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No calendário disponível no site da Confederação Brasileira de Rugby, a edição 2018 do Super Sevens Masculino, o Campeonato Brasileiro de Seven-a-side, está marcada para o dia 17 de novembro, ainda sem um formato anunciado.
O sevens masculino, com isso, retorna ao fim de ano, após três temporadas seguidas acontecendo no início do ano. A mudança é tema para nossa coluna opinativa, refletindo sobre as possibilidades de um caminho para o sevens masculino de clubes no país, que anda de lado nas preocupações da maioria.
O sevens masculino
O rugby brasileiro tem uma dívida de gratidão com o rugby sevens. Afinal, se não fosse o seven-a-side, nossa modalidade não teria acesso às mesmas fontes de renda, uma vez que o caráter olímpico sem dúvida revolucionou o esporte no Brasil. Enquanto o sevens é a modalidade central para o rugby feminino, tão vitorioso, entre os homens o sevens não desfruta de grande prestígio. É o XV que monopoliza as atenções e recursos, mesmo não sendo olímpico.
O sevens masculino internacional é um terreno difícil mas cheio de oportunidades. A Série Mundial de Sevens garante calendário anual para seus participantes, que trilham o caminho da especialização de seus elencos para o sevens. Para chegar lá, o caminho da maior parte dos países é focar os investimentos em sua seleção e ponto final. Para isso, a criação de competições regionais é importante. Na América do Sul, o fortalecimento dos torneios de Punta e Viña responde a tal demanda e o anúncio de uma circuito pan-americano deu um horizonte positivo para os Tupis – mas, infelizmente, a competição dificilmente sairá do papel para 2018.
Em busca de una identidade para o Super Sevens
Com a crescente especialização da modalidade, contar com uma boa competição nacional, ainda que enxuta e restrita a poucas semanas no calendário, é importante.
O Brasileiro de Sevens já teve várias caras desde sua criação, nascendo como um circuito na virada do ano, transformando-se no Brasil Sevens – uma competição única ao final do ano – e voltando a ser um circuito, mas alocado no início da temporada:
Ano | Campeão | Cidade (Estado) | Competição |
---|---|---|---|
2008/09 | São José | São José dos Campos (SP) | Campeonato Brasileiro |
2009/10 | São José | São José dos Campos (SP) | Campeonato Brasileiro |
2010/11 | São José | São José dos Campos (SP) | Campeonato Brasileiro |
2011 | São José | São José dos Campos (SP) | Campeonato Brasileiro |
2012/13 | São José | São José dos Campos (SP) | Brasil Sevens |
2013 | São José | São José dos Campos (SP) | Brasil Sevens |
2014 | Desterro | Florianópolis (SC) | Brasil Sevens |
2015 | Desterro | Florianópolis (SC) | Super Sevens |
2016 | São José | São José dos Campos (SP) | Super Sevens |
2017 | Jacareí | Jacareí (SP) | Super Sevens |
2018/19 | Jacareí | Jacareí (SP) | Super Sevens |
2019/20 | Jacareí | Jacareí (SP) | Super Sevens |
Algumas conclusões podem ser tiradas:
- A experiência do sevens abrindo a temporada de clubes – ao contrário da tradição que é a de ter o sevens encerrando a temporada – não foi positiva, com muitos clubes mostrando pouco interesse pelo fato do torneio atrapalhar a pré temporada do XV;
- No fim de ano, no entanto, os clubes já estão desgastados pela própria temporada de XV, por conta das demandas físicas – em uma cenário de clubes amadores – e dos gastos envolvidos.
- Prova disso é a dificuldade crônica que as federações estaduais têm em fazerem seus clubes se interessarem pelos estaduais de sevens. São Paulo e Rio Grande do Sul são provas disso, com 2017 passando sem Paulista de Sevens e com o Gaúcho de Sevens com pífia adesão;
- Como os campeonatos de XV e de sevens não têm ligação entre si (o clube não é prejudicado se não jogar sevens), o primeiro corte que o clube faz quando precisa conter gastos de desgaste é no sevens.
- Porém, a estratégia é questionável, já que o sevens vale Bolsa-Atleta;
- A divisão dos circuitos de sevens entre Torneio Classificatório e o(s) torneios(s) principal(ais) cria uma incerteza no calendário:
- Os clubes não sabem quantos torneios jogarão, com curto espaço de tempo para se planejarem entre um e outro torneio.
- Quando se tratam de competições a nível nacional, a situação é mais dramática, em especial para clubes de cidades mais distantes das sedes dos torneios;
Qual a solução, portanto?
Começar o ano sabendo o calendário até dezembro
Isso para mim é o primeiro ponto essencial. Um clube precisa começar janeiro sabendo o que terá pela frente até dezembro, com poucas variações.
Essa ideia para o sevens é muito simples:
- Quando começar o ano, todos os participantes da principal competição do sevens nacional precisam ser conhecidos;
- Os torneios de um ano devem definir os participantes do ano seguinte. Funciona assim no XV, tem que funcionar igualmente no sevens;
- Punições a desistências devem ser severas (não no bolso, pois isso pode ser trágico para o futuro do clube), com suspensão de participação em competições nacionais, incluindo no XV). Com os classificados conhecidos com um ano de antecedência, é compreensível dar um prazo de alguns meses para os clubes confirmarem que querem a vaga (o início da temporada seguinte). Mas, depois do prazo, é preciso punir quem atrapalha os demais clubes. Quem não tem certeza que poderá arcar com um torneio nacional precisa ter pés no chão para só jogar estaduais;
Em outras palavras. O Super Sevens Masculino de 2018 precisa definir todos os participantes do Super Sevens 2019. O Super Sevens 2019 precisa definir todos os participantes para o Super Sevens 2020. E assim por diante.
A existência de torneios classificatórios no mesmo ano dos torneios principais, na minha opinião, não ajuda em nada a missão de se ter um rugby mais organizado e mais planejado para todos.
“Menos é mais”: foco no regional
Para mim, é acertado: o sevens precisa ser no fim do ano. Dos males, esse é o menor. Os clubes podem estar cansados, mas se eles já sabem que o torneio acontecerá com meses de antecedência o planejamento é possível. É melhor no fim do ano com planejamento do que no início do ano colidindo com a preparação para a temporada de XV. Pré temporada é coisa cada vez mais séria em um rugby cada vez mais físico.
O sevens tem uma característica importante: ele é mais acessível para clubes menores obterem resultados. E resultados positivos para clubes menores são um estímulo extremamente positiva, seja junto de prefeituras ou imprensa local, ou simplesmente no engajamento da comunidade.
Mas a grande maioria dos clubes brasileiros não têm condições de viajarem. Quando viajam, muitas vezes cometem suicídios, torram recursos importantes para outras ações. Viagem longa é o pior investimento sempre. E por isso, para dar oportunidade a mais clubes chegarem em um torneio de nível nacional, o foco do sevens precisa ser estadual!
Portanto, se o período entre o fim de outubro e o início de novembro for mesmo dedicado ao sevens, o formato de circuito precisa ser restrito a competições estaduais – ou, no máximo, regionais. Para mim, o mais realista é ter de volta o modelo do Brasil Sevens: um torneio nacional único, grande e que receba a devida promoção.
No entanto, para fazer com que os clubes joguem seus estaduais, é preciso que 100% das vagas no Nacional de um ano sejam condicionadas pelos resultados dos estaduais do ano anterior.
Sevens como ferramenta de desenvolvimento
Além disso, o sevens precisa ser usado como o primeiro degrau para os clubes mais jovens e menos estruturados. Circuitos estaduais de desenvolvimento são uma chave para as federações estaduais – esse conceito precisa ser usado para introduzir novos clubes dentro do universo das competições organizadas pelas federações. E a regionalização dentro de cada estado é chave para isso também: estados grandes precisam ter vários pequenos circuitos locais.
A primeira experiência de um clube de participação em campeonatos federados não pode ser no XV. A primeira escola de planejamento é o sevens. O sevens ensina o clube a jogar dentro de suas possibilidades, a criar um planejamento para o ano todo e crescer passo a passo de forma sustentável.
Aliás, tais circuitos de desenvolvimento são essenciais para as categorias de base – sobretudo para time que estão distantes das capitais – e para os times adultos B – nem todo jogador tem espaço nos times A do XV, mas todo jogador precisa jogar e todo praticante é importantíssimo a todo clube.
O que se vê Brasil afora é muito clube tentando jogador XV sem ter elenco para isso e, ao insistir em algo além de suas possibilidade, o resultado é o esfacelamento. Muitos times acabam ao tentarem jogar campeonatos de XV. Então, por que não começar pelo sevens?
Conclusão: um modelo para o sevens
Para mim, o melhor modelo – pensando verticalmente e abrangendo todos os níveis de clubes – é o seguinte:
- Circuitos estaduais de desenvolvimento de março a agosto/setembro;
- Estados de grandes dimensões devem criar circuitos distintos para cada região de seu estado, reduzindo deslocamentos e permitindo mais jogos;
- Circuito estaduais principais de outubro a dezembro (cada estado deve encontrar seu modelo próprio):
- Estados com menos clubes podem realizar torneios conjuntos, para melhorar a competitividade nos seus torneios de elite;
- Brasil Sevens ao final do ano:
- Um torneio único e bem promovido;
- Distribuição de vagas feita por meio dos estados:
- Cada estado recebe um número de vagas de acordo com os resultados que seus clubes obtiveram nos anos anteriores;
- Estados que não são filiados à CBRu precisam de um caminho:
- Sugestão: além das vagas dadas aos circuitos estaduais, vagas também pode ser dadas a torneio independentes que possam servir para os clubes que não tiveram obtido vagas pelos estaduais poderem chegar ao Brasil Sevens. Um torneio que pode ter esse caráter é o SPAC Lions
- Torneios “credenciados” pela CBRu, mas independentes, de organização dos clubes, poderiam ser realizado nas regiões Nordeste, Norte ou Centro-Oeste, como substituto de um Qualificatório (o debate precisa estar aberto para isso);
Um Brasil Sevens de 12 times (reduzindo custos), por exemplo, poderia contar com:
- 1 time de cada um dos 7 estados filiados (caso a Bahia seja filiada)
- 3 times dos estados dos clubes que terminaram nas 3 primeiras posições do ano anterior (exatamente como se faz na Argentina, a vaga é ganha para o estado e não para o clube)
- 1 time classificado pelo Lions;
- 1 time classificado por um segundo torneio credenciado disputado fora dos 7 estados filiados.
- *Quem acompanha esta coluna sabe que defendo a inclusão o quanto antes de todos os estados dentro da estrutura da Confederação, mas esta proposta leva em conta a situação atual, para poder ser realista.
Para os clubes de ponta que acreditam que precisam jogar mais torneios, competições independentes como o Lions precisam existir para isso: para rechear o calendário. Há poucos bons torneios de sevens pelo Brasil hoje. É preciso voltar a desenvolver a cultura dos clubes organizarem seus torneios para engajarem suas comunidades, colocarem em campo suas categorias de base e não dependerem – nem tornarem inviáveis as competições oficiais, que são o esqueleto norteador da modalidade.
E você, o que acha das ideias? Comente!