lhes entregar por completo a percentagem de domínio.

Neste super terceiro embate, Rassie Erasmus e Warren Gatland efectuaram trocas, por motivos diferentes atenção, já que o selecionador dos Lions trocou, por livre vontade, 6 nomes enquanto o seu homólogo da África do Sul viu-se forçado a substituir os lesionados Faf de Klerk e Pieter-Steph du Toit. No caso dos turistas, a entrada de Liam Williams, Bundee Aki, Ali Price, Wyn Jones e Ken Owens altera alguma coisa na forma de jogar? Bem, vejamos então as possíveis estratégias e a influência das substituições.

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RUSSELL NO BANCO SERVE DE ALGO?

E, ao terceiro dia, Finn Russell acordou… Aliás, terceiro jogo, pois até a semana passada o abertura da Escócia se encontrava limitado por lesão, surgindo agora a partir do banco de suplentes. Mas será a melhor decisão? Porquê manter o 10 mais talentoso dos Lions como suplente? A ideia de Warren Gatland é acelerar a condução de bola a partir dos 25/20 minutos finais, altura em que os seus adversários vão estar mais cansados, apostando no poder de aceleração, criação e imaginação de Finn Russell para criar brechas no compacto sistema defensivo contrário, seja no canal 2 (Aki pode fazer de “aríete” de fixação, para agarrar Lukhanyo Am e um dos asas/2as linhas) ou 3, sem esquecer o capricho do pontapé comprido ou curto-alto com capacidade para destruturar o equilíbrio dos Springboks.

Russell, que não está fisicamente a 100%, pode invariavelmente dar outra elasticidade à posse de bola, criar uma constante surpresa no bloco defensivo contrário e forçar erros em catadupa num período de jogo fulcral para trilhar no caminho da vitória. Contudo, a influência do abertura só poderá ser sentida se os Lions conseguirem estar na frente do resultado no momento da sua entrada ou estar a perder por um máximo de 8 pontos, o que impõe uma (boa) pressão na capacidade de trabalhar e acreditar deste elenco britânico-irlandês.

 

LIAM WILLIAMS OU STUART HOGG?

Porquê trocar o defesa titular até aqui por Liam Williams, que mal jogou nos test matches? Confiança e equilíbrio. Hogg sucumbiu no segundo encontro depois de ter feito uma boa prestação na vitória de há duas semanas, tendo errado em dois departamentos imprescindíveis para os Lions: recepção de pontapés (e contrarresposta) e apoio ao ataque. O escocês pareceu mais pesado, sem poder para mudar dinamismos, de impor uma velocidade maior na perseguição ao pé e alguma instabilidade na recepção dos pontapés da África do Sul, silenciando, assim, boa parte da estratégia de contrarreação dos turistas quando era necessário ter um 15 decidido, confiante e de alta eletricidade. Com Stuart Hogg instável, Gatland não teve solução que não apostar em Liam Williams, atleta que conhece bem da sua passagem pelo País de Gales, sendo um dos nomes mais pedidos dos comentadores e adeptos que acompanham este tour.

Williams tem um poder de recepção de pontapés de excelência, contra-atacando com um pouco mais de rapidez comparado com Stuart Hogg, não se envolvendo, no entanto, no processo de construção de jogo, preferindo estar mais recuado e surgir como uma unidade de penetração rápida em situações de superioridade, ou de rápida manobrabilidade a partir do offload na cara do contacto. Segurança nos pontapés altos, capacidade de colocar a bola no melhor local e eficácia no processamento estratégico, impondo-se quase como uma bússola no guiar o três-de-trás no melhor caminho para colocar pressão no adversário e aproveitá-la para recuperar a oval.

Perante as mudanças na estratégia de jogo dos Lions, Liam Williams faz sentido na lógica do tipo de jogo que Warren Gatland procura, e se estiver ao nível dos últimos anos, será um problema para os Springboks conterem.

