Foto: All Blacks

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ARTIGO OPINATIVO – First Blood para os All Blacks, que conseguiram derrotar os Wallabies em Eden Park (mantêm este estádio inviolável) apesar de uma reacção final dos australianos que não esteve muito longe de ser épica. Dissecámos três pontos sobre o 1º encontro da Bledisloe Cup 2021, entre o bom, mau e os melhores em campo.

 

O MAN OF THE MATCH: MO’UNGA E HAVILI UM COMBO DIFERENTE

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Num jogo marcado por erros individuais e colectivos, de momentos surpreendentes (Tom Banks passa de uma primeira-parte desoladora para uns últimos 20 minutos demolidores), dois jogadores dividem o prémio de MOTM: David Havili e Richie Mo’unga. O centro e abertura foram os catalisadores do ataque dos All Blacks, conferindo a velocidade de movimentos necessária para forçar a criação de espaço na defesa da Austrália, que viu-se forçada a tentar aplicar uma espécie de Blitz no canal 2, expondo as alas à predação dos All Blacks. Vamos optar por dissecar o n°12 em pormenor, sendo que Mo’unga “acordou” quando era mais necessário para os neozelandeses.

Havili traz estabilidade e um apoio “confortável” a qualquer abertura que Ian Foster escolha, conseguindo equilibrar na defesa (quase como fazendo o lugar do 10 se necessário) e a dar uma expressão letal no combo com 10-12-15, alternando bem o ritmo e velocidade para fornecer boas situações ofensivas, fazendo lembrar Conrad Smith no que concerne à facilidade de leitura de jogo. 12 placagens, 1 turnover, 50 metros, 1 ensaio, 5 tackle busts e 3 assistências para quebras-de-linha, são números promissores de quem está a estrear-se nas andanças internacionais. A qualidade com que obrigou a defesa adversária a “dançar” ao seu ritmo, enganando bem a terceira-linha liderada por Michael Hooper, e como surgiu sempre em situações críticas de avanço territorial garantiu outra veemência aos All Blacks nos momentos de decisão.

Se David Havili mantiver o nível e a multiplicidade de opções tácticas e técnicas que oferece, os All Blacks passam a deter uma solução estrondosa para criar problemas aos Springboks ou Inglaterra, por exemplo, e começa tudo nesta Bledisloe Cup.

O MELHOR DO JOGO: RUGBY TOTAL ATÉ AO FIM

All Blacks demonstraram que estão em processo de construção de um elenco temível e que poderá voltar aos tempos de maior domínio à escala global (ou seja, serem os principais candidatos ao título mundial em 2023), e os Wallabies deram sinais que começa a brotar um tipo de jogo de maior agressividade e inteligência, sobretudo quando sentem que o adversário está a tentar reduzir o ritmo, conseguindo os australianos voltar a subir a fasquia e os índices de intensidade, algo que tinha quase esmorecido nos últimos 4 anos. 8 ensaios, bons momentos de rugby contínuo e expansivo, vontade de procurarem agilizar a manobra de bola e com um risco acentuados na saída dos 22 metros, deram cor a um jogo que até aí intervalo estava “frio”, já que os 8 toques de meta só surgiram nos “últimos” 50 minutos, isto é, a partir do fim da primeira metade do encontro.

A seleção australiana mesmo a perder po 33-08 não desistiu de querer aplicar a sua forma de atacar, obtendo 3 ensaios a partir dos 70 minutos, o que prova que existe uma mentalidade completamente diferente em comparação a 2019 e, se quisermos, 2020, podendo ser a partir deste ponto o início do ressurgimento dos Wallabies. Já os All Blacks mostraram que quando querem são capazes de oferecer aquele rugby total, aparecendo opções em todo o lado, seja com avançados (Broadie Retallick está de retorno ao seu melhor) ou 3/4s (McKenzie e Havili principalmente), forçando constantes erros defensivos à Austrália, numa transição constante entre o normal e o imprevisível.

É aquilo que os adeptos do rugby mais expressivo gostam, de fuga à fisicalidade total ou ao embate táctico mais cerrado (que é tão valido como o rugby total, atenção), onde o contraste dado pelos offloads, quebras-de-linha sucessivas e passes ou movimentos inesperados galvanizam a emoção que vive à volta de um embate deste nível, ainda por mais por ser a Bledisloe Cup.

O PIOR DO JOGO: CAOS E INDISCIPLINA DEFENSIVA

Apesar de ter sido um encontro polvilhado por excelentes momentos e situações de ataque, o anarquismo defensivo ajudou bastante a que tivéssemos um encontro tão aberto no fim. Os All Blacks continuam a ceder espaço no alinhamento, com alguns problemas para contrariar mauls sem estar Retallick ou um jogador como Akira Ioane (moldado para massacrar e desmanchar plataformas de jogo), para além das fragilidades quando são forçados a recuar inesperadamente, reagindo mal quando perdem a posse de bola por um erro no ruck ou fase-estática. A Australia, pelo seu lado, sente dificuldades quando tem de contrareagir após um momento ofensivo de maior risco, se gerando alguma confusão no reposicionamento e no cumprir dos papéis defensivos, o que demonstra a ainda alguma inexperiência deste elenco comandado por Dave Rennie.

Outra questão nos Wallabies é às flutuações mentais que surgem em ocasiões de jogo pacíficas, que se nota sobretudo quando o três-de-trás tem de se apresentar ao serviço ou quando há que escolher entre manter o sentido de jogo, inverter ou aplicar um pontapé, perdendo tempo na saída do ruck. 20 erros, 27 penalidades, 7 fases-estáticas perdidas são alguns dados que provam o caos disciplinar e defensivo que marcou este encontro de abertura da Bledisloe Cup.

Se foi porque era o primeiro test match entre ambos na Bledisloe Cup ou porque ambas as selecções estão “carregados” de juventude e inexperiência, é discutível, sendo que o encontro da próxima semana mostrará se vamos ter uma repetição do mesmo, se uma vai dominar do princípio ao fim ou se ambas vão equilibrar e realizar um menor número de erros em situações discutíveis.

 

NÚMEROS E DETALHES

Quem correu mais com a bola: Richie Mo’unga (Nova Zelândia) – 80 metros;
Quem placou mais: Dalton Papali’i (Nova Zelândia): 15 placagens (zero falhadas);
Quem fez mais quebras-de-linha: Tom Banks (Austrália) – 3 quebras-de-linha;
Quem ofereceu offloads: David Havili (Nova Zelândia) – 2 offloads;
Quem foi o melhor suplente: Luke Jacobson (Nova Zelândia) – 8 placagens, 2 turnovers, 30 metros de conquista e 2 defesas batidos em 17 minutos;