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ARTIGO OPINATIVO O anúncio de que os Estados Unidos são candidatos a receberem a Copa do Mundo de 2027 ou de 2031 era mais do que esperada. A briga para saber quem receberá os dois próximos Mundiais masculinos será com a Austrália. E o fato é: dificilmente algum desses dois Mundiais será jogado em algum outro país. Por quê?


O World Rugby escolherá as sedes dos dois Mundiais já em 2022 e, até o momento, as únicas outras candidaturas cogitados são de Rússia e Qatar, que não têm a menos chance. O rugby não é como o futebol, que é popular no mundo todo. Isso significa que o sucesso de qualquer Mundial depende de uma razoável maturidade na difusão do esporte no país sede. Enquanto o rugby é quase nulo no Qatar, a Rússia ainda está um degrau abaixo dos EUA e muito atrás da Austrália. Além disso, o escândalo de doping recente praticamente tira os russos da concorrência.

O que mais oferece certeza que 2027 e 2031 serão na Austrália e nos Estados Unidos e a ausência de outras candidaturas fortes até o momento, com o tempo se esgotando. Dois candidatos que pareciam fortes recentemente, Argentina e África do Sul, já deixaram claro que não devem se candidatar novamente (com o fator econômico sendo determinante), enquanto a Itália (também sempre cogitada) ainda não entrou de cabeça com um projeto para receber o maior evento da bola oval. Outro potencial candidato, a Irlanda, teve suas pretensões de um Mundial que unisse a ilha toda abalado pelo Brexit e não voltou a falar em relançar candidatura após ser derrotada para sede de 2023.

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Com isso, a decisão provavelmente será sobre quem receberá primeiro o Mundial. E a resposta aqui dificilmente sairá do óbvio: Austrália 2027 e Estados Unidos 2031. Isso significaria exatamente a mesma estratégia de quando o World Rugby escolheu no mesmo processo seletivo a Inglaterra para receber 2015 e o Japão para sediar 2019. Até então, jamais a Copa do Mundo de Rugby havia sido sediada por um país que não fosse um dos 8 países que dominam politicamente o World Rugby – Inglaterra, Gales, Irlanda, Escócia, França, África do Sul, Austrália e Nova Zelândia. Com um cuidado extra necessária para o sucesso da competição, a edição no Japão foi disputada após a edição da Inglaterra, isto é, com um Mundial num mercado consolidado antecedente um Mundial num mercado emergente do esporte. A Copa do Mundo representa a maior fonte de receita para o World Rugby e isso significa que primeiro é necessária garantir um torneio bem sucedido comercialmente para depois fazer uma aposta mais arriscado.

A verdade, no entanto, é que o Japão nunca foi realmente arriscado, porque o rugby já era um esporte bastante difundido no país muito antes de receber a Copa do Mundo. Ainda assim, aos olhos mais conservadores, havia incertezas – e o Japão acabou se provando um sucesso retumbante.

É fato que o rugby no Japão é mais consolidado do que nos Estados Unidos e tem menos concorrência, dada a força das ligas esportivas norte-americanas, que seguirão competindo ferozmente por atenção com a Copa do Mundo de Rugby. A Major League Rugby ainda está em sua infância e é óbvio que NBA, NFL, MLB, NHL, MLS ou NCAA jamais interromperiam suas disputas por conta do rugby e, com isso, a competição pela atenção do público estadunidense será, certamente, o maior desafio do rugby. Por isso mesmo, é essencial ter tempo para se planejar. Com a pandemia afetando as finanças de todos os países, a Copa do Mundo de 2023, na França, será essencial para sanar as contas, mas um Mundial na Austrália em 2027 contribuiria muito para a busca pela normalização das finanças do World Rugby, dando maior segurança para a aposta nos Estados Unidos em 2031.

Sobre o calendário, é bem possível que os Estados Unidos obriguem o World Rugby a mudar as datas tradicionais da Copa do Mundo. Atualmente, o Mundial de Rugby é sempre jogado entre setembro e outubro, estendendo-se eventualmente até o início de novembro. Para os australianos, o período ideal seria outubro e novembro, uma vez que setembro é tradicionalmente o mês das finais de suas duas grandes ligas esportivas, a NRL (rugby league) e a AFL (futebol australiano). O ajuste seria pequeno. No entanto, para os Estados Unidos, o período entre setembro e janeiro poderia ser desastroso para o rugby, por conflitar com a NFL e com o futebol americano universitário. Um Mundial de Rugby nos Estados Unidos seria melhor aproveitado entre junho e agosto, iniciando-se após as finais da NBA e terminando antes do início da NFL. Trata-se do verão, que poderia trazer problemas de altas temperaturas, as quais podem ser contornadas com jogos noturnos, por exemplo. As negociações estão só começando, mas esses tópicos entrarão nas discussões.

De todo modo, é bem possível que a sequência Austrália 2027 e Estados Unidos 2031 se confirme e ela seria positiva por ajudar a estabilizar um mercado tradicional que andou balançando (a Austrália) e a explorar um mercado imenso e emergente no rugby com óbvio potencial (EUA).