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O nosso colaborador para o Paraná, Carlos Gustavo “Cagu” Woellner fez uma entrevista interessante com Juarez Villela, vice-presidente da Federação Paranaense de Rugby, que contou comentou detalhes do cenário do esporte local, falando sobre novas equipes, cursos, a administração e o campeonato estadual. 

Sendo paranaense ou não, vale a pena conferir e conhecer mais sobre a situação do Rugby no Paraná.

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Para começar, poderia se apresentar para nossos leitores?

Tenho 35 anos, os últimos 8 dentro do rugby tendo jogado e participado da diretoria do Curitiba Rugby Clube. Como jogador fui campeão estadual em 2006, 2007 e 2008, campeão da Copa do Brasil em 2005 e da Liga Sul em 2005 e 2007. Sou servidor público estadual e além dos trabalhos na Federação, sou Vice Presidente (em vias de assumir como Presidente) do Centro Acadêmico de Direito da Unibrasil, onde curso o 9º período.

 

Em sua opinião, como está o Rugby esportivamente falando, no estado do Paraná, em relação a outros estados? Quais as chances de nossos clubes nas competições nacionais (Curitiba no Super X e Londrina na Copa do Brasil)?

Está crescendo num ritmo bom, mas poderia ser melhor. Estamos melhor que a média nacional, mas sem comparação com os paulistas e mesmo os gaúchos e hoje em dia os cariocas estão mais estruturados.
Quanto aos clubes houve uma sensível melhora e nossa torcida é que o Curitiba possa chegar as semi-finais do Super 10, pois ano passado a posição alcançada não esteve de acordo com o nível de jogo, e fazer com que o representante na Copa do Brasil (que ano passado foi o Londrina), a melhor equipe do Paranaense 2013 fora o Curitiba passe da 1ª fase. O Londrina foi muito bem ano passado, teve um pouco de azar e acabou perdendo para o time que veio a se tornar campeão.

 

E na parte administrativa?

Estamos muito, mas muito aquém do esperado. Para operacionalizar tudo, necessita-se de pessoas e temos um déficit tremendo neste quesito. Absolutamente toda a parte de arbitragem, contabilidade, pagamentos, contatos com a CBRu, com os clubes, educadores, árbitros, cursos, uniformes das seleções, contato com Poder Público, relação com os clubes, viagens, tesouraria, escritório, absolutamente tudo passa por somente 3 pessoas.
Uma das metas para 2013, mas que se for aplicada só o será no 2º semestre, é profissionalizar a parte administrativa, com alguém responsável só pelas rotinas burocráticas da Federação.
Tanto a mim quanto ao Presidente Renato Dedini, os trabalhos na FPRu tomam pelo menos 2 horas de trabalho ao dia, sem contar os finais de semana.

 

E quanto a evolução do esporte nos diversos municípios do Estado? Há alguma cidade nova em contato para criação de clubes, inclusão em campeonatos?

Vimos com alegria que Cascavel voltou a se organizar e que Toledo é uma realidade. Cianorte sempre esteve conosco, mas este ano só volta à ativa no 2º semestre. Ponta Grossa está montando um time e em breve vai se filiar à Federação. Organizaremos um conjunto entre Curitiba e Urutau para ajudá-los a divulgar o esporte e devido a proximidade com a capital, o intercâmbio promete ser intenso.

Até 2012 tínhamos a Copa Paraná, uma espécie de “Segunda Divisão” do rugby estadual, mas ela acabou servindo somente para os clubes já constituídos terem um time B jogando. Por isso nossa ideia é esticar o calendário anual para possibilitar a realização de jogos a todos os interessados.

 

Quais são os campeonatos oficiais disputados no Estado? Há alguma intenção de se aumentar ou modificar estes?

Temos hoje um calendário anual, pela 1º vez concebido deste o início até o final do ano.
A FPRu organiza o Campeonato Paranaense de Rugby XV, que está em sua 8ª edição, sendo que de forma consecutiva é um dos mais antigos do país e o torneio estadual mais antigo de Rugby 7´do Brasil, a Taça John Swann que desde 2011 oferta vagas para os melhores colocados no Brasil Seven.
Este ano temos pela 1ª vez, uma temporada de rugby feminino ao longo de todo ano, além de estarmos ao lado das Federações Gaúcha e Catarinense organizando a Liga Sul nos meses de março, abril e maio .
O certame juvenil está dependendo do ok dos clubes, mas as seleções M-16 e M-18 estarão em campo para a disputa da Copa Cultura Inglesa.
Os ajustes e modificações nos campeonatos dependem de Assembleia entre FPRu e os clubes.

 

Quanto a atual temporada, alguns times, pelo sorteio realizado serão obrigados a andar até 800Km a mais que outros, isso daria praticamente uma viagem de ida e volta entre a distância mais longa percorrida. Não seria o caso de se tentar algo diferente do habitual, algo talvez como se faz no Six Nations? Onde em cada ano um time viaja e no subsequente recebe o outro clube?

Essa é a ideia. Aumentamos o número de participantes em 2013 e mudamos o formato, pois nos últimos anos foi jogado somente o turno e retuno sem semi e finais. Este ano, como quebra de paradigma tínhamos que mudar o formato e o sorteio foi a maneira menos traumática de modificarmos o campeonato.
E no sorteio o fator sorte é preponderante, logo não temos como “adivinhar” que algum clube vá viajar X e outro que vá viajar Y para cumprir suas partidas.

 

Quais a visão da federação hoje em relação a isso e como ela pretende desenvolver ainda mais o esporte?

