Foto: Lions Rugby

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ARTIGO OPINATIVO – Deverão os Lions alterar algo na estratégia ou no elenco para o 2º jogo? E os Springboks, vão ter sucesso nas mudanças feitas no pack de avançados? Olhámos para as duas equipas e para o 1º jogo, avançando com propostas para ambos os elencos!

 

OX NCHÉ/TREVOR NYAKANE OU STEVEN KITSHOFF/FRANS MALHERBE?

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Entrar com a 1ª linha mais experiente, que fez parte do “core” duro dos campeões do Mundo em 2019, ou manter as novas apostas em Ntché e Nyakane? Podendo parecer um preciosismo, a verdade é que alterar a primeira-linha pode ter um duplo efeito e impacto, ainda por mais quando o par Kitshoff-Malherbe têm uma rodagem bem superior a Nyakane e Nché, lembrando que Malherbe até começou a titular na final do Mundial há dois anos, ao lado de Bongi Mbonambi.

Na revelação da convocatória para o 2º encontro frente aos British and Irish Lions, Jacques Nienaber e Rassie Erasmus optaram por reverter à fórmula-base, ou seja, Kitshoff-Mbonambi-Malherbe… mas terá sido por vontade própria ou por força das circunstâncias? Porque é que dizemos isto? Bem, Ox Nché sofreu uma lesão a nível do pescoço/cervical, que o impossibilita de participar neste jogo nº2 das series, forçando uma alteração por lesão, um pormenor que afectou, directamente, a titularidade de Trevor Nyakane, pois é o o único pilar do extenso grupo de convocados dos Springboks com capacidade para jogar como looshead em caso de (extrema) necessidade, caindo assim para o banco de suplentes por força das circunstâncias.

Contudo, Kitshoff e Malherbe garantem mais que Kitshoff-Malherbe? Na formação-ordenada sim, seja pela experiência ou na capacidade rápida de adaptação à estratégia imposta pelo adversário; na defesa do maul dinâmico aplicam outra resposta no 1º impacto e aplicam uma agressividade que faz (e fez) falta; perdem na velocidade e no apoio ao ataque, no conseguir aguentar constantemente o overlap defensivo e manter os mesmos índices de performance, especialmente se tiverem de se entregar totalmente às fases-estáticas. Portanto, as escolhas feitas derivam da lesão de Ox Nché e, talvez, de garantir uma resposta dura nas fases-estáticas logo nos primeiros 25 minutos de jogo, de modo a silenciar os Lions, ou, pelo menos, equilibrar uma plataforma de jogo que não trouxe benefícios para os campeões do Mundo.

O QUE MUDAR E O QUE MANTER NOS SPRINGBOKS

Mudar: fazer outra gestão da posse de bola, apostando em carregar em fases no canal 1 ou 2 a seguir ao ruck, para criar espaço ou um recuo territorial nos seus adversários europeus, tentando depois solicitar a condução ofensiva rápida por Handré Pollard ou Damian de Allende, que entre passes, offloads e grubbers podem abrir caminho a Cheslin Kolbe e Makazole Mapimpi. Garantir captação dos pontapés altos, um elemento que fracassou por completo no 1º encontro (7 erros em 14 possíveis) para impedir ofertar a oval aos Lions em situação de contrarreação ou de paralisar o encontro num momento de maior intensidade; o banco de suplentes tem de entrar com outra dose de intensidade, injectando as “vitaminas” necessárias para criar problemas físicos aos homens de Warren Gatland, que se sentiram demasiadamente confortáveis na 2ª parte. Nesse ponto dos substitutos, a equipa técnica da África do Sul optou por apresentar um 6-2, isto é, seis avançados e dois 3/4’s, reforçando o bloco dos mais “pesados” na 2ª parte, um pormenor que poderá fazer a diferença nos últimos 20 minutos.

A manter: contra-ataque com a mesma volatilidade, transformando situações inofensivas em situações claras de ensaio, como aconteceu no ensaio de Faf de Klerk ou no que foi anulado a Willie Le Roux; Faf de Klerk, Eben Etzebeth e Damian de Allende têm de continuar com a mesma postura mental, de irritarem constantemente os britânicos-irlandeses, seja por via de “palavras” ou por manipular os seus colegas no sentido de exercer uma contínua dose de fisicalidade no contacto. Continuar a impor aquela agressividade que lhes é reconhecida no contacto, forçando um impacto nocivo e que debilite os elementos mais frágeis dos Lions, numa contínua procura por criar penalidades no chão ou por fora-de-jogo, algo vislumbrado durante a 1ª parte do 1º test match.

Em suma, apoio ao portador de bola mais lesto e certo (diversas acções de apoio acabaram em infrações, seja por entradas ilegais no ruck ou por um atraso significativo), uma abordagem mais certa aos pontapés altos, vontade de querer ter a oval nas mãos, arriscando outro tipo de avanço e capacitar as fases-estáticas daquele domínio aniquilador reconhecido aos Springboks.

DAN BIGGAR OU FINN RUSSELL

Chegámos aos Lions e ao ponto que reúne a maior (ou menor?) dose de discussão: deverá Warren Gatland optar por Dan Biggar ou lançar Finn Russell? Como sabemos, para o 2º test match, o seleccionador dos Lions voltou a confiar no abertura oriundo do País de Gales, isto depois de ter surgido a dúvida se Biggar estaria em condições, pois saiu com uma concussão já nos últimos 15 minutos do encontro passado, originando alguma preocupação à altura. O que é que este 10 garante aos Lions de tão especial que não solicita urgência para trazer Finn Russel de volta? Pontapé táctico, comunicação defensiva e posicionamento no contra-ataque adversário, seja ao pé ou por acção física. É claro que Dan Biggar não traz tanta fantasia ou virtude técnica como o seu homólogo escocês, mas é mais equilibrado em todos os aspectos, é constante no decorrer total do encontro e garante uma recepção de bola mais estável, para além de oferecer uma resposta mais legível quando recepciona a oval.

Depois dos primeiros 80 minutos a valer desta tour, ficou claro que Dan Biggar está física e tacticamente no ponto que o staff técnico dos turistas quer, não temendo o choque físico que adveio da 3ª linha ou centros dos Springboks (Am marcou o abertura, e conseguiu caçá-lo por duas vezes, sem que se gerasse algo de negativo para os Lions) e incomodou constantemente os seus adversários através de um jogo ao pé letal e complicado de captar, como se viu pelos erros de Kwagga Smith, Cheslin Kolbe ou Willie Le Roux.

Manter Dan Biggar garante, para já, estabilidade mas uma derrota poderá forçar a mudança de ritmos e estratégia ofensiva?

 

O QUE MUDAR E O QUE MANTER NOS LIONS

Em termos de mudanças: entrar com mais calma e não querer entregar a bola ao adversário de uma forma “simples”, impedindo qualquer contra-ataque mais perigoso, especialmente quando Lukhanyo Am, Cheslin Kolbe ou Willie Le Roux surgem desamparados no centro do terreno e com espaço; arriscar menos no breakdown, um sector em que ofertaram 12 pontos aos Springboks, com Tom Curry a somar 3 penalidades por jogo ilegal no chão, isto quando o ruck estava garantido para o adversário, sendo necessário que Conor Murray esteja sempre com atenção neste ponto; expandir o jogo das linhas-atrasadas com as unidades de apoio, impedindo uma fácil manipulação defensiva por parte da África do Sul, como se viu no choque sofrido por Robbie Henshaw ou Elliot Daly durante a primeira metade do 1º encontro.

No que concerne ao “manter” há alguns elementos fundamentais para que tudo corra da melhor forma possível: fases-estáticas têm de estar no ponto, garantindo não só estabilidade, como uma contrarresposta de enorme impacto que force erros nos Springboks; o maul tem de continuar a cavar caminho e a castigar a oposição, quebrando os campeões do Mundo emocionalmente neste sector; jogo ao pé tem de continuar a estar nos mesmos níveis de execução e qualidade, seja no canal 3 ou para o sector mais recuado do campo, colocando uma pressão constante na captação da oval no ar; continuar no timbre da 2ª parte do 1º jogo no aspecto disciplinar, altura em que só cometeram duas penalidades na extensão desses 40 minutos.

Existem mais alguns pontos a manter e a alterar, contudo, será sobretudo no carácter mental que os British and Irish Lions têm de se mostrar inabaláveis e forçar uma pressão desconcertante numa selecção que gosta de ser vista como o underdog ou sem favoritismo. A percentagem de uma reviravolta voltar a acontecer após o regresso do intervalo, como se passou no 1º encontro, será menor de se registar e Warren Gatland tem noção dessa situação, até porque do outro lado está Rassie Erasmus e Jacques Nienaber, dois mestres na leitura de jogo e de injectar confiança anímica.

PREVISÕES DE RESULTADOS

Oferecemos dois possíveis resultados e explicamos rapidamente como ambos podem ocorrer:

Springboks 25-15 British and Irish Lions (ao intervalo estará em 20-07)

A África do Sul vai dominar plenamente nos primeiros 40 minutos, garantindo um plano de jogo mais estável a partir das fases-estáticas (domínio não claro, mas ainda assim com duas penalidades conquistadas) e em que o maul vai se transfigurar par algo mais acelerado e imponente. Pollard e Allende vão ter oportunidade para ir buscar mais jogo nas alas e fazer circular a oval pelas mãos de Kolbe, Mapimpi, Du Toit e Le Roux. Lions vão cair mentalmente durante os últimos 25 minutos da primeira-parte e cedem os pontos suficientes (12 pontos sofridos em penalidades) para não terem capacidade de responder na segunda metade, apesar de oferecerem uma boa réplica através de um banco mais estável que, no entanto, não vai ter a mesma predominância do 1º test match, isto por causa do 6-2 escolhido pela equipa técnica sul-africana.

Springboks 21-28 British and Irish Lions (ao intervalo estará em 15-12)

Os Lions vão exercer boa pressão nas bolas altas e arriscar um pouco mais no avanço da oval através do jogo à mão, sem conseguir obter domínio nas fases-estáticas, que acabará por ser um problema na 2ª parte devido à forma física de Kitshoff e Malherbe (lembrar que não há solução para o pilar nº3). Chris Harris vai coexistir melhor com Anthony Watson e Duhan Van der Merwe, com o centro a circular a bola com outra capacidade de perfuração, algo que criará problemas à 3ª linha adversária. Handré Pollard vai engajar com Dan Biggar num duelo titânico, trocando bons pontapés e um posicionamento terriotiral interessante, que acabará por pender para o lado dos turistas graças ao apoio conferido por Stuart Hogg.