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A Rugby Europe, e federações ligadas a esta instituição, tinham prometido e assim nasce a nova competição europeia de clubes/franquias, com o objectivo colocado em desenvolver aquilo que pode ser “chamado” de um segundo patamar do rugby europeu, possibilitando aos jogadores atingir outro estrelato e, porque não, uma espécie de semiprofissionalismo ou profissionalismo. A fundação da Super Cup tem data de estreia estabelecida já para Setembro, com a participação de 7 países num torneio que começa numa fases-de-grupo e termina em meias/final. Vamos passar à resposta das perguntas mais fáceis:

– Quem vai participar? Portugal, pelos Lusitanos XV (já em outros tempos esta equipa competiu a Challenge Cup, a segunda competição europeia da EPCR), Geórgia (Black Lion), Rússia (Enisei e Lokomotiv-Penza), Espanha (Castilla y León Iberians), Holanda (Delta), Bélgica (Brussels Devils) e Israel (Tel-Aviv Heat);

– Como é o sistema? Dois grupos de 4 equipas, jogado a duas voltas. Do lado Oeste estará Portugal, Espanha, Bélgica e Holanda, enquanto do Este vamos ter Rússia, Geórgia e Israel. Depois da fase-de-grupos, os dois melhores de cada grupo seguem para a fase-final, com meias-finais a 1 mão e depois a grande final;

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– Quando começa e acaba? Arranca em Setembro e termina em Maio. A competição vai decorrer durante dois fins-de-semana em cada mês de Setembro, Outubro e Dezembro, interrompendo até Abril, altura em que começam as meias-finais. Final disputada em meados de Maio;

Estas são as três perguntas mais fáceis de responder, passando agora às “médias” em termos de dificuldade:

– Esta competição vai servir para algo relacionado com a Heineken ou Challenge Cup? Neste momento, não. A Rugby Europe lançou a Super Cup com a intenção das federações envolvidas conseguirem construir grupos de jogadores de maior qualidade, numa espécie de antecâmara das selecções nacionais. Contudo, não está colocado de parte que venha a existir uma ligação entre instituições, podendo, talvez, o campeão da Super Cup ficar apurado para a Challenge Cup;

– Porque é que a Roménia não está incluída? E como é que Israel conseguiu o lugar? Em relação à primeira questão, a federação romena admitiu que teve a possibilidade de participar mas devido a problemas orçamentais abdicou de entrar já em 2021/2022, esperando assim uma nova oportunidade. No sentido inverso, Israel apresentou as condições necessárias para fazer parte da Super Cup, sendo um mistério que equipa vão apresentar (a selecção de Israel em massa ou reforços profissionais?);

– Vai interferir com os campeonatos nacionais ou selecção nacional? No que toca aos Lobos, a Super Cup não vai interferir em nada nos trabalhos de Patrice Lagisquet, podendo até ajudar a formar um grupo ainda mais coeso e preparado para a próxima época desportiva (sendo que os dois jogos em falta serão fundamentais para o futuro de Portugal), porque fica de fora das janelas internacionais de Novembro e Fevereiro-Março. Já a Divisão de Honra poderá ter que parar por duas/quatro vezes, caso não arranque em Setembro – caso comece neste mês passa então a três/seis paragens -, dependendo se os clubes que tiverem de ceder os jogadores aos Lusitanos aceitem jogar sem uma parte substancial dos seus atletas;

Poderão surgir outras questões, mas passemos agora para a análise da importância que a Super Cup poderá vir a ter, que vai muito para além do peso competitivo. A construção de uma liga internacional de clubes/franquias permite à Rugby Europe e às federações afectas à mesma, trabalharem em conjunto para começarem a procurar um caminho de efectiva importância dentro do rugby europeu e mundial, deixando de estar condicionados a um segundo ou terceiro patamar de importância, apesar dos números nunca se aproximarem das Seis Nações ou algo do género.