O Desenvolvimento passa muito mais por uma política dos clubes que da Federação. Existe uma falha no entendimento de alguns dirigentes que esperam que a Federação vá até eles ou lhes dê algo. O orçamento da Federação não contempla receitas além daquelas que são pagas com a anuidade dos clubes. A Federação não tem patrocínio, nem dinheiro da CBRu, muito menos dinheiro estatal ou de empresas. Cabe a FPRu a organização de torneios e fomentar o desenvolvimento através de cursos, palestras e capacitação.
E trabalharemos nisso dentro do calendário da CBRu.

 

Quanto a questão de cursos, existe algum no calendário? Em quais locais e datas?

Houve um curso de Tag realizado em Guarapuava. Temos programação para um curso de coaching e outro de arbitragem em Londrina e outro de capacitação em Guarapuava.
A CBRu é parceira da FPRu e estará definindo datas para que possamos receber os cursos. Cabe lembrar que os clubes precisam mandar interessados aos cursos, sob pena de não mais recebermos capacitação.
A CBRu mandará ainda treinadores e observadores para assistirem os jogos e averiguarem a evolução de jogo dos atletas no Estado.

 

Existe alguma dificuldade na realização destes? Quais?

A maior dificuldade demonstrada pelos clubes é quanto a locomoção. Para tentar minimizar isso é que elegemos Guarapuava, no centro do Estado como sede de alguns cursos e Londrina, proxima aos polos de Cianorte, Maringá e Apucarana para sediar os cursos.
Temos dificuldade de pessoal, vide ser do interesse dos clubes capacitarem atletas, árbitros e treinadores. Depende na verdade muito mais dos clubes que da Federação.

 

A federação hoje conta com algum apoio privado ou público? Caso sim, como ele(s) funciona(m) e quais são?

A unica fonte de receitas hoje provém da anuidade dos clubes. Estamos costurando acordos para cessão de uniformes aos árbitros, cessão de bolas para serem repassadas aos clubes e também tentativa de assinatura de convênio com a Secretaria dos Esportes para obtenção de uniformes para as seleções de base, transporte para as competições nacionais bem como algum auxílio financeiro.
O rombo no caixa da FPRu é coberto pelo bolso de seus dirigentes e isso não pode mais acontecer.

 

Qual o apoio dado aos clubes? Existe alguma diferença neste apoio por colocação em campeonatos ou “divisão” (apenas o Curitiba Rugby faz parte da elite nacional)?

Não existe diferença de apoio. A Federação trabalha em duas frentes: indo de encontro aos clubes oferecendo os cursos, apoio técnico, enviando currículo de treinadores e jogadores que se colocam a disposição da FPRu, fazendo o meio campo entre clubes e CBRu para sediar cursos, palestras e workshops e sendo uma espécie de “magistrada”, esperando ser incitada pelos clubes a agir, quer seja na resolução de conflitos, na obtenção de ajuda junto a Secretarias de Estado ou apoio técnico em questões legais ou de regulamentos.

 

Como o senhor vê a escolha de um ex-membro desta federação e apaixonado pelo nosso esporte para secretário de esportes da prefeitura municipal de nossa capital? Mesmo sendo esta uma instituição estadual, isto pode de alguma maneira ajudar?

Ter contatos na política é sempre importante e ajuda a abrir portas. Pelo menos hoje o rugby é recebido e ouvido pelos entes governamentais.

 

Devido às Olimpídas, o Governo Federal ou a CBRu estão de alguma maneira ajudando no fomento de clubes, atletas, ou até mesmo na estrutura da federação?

O fomento ainda não. O pensamento do Governo Federal é muito imediatista e um dos temores é que logo que se passem os Jogos Olimpicos de 2016 a coisa volte a esfriar e voltemos a só nos preocupar com o já consagrado, estruturado e milionário futebol. E nada contra o futebol, esporte o qual também gosto muito!
A CBRu em copntrapartida está já há 3 anos organizando a Copa Cultura Inglesa, reunindo mais de 400 jovens nas categorias M-18 e M-16 e agora também no feminino, incentivando e apoiando a criação de novos talentos.
É projeto de médio e longo prazo, precisamos ter paciência e discernimento em saber que somos não mais que ponte para um futuro brilhante que o rugby brasileiro terá pela frente.

 

Quando é a próxima eleição e como está o planejamento quanto a sucessão ou continuação do trabalho?

A eleição deveria ser somente em 2014, mas o então Presidente Mauro Callegari infelizmente por motivos particulares pediu antecipação do processo sucessório. Ainda não era meu interesse particularmente assumir tantas responsabilidades, até mesmo pelos meus afazeres e por estar na reta final de uma faculdade difícil como a de Direito, mas aceitei o desafio e ao lado do Presidente Renato Dedini em fazer acontecer uma Federação que foi constituída a toque de caixa e num momento de transição, onde o rugby passou a ser coisa séria, porém complicada e fazendo com que gente como eu tivesse que definitivamente sair de campo e buscar ajudar fora dele.
A gestão vai até 2016 e esperamos que aos poucos mais e mais rugbiers se interessem em ajudar e que o bastão possa ser passada a pessoas de bem, conscientes das responsabilidades e com muita vontade de ajudar.
Particularmente quero continuar a ajudar da forma que for necessária e que me sinta útil.

 

Para terminar, gostaria de deixar um recado a nossos leitores?

Pratiquem rugby, 24 horas por dia, dentro e fora de campo.

 

 Escrito por Carlos Gustavo Woellner

 

Fonte: Urutau Rugby