QUEM NÃO CAÇÃ COM DU TOIT, CAÇA COM MOSTERT

A lesão do melhor jogador do Mundo em 2019 no encontro anterior deixou um vazio na avançada sul-africana que vai ser preenchido por Franco Mostert, o segunda-linha polivalente, sendo um jogador algo diferente do seu companheiro de equipa. Rassie Erasmus e Jacques Nienaber precisam de ter uma terceira-linha de extrema fisicalidade, principalmente nos processos sem bola, tendo sido nesse sector que parte da vitória dos Springboks foi conquistada, identificando-se excelentes números no apoio ao ruck, na placagem de recurso e no fechar do overlap defensivo, uma missão agora reservada a Mostert.

O segunda/terceira-linha tem sido uma das unidades mais seguras e com melhores exibições nestas series, com 24 placagens (2 falhadas), 2 turnovers e 3 roubos no alinhamento, com a sua participação nesta fase-estática a ser uma das razões pelo qual recuou para a camisola n°7, já que assim os Springboks têm quatro saltadores, contrariando um possível ascendente dos Lions.

Kwagga Smith é um nato destruidor de jogo (incomoda bem nos rucks e sabe paralisar os seus adversários na placagem) e tem truques de handling de um nível mais elevado em comparação com Mostert, mas perde nas fases-estáticas, recepção de pontapé, qualidade no overlap e no trabalho “invisível”.

Boa opção da equipa técnica dos campeões do Mundo… Ou demasiado conservadora?

O‌ 6-2 FICA DE FORA PORQUÊ?

Os Springboks tornaram-se os máximos senhores da estratégia de colocar no banco de suplentes 6 avançados e 2 3/4’s, uma estratégia que é como se fosse um “murro” de grande impacto nos últimos 35 minutos, asfixiando fisicamente qualquer adversário que não saiba jogar longe do contacto (Nova Zelândia por exemplo), e no 2° encontro das Series fez uma diferença brutal quando mais importava. Porém, e apesar do sucesso, Erasmus e Nienaber voltaram à fórmula clássica do 5-3, o que significa perder poder de avançada a partir do banco de suplentes, mas ter alguma margem de recuperação nas linhas atrasadas, com Morné Steyn e Damian Willemse.

‌É um debate complicado e complexo, já que ter uma solução-extra nos avançados iria tirar algum à vontade aos Lions, pela aplicação de uma pressão física constante e interrupta até ao apito final, aquilo que foi uma das chaves-mestras para a conquista do último Campeonato do Mundo. Mas esta opção (ou regressão) é por força das ausências de algumas das principais peças (Du Toit e Vermeulen) ou porque os comandantes dos Springboks têm um feeling que será fundamental ter peças “lá atrás” a mais?

PREVISÕES DE RESULTADOS

Springboks 19-18 British and Irish Lions

Decidido nas penalidades e na disciplina. Os Springboks aguentam uma segunda-parte mais caótica a nível de prever o ataque dos Lions, mas aguentam na defesa, demolindo nas fases-espontâneas e na subida da pressão após pontapé. Lions vão passar por dificuldades nos últimos 15 minutos da primeira-parte, e respondem (bem) por Dan Biggar e Liam Williams. Capacidade mental dos sul-africanos fará a diferença no fim, aguentando a insistência dos turistas, para responder sempre bem através do colectivo e de uma disciplina mental galvanizadora.

Springboks 20-25 British and Irish Lions

Finn Russell e Elliot Daly entram nos 25 minutos finais e fazem a diferença na manipulação da defesa adversária, criando soluções de ataque baseado na imprevisibilidade de opções e num kick and chase intenso. Springboks dominam, até um certo ponto, na formação-ordenada mas concedem erros no maul dinâmico e no cobrir do overlap defensivo. O jogo é então decidido nos bancos de suplentes, e os Lions apresentam recursos de melhor valência, que ao subir de velocidade vão desfazer a “muralha” da África do Sul.