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baixo guandu

O rugby league quer seu espaço no Brasil, mas para viver em harmonia com o union. Essa é a proposta do pessoal de Baixo Guandu (Espírito Santo), que fundaram o primeiro núcleo de rugby league no país, praticando junto dele o rugby union. Localizada no noroeste capixaba, na fronteira com Minas Gerais, Baixo Guandu é um município de cerca de 30 mil habitantes, que se apaixonou em 2013 pelo rugby de 13 jogadores. Assistindo às transmissões da NRL no Sports+, Wanderlan Ferraz se interessou pelo esporte e começou a fomentá-lo em sua cidade. A ideia vingou e até das cidades vizinhas, do lado mineