Foto: Bruno Ruas

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ARTIGO OPINATIVO – A Copa do Mundo de 2023 teve seus grupos sorteados e a reação internacional foi de desilusão, com muitos confrontos que ocorreram em 2019 se repetindo. A 10ª Copa do Mundo terá nível bom e empolgará quando chegar, logicamente, mas deixa um saber de que o rugby precisa reformar seu Mundial.

A primeira mudança já foi confirmada: o sorteio para a Copa do Mundo de 2027 ocorrerá apenas em 2026. Faz muito mais sentido e é mais respeitoso com os países ainda não classificados.

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A segunda e mais necessária mudança é, obviamente, a expansão de 20 para 24 times. Quem rejeita a expansão tende a argumentar que haveria um declínio no nível das seleções, o que não é verdade.

A Copa do Mundo começou em 1987 com 16 times e foi expandida para 20 em 1999. Desde então, em todos os Mundiais, houve apenas 1 equipe classificada diferente com relação ao Mundial anterior:

  • Em 1999, a expansão fez Espanha, Uruguai e Namíbia debutarem. Fiji e Estados Unidos (que ficaram de fora de 1995) retornaram;
  • Em 2003, saiu a Espanha e debutou a Geórgia;
  • Em 2007, saiu o Uruguai e debutou Portugal;
  • Em 2011, saiu Portugal e debutou a Rússia;
  • Em 2015, saiu a Rússia e retornou o Uruguai;
  • Em 2019, saiu a Romênia e retornou a Rússia;

Para 2023, dificilmente haverá mais do que 1 troca, potencialmente 2. Mais do que isso é improvável. No entanto, é justamente o cenário de 2019 que comprova que a expansão não rebaixaria o nível do Mundial. A Rússia se classificou à Copa do Mundo após ficar atrás de Romênia e Espanha nas Eliminatórias, conquistando a vaga porque romenos e espanhóis sofreram punição por uso de atletas irregulares. Um detalhe. Para além de Espanha e Rússia, Portugal provou em 2020 estar no mesmo nível dos concorrentes europeus, voltando a apresentar nível compatível com o Mundial, ao trazer atletas oriundos do rugby francês. A Alemanha, por outro lado, declinou, por desarranjos internos de sua federação, mas havia jogado em igualdade com tais rivais nos anos anteriores.

Com isso, há pelo menos 3 países do nível da Rússia (ou melhores) que ficaram de fora do Mundial de 2019 na Europa. Rússia, Canadá e Namíbia foram as seleções mais frágeis em 2019 e, mesmo com elas, a diferença de pontos entre as seleções principais e as menores voltou a cair em 2019, caindo Mundial após Mundial. Para além disso, a profissionalização do rugby na América do Sul garantirá que Brasil e Chile, por exemplo, não estejam significativamente abaixo dos europeus citados, ao passo que Colômbia e Paraguai também terão um caminho de fortalecimento.

A África e a Ásia apresentam-se hoje como os maiores problemas para o desenvolvimento de novas forças, pois o rugby africano (fora da África do Sul) não tem um caminho profissional e o rugby asiático (fora do Japão) ainda engatinha, ainda que Hong Kong venha profissionalizando seu rugby.

Obviamente, profissionalização não é tudo e nós no Brasil sabemos disso. Se o trabalho nas categorias de base não for bom, o profissionalismo não assegurará um futuro sustentável. O exemplo máximo disso é a Romênia, que tem clubes profissionais, mas vive acentuado declínio, justamente por ter uma base fraca.

De todo modo, o Mundial já pode e deve contar com 24 times em 2027, para o bem do próprio rugby. Mais países com chances de irem ao Mundial tende a resultar em mais oportunidades comerciais para mais países.


 

Como seria o Mundial com 24  times?

A expansão para 24 equipes provavelmente resultaria num formato igual ao da UEFA Euro, do futebol: 6 grupos com 4 times cada. Isso seria uma solução às repetições de grupos e confrontos que o formato de 20 times vem produzindo. Haveria menos grupos iguais se fossem 6 grupos de 4 times.

Para além disso, com 6 grupos de 4, haveria uma fase de oitavas de final. Com isso, 16 times avançariam ao mata-mata (2 primeiros de cada grupo e os 4 melhores 3ºs). Ou seja:

  • Jogos de mata-mata tendem a propiciar mais surpresas, o que é bom para a emoção do Mundial. Maior mata-mata, maior imprevisibilidade;
  • 16 equipes indo ao mata-mata, de um total de 24 participantes, significa que todos os países irão ao Mundial sonhando com o mata-mata, o que torna o torneio mais atrativo;
  • Mais equipes no mata-mata significa ainda maior impressão de sucesso a mais países. Cair nas oitavas de final soa melhor do que sair na fase de grupos (pergunte à Itália!);

As vantagens não param por aí. Grupos com 4 equipes, ao invés de 5, são positivos também para o calendário, garantindo tempo igual de descanso entre partidas para todos os times do mesmo grupo. No modelo de 5 times, há equipes que saem beneficiadas pelo tempo de descanso.

Com isso, a maior lição que tiramos do último sorteio é justamente a mais óbvia: passou da hora da Copa do Mundo ter 24 times. Esperemos que o World Rugby tenha a mesma conclusão.