Porém, um empreendimento desta natureza, bem idealizado e elaborado, pode potenciar estas nações a ganharem outra capacidade estrutural e competitiva que passará a ter assim três níveis anuais de actividade intensa: campeonato local, competição internacional e selecções. Mais jogos (sem ser em excesso como acontece no Top14 por exemplo) permite estabelecer rotinas mais sólidas e de outra qualidade, potenciando os jogadores para atingirem outra excelência não só a nível do jogo colectivo, mas das capacidades individuais, um pormenor que normalmente só se desenvolve acentuadamente quando se dá um contacto com formações do exterior de forma constante.

O desenvolvimento de uma marca nova poderá também movimentar um financiamento mais interessante, permitindo, porque não, criar outras ferramentas que captem o interesse não só do adepto-activo (aquele que está associado directamente com as franquias/equipas dos países envolvidos), mas, e principalmente, os fãs de rugby que não estão acostumados a seguir o que se passa em Portugal, Espanha, Geórgia, etc, garantindo um incremento nas visualizações, acompanhamento e interesse, sendo que isto está dependente da qualidade ou do carácter “exótico” da Super Cup.

Todavia, que implicações poderá ter no rugby português a nível dos clubes e das competições nacionais? Como serão geridos os Lusitanos em termos técnicos (será Patrice Lagisquet ou a Federação Portuguesa de Rugby vai contratar uma equipa técnica para o efeito, como fez a Confederação Brasileira de Rugby)? Estas são duas questões de maior dificuldade de resolução, já que a primeira foi levantada pelo presidente da FPR, Carlos Amado da Silva, que numa entrevista dada à Lusa, explicou que os clubes teriam de se preparar para alterações nos modelos competitivos, podendo se assistir a uma diminuição no número de equipas que competem na Divisão de Honra e CN1 (se será drástica ou não, só a instituição saberá), mas as palavras do líder máximo do rugby português foram,

“Temos de perceber que há aqui uma grande possibilidade de os jogadores evoluírem, mas tem de haver condescendência dos clubes para ceder os jogadores. A nossa ideia é ter uma equipa que depende da FPR, mas cujos jogadores joguem também nos clubes(…). Os clubes vão ter de perceber” a necessidade de efetuar alterações nas estruturas competitivas e que “se calhar os campeonatos nacionais não podem ser tão grandes.”.

Depende tudo agora da vontade dos emblemas nacionais acederem ao plano estratégico da Federação Portuguesa de Rugby e potenciar assim a participação de Portugal na Super Cup, que no entendimento de Carlos Amado da Silva passa por cederem parte da sua “autonomia” por garantir um sucesso equitativo e de facto de todos a longo-prazo. Porém, esta visão poderá sair gorada, já que a um corte substancial no número de equipas a participar na Divisão de Honra, impede que hajam mais clubes perto do topo do rugby nacional e que possam, de certa maneira, beneficiar da ausência de certos jogadores das equipas principais, com esta situação a dar entender que a profundidade de opções não é um cenário real em território nacional.

Os jogadores convocados para os Lusitanos serão aqueles que estão em associação directa com a selecção principal, ou seja, é uma equipa composta por todos os atletas nacionais que Patrice Lagisquet entende como os melhores ou mais adequados para o projecto dos Lobos, não podendo constar os que estão a actuar fora do território nacional, pois esses estão ligados contratualmente a outros clubes. Outra questão que a Federação Portuguesa de Rugby terá de explicar, é o facto dos jogadores das equipas do norte ou centro poderem ver-se quase fora da competição, um tema que também surgiu na entrevista do presidente da FPR à Lusa,

“Estou a colocar a hipótese de haver uma franquia só de jogadores do Norte e Centro, onde poderão jogar profissionais. Nós optamos por utilizar exclusivamente elegíveis para a seleção, mas pode haver uma franquia também com profissionais estrangeiros, de clubes que se queiram organizar com o nosso patrocínio”.

De qualquer forma, Portugal marcará presença no ano de estreia da Super Cup da Rugby Europe com uma equipa constituída por atletas ligados directamente à selecção (com possibilidade de se tornarem semiprofissionais), comandados por uma junta de treinadores “locais” que serão supervisionados por Patrice Lagisquet, abrindo assim um capítulo interessante, mas crítico, para a modalidade em território nacional, ficando só algumas questões por esclarecer, nomeadamente o impacto e as mudanças profundas a realizar nas competições nacionais.