Tempo de leitura: 3 minutos

brasil hino copy

O Rugby brasileiro ainda vive um boom de novos times em várias regiões do Brasil, e em locais mais específicos, como no Rio Grande do Sul, já se encaminham para a consolidação das equipes existentes e crescente evolução técnica, como mostra o Farrapos no nível nacional, e o Brummers, no nível regional. Com essa expansão, vem o aumento do número de jogadores, e com a consolidação, o desejo de equipes e jogadores de almejar títulos e, no caso dos jogadores, uma posição na seleção nacional.

O investimento em categorias de base é a única forma sustentável de prover gerações competitivas de longo prazo em qualquer lugar, e os clubes brasileiros cada vez mais vem direcionando seus esforços para esse fim com pouco ou nenhum apoio da CBRu, e não por acaso, as equipes com melhor aproveitamento no Super 10 desse ano (Pasteur, SPAC, Bandeirantes, Curitiba, Farrapos e São José) são também as com projetos de base mais avançados.

- Continua depois da publicidade -

A entidade mandatária do Rugby nacional vem aos poucos aumentando o apoio às seleções de base, mas o foco ainda são os adultos. Desde a eleição do novo grupo que eu origem à CBRu, nos idos de 2010, a proposta foi bem clara e ambiciosa, ainda que sabida pela maioria que acompanha o Rugby, muito difícil (para não ser pessimista) de ser alcançada. Classificar o Brasil para o Mundial de 2019, o que é pouco divulgado pela entidade hoje em dia. Para cumprir sua meta, amealhou inúmeros patrocínios e atualmente goza de prestígio e bom trânsito na esfera política nacional (COB, Ministério do Esporte) e internacional (IRB), dois pilares fundamentais para continuar a impulsionar o crescimento do esporte e conquistar apoio para participar em competições internacionais, e esse status talvez tenha sido a maior conquista da CBRu até hoje.

No entanto, patrocínios e apoio político sempre vem com uma contra partida, seja ela mostrar a evolução no número de jogadores ou no caso mais específico dos patrocinadores, retorno financeiro, e os Jogos Olímpicos de 2016 tem um peso especial nessa equação, pois marca o retorno do Rugby ao palco principal do esporte mundial.

Ingênuo é aquele que acha que o patrocinador se guia exclusivamente pela convergência de valores entre a empresa e o esporte. O patrocinador quer divulgação, quer se comunicar, vender para o público a que está se expondo (além do desconto no IR propiciado pela Lei de Incentivo) e como vemos em cada ciclo olímpico, o brasileiro padrão tem como característica, o pensamento de curto prazo e o desprezo pelo segundo lugar. O patrocinador quer vir sua marca no lugar mais alto do pódio e não na parte debaixo da tabela.

O Brasil ainda não tem uma categoria de base pujante que possa fazer frente às melhores equipes do mundo no Sevens ou XV. De fato, nem nossos jogadores adultos mais experientes conseguem, apesar da grande evolução dos últimos anos e isso pode representar um golpe na captação de recursos pós-2016. Talvez a entidade enxergue no exterior uma forma de captar jogadores (apesar do comunicado não explicitar que o candidato jogue Rugby ou faça algum esporte em alto rendimento) mais preparados e aumente as chances de uma posição melhor nos Jogos e possa resolver a questão da captação futura.

Mas e quem está se matando hoje nas seletivas, abrindo mão de compromissos pessoais e profissionais em busca também do seu sonho olímpico, sonho este que a CBRu oferta agora a quem não está nessa luta diária? No XV, já vimos jogadores chamados sem passar por seletivas (ou por tantas seletivas quanto os que jogam aqui), passando desapercebido no meio de mais de vinte nomes. No Seven, o funil é menor e vai chamar atenção. O mínimo justo nesse caso seria colocar os candidatos por esse meio pelo mesmo processo de seletivas a que todos estão sujeitos.

Mais importante e prioritário no entanto, é necessário dar condições para que se encontrem e desenvolvam talentos que podem estar nos times M12 de alguma equipe pelo Brasil (um grupo muito seleto ainda), dando seus primeiros tackles e pensar em formas de auxiliar os clubes a ampliar a base para mirar o Mundial em 20 anos no mínimo. Um plano mais imediatista que isso parece descuidado e pouco provável que logre bons resultados.

A seleção é o auge para qualquer jogador, a base deve querer almejar um lugar entre os Tupis e essa decisão da CBRu, num primeiro momento, parece levar nossos jovens justamente para o caminho contrário, o da desilusão.

Escrito por: Daniel Venturole