Jogo entre All Blacks (Nova Zelândia) e England (Inglaterra) pelas semi finais Rugby World Cup 2019 realizada no Yokohama International Stadium em Yokohama, Japão. Foto: Bruno Ruas @ruasmidia

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Como esperado, Ian Foster não deu grande espaço para novas estreias em 2021 e convocou um elenco mais maturado e com a atenção firmemente posta no Campeonato do Mundo em 2023, com só quatro estreias a surgirem na lista dos 37 jogadores chamados para os encontros frente às Fiji e Samoa (em Julho), sendo que após esses três encontros de boa intensidade, surgirá a convocatória final para o The Rugby Championship 2021, que tem início agendado para meados de Agosto.

Lançamos aqui a lista completa de jogadores chamados e, logo de imediato, vamos por posição em posição para perceber se há novidades, qual o objectivo e quem deverá merecer mais oportunidades para começar de início durante os próximos 3 meses.

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PILARES

Não há, para já, Joe Moody que está a contas com uma lesão de média-gravidade, com a data de retorno a ficar para Setembro deste ano, cenário idêntico para outro titular do elenco neozelandês, Ofa Tu’ungafasi. Com duas baixas por lesão, Ian Foster e a sua equipa técnica terão de reformular esta secção, oferecendo a titularidade a Nepo Laulala e Karl Tu’inukuafe, ambos peças-chave nos Blues (mesmo que um comece no banco de suplentes, a ideia é de alta rotatividade), que deverão manter este papel até no The Rugby Championship. Alex Hodgman ficou de fora por opção (época menos “boa” do pilar dos Blues), abrindo espaço para uma estreia vinda dos Highlanders, Ethan de Groot, jovem pilar de 22 anos que normalmente veste a camisola nº1, para além de George Bower, Tyrel Lomax e Angus Ta’avao, atletas que têm figurado constantemente nos convocados dos últimos 2 anos – Tamaiti Williams, dos Crusaders poderia ter sido outra surpresa, mas ainda há tempo para fazer parte deste elenco no futuro próximo.

HOOKERS

normal, ou seja, Codie Taylor (dificilmente não será titular frente à África do Sul ou Austrália), Dane Coles e Asafo Aumua, com Liam Coltman a ficar de fora, sem falar de Ash Dixon, Kurk Eklund ou Samisoni Taukei’aho, talonador que tem sido uma revelação pelos Chiefs (Nathan Harris regressou nesta temporada, estando ainda longe da sua melhor condição física). Pouco há aqui para discutir, uma vez que os três convocados são escolhas consensuais mantendo a mesma linha de pensamento que vigora desde 2020.

SEGUNDAS LINHAS

Curiosamente, e ao contrário de convocatórias anteriores, a comissão técnica neozelandesa optou por chamar cinco segundas-linhas, com enfoque para o retorno de Broadie Retallick depois de um ano de paragem – sabática no Japão que terminou em Maio passado -, sem esquecer que a capitania dos All Blacks estará agora sob os ombros de Samuel Whitelock, por via da lesão prolongada de Sam Cane. Tupou Vaa’i, Patrick Tuipolotu e Scott Barrett são três jogadores já acostumados às chamadas para a selecção, lançando assim uma “guerra” titânica pela titularidade e pelo banco de suplentes, com as nossas apostas a irem para o combo Retallick e Whitelock, com ambos a serem física, técnica e tacticamente os melhores da Nova Zelândia.

 

TERCEIRAS LINHAS

Não há Sam Cane em 2021, o que abre a dúvida sobre quem vai envergar a camisola nº7, existindo uma série de possibilidades: Ardie Savea assume um lugar que sempre foi seu nos Hurricanes, e a 3ª linha-centro surgirá Hoskins Sotutu ou Luke Jacobson, com este último a também poder figurar como 8. Dalton Papalii pode ser outra solução, libertando Ardie Savea para continuar a sua aclimatização à posição de 8. Sendo que estes nomes já citados vão lutar por estas duas posições, surge ainda a questão do asa-aberto (nº6), um despique encabeçado por dois nomes: Akira Ioane e Shannon Frizell. Tanto um como o outro oferecem uma capacidade física dominante e uma preponderância técnica de elevado nível, existindo algumas diferenças de como fazem se sentir em campo durante a maior parte do tempo, pois Ioane é mais pesado mas consegue ser altamente volátil com a oval em seu poder, enquanto Frizell apresenta outra predisposição anímica para fazer valer a sua qualidade em toda a extensão do campo.

Pelo que aconteceu em 2020, Akira Ioane poderá ter uma ligeira vantagem, já que impressionou tudo e todos durante o Tri Nations organizado em solo australiano, mas seria errado tirar Shannon Frizell da corrida. A grande novidade é Ethan Blackadder, asa que se assumiu como referência nos Crusaders – Tom Christie, o suposto titular lesionou-se logo na 1ª jornada do Super Rugby Aotearoa – e que vê os seus esforços a serem recompensados, pois até 2018 não tinha contrato profissional com a NZRU, jogando como semi-profissional ao mesmo tempo que trabalhava num armazém, seguindo agora os passos do pai, Todd Blackadder (internacional pelos All Blacks em 12 ocasiões). E quem ficou de fora? Tom Robinson, Billy Harmon ou Devan Flanders poderiam ter surgido na lista de convocados, mas terão de esperar por outra oportunidade.

SCRUM-HALVES

Aaron Smith será o titular absoluto, com Brad Weber a correr na sombra do seu rival dos Highlanders, e em 3º surge o primeiro naturalizado desta lista de convocados de 2021: Finlay Christie. Num ano em que se esperava ver Folau Fakatava como o prospect a um dia tomar o lugar de Aaron Smith (jogam juntos nos Highlanders, funcionando numa parceria de mestre-aprendiz), a lesão deste jovem formação nascido no Tonga acabou por abrir espaço para outra estreia absoluta, na pessoa do formação dos Blues. Christie nasceu na Escócia mas emigrou para a Nova Zelândia em 2014, subindo de patamar em patamar conquistando protagonismo ao serviço dos Tasman Makos (bicampeões em título), uma das melhores equipas do NRC, o que lhe valeu um contrato de Super Rugby em 2017 pelos Chiefs, passando depois pelos Hurricanes até chegar os Blues, franquia pelo qual se tem destacado largamente. TJ Perenara não entrou para as escolhas porque assinou um novo contrato com a federação neozelandesa no início deste Junho, estando obrigado a realizar um jogo no Super Rugby para voltar a ser elegível para os All Blacks.

 

ABERTURAS

Richie Mo’unga e Beauden Barrett, duas escolhas de classe mundial, dois jogadores soberbos e supremos, e uma dor-de-cabeça complicada para Ian Foster. O seleccionador neozelandês quer voltar a apostar no irmão mais velho dos Barrett como comandante do elenco kiwi, posição que voltará a ocupar com mais certeza nos Blues já na próxima época (forçando isto até na saída de Otere Black, que deverá assinar por um clube da Top League japonesa), sendo agora necessário que o jogador demonstre capacidade para envergar esse papel. Contudo, e apesar de Beauden Barrett ser um jogador preponderante, a titularidade em 2021 deverá pertencer a Richie Mo’unga, depois de ter sido novamente sensacional ao serviço dos Crusaders, merecendo toda a confiança como médio-de-abertura dos All Blacks até prova em contrário.

CENTROS

Sem Ngani Laumape, que nunca foi realmente uma opção concreta para a Nova Zelândia, e com Jack Goodhue lesionado até meados de 2022, é necessário preencher o lugar de 1º centro, procurando o staff técnico de Ian Foster alguém que consiga não só executar os básicos desta posição, como de coordenar e movimentar a equipa, sendo quase uma extensão do médio-de-abertura e um complemento técnico-táctico do defesa. E quem possui estas qualidades/competências? Possivelmente, David Havili.

O polivalente 3/4’s reafirmou-se dentro dos Crusaders agora como centro, e o facto de ter realizado uma estupenda temporada nessa posição valeu-lhe a convocatória para os All Blacks, isto depois de ter raramente ido à selecção quando estava em grande forma, isto enquanto vigorou na como defesa. David Havili com Anton Lienert-Brown poderá ser o combo mais apetecível, seguindo-se Rieko Ioane e Braydon Ennor como soluções, lembrando que qualquer um destes dois pode ainda “fugir” para as pontas. Quinn Tupaea é a 4ª e última novidade da lista de convocados, recebendo agora a hipótese de se estrear pelos All Blacks, com a possibilidade de até figurar como 1º centro titular, caso Ian Foster queira arriscar um pouco mais…

TRÊS DE TRÁS

Outra extraordinária “batalha”, outra dor de cabeça, principalmente no que concerne à luta pelo lugar de defesa: Jordie Barrett ou Damian McKenzie? E porque não Will Jordan? Sendo que nas pontas a luta será menos agressiva, por via da ausência de Caleb Clarke e das não convocatórias de Jona Nareki ou Mark Telea (mereciam ambos outra sorte, depois de boas temporadas no Super Rugby Aotearoa e Trans-Tasman), cabendo a George Bridge e Sevu Reece o favortisimo de surgirem como titulares, ou até Will Jordan emigrar para uma das pontas, forçando um destes a ir para fora dos 23 convocados, já que a ideia será por ter uma solução polivalente no banco de suplentes.

Em relação ao debate inicial, Ian Foster vai optar por Jordie Barrett, apresentando assim um nº15 menos espectacular nas acções individuais mas sólido na componente táctica e com um refinado jogo ao pé, ou vai escolher Damian McKenzie, que pode realmente alterar o ritmo de jogo de um momento para o outro, adicionando uma dose de imprevisibilidade seja pelo jogo à mão ou pé? Possivelmente, a escolha para o The Rugby Championship poderá até recair em Beauden Barrett e, seguidamente, em Jordie Barrett, mas em Julho, o espaço será dado a este último e a Damian McKenzie. Outras omissões notáveis são de Julian Savea e Salesi Rayasi, com qualquer um dos pontas dos Hurricanes a rubricar uma excelente temporada.

Entre os dias 3 e 17 de Julho, os All Blacks defrontam as Fiji e Samoa nas Steinlager Series, que servirão de teste para apurar o elenco certo com o objectivo de recuperar o The Rugby Championship, perdido em 2019 (o ano transacto não conta, uma vez que os Springboks não participaram) e será curioso perceber quem serão as escolhas mais concretas de Ian Foster neste ano, com os olhos já colocados em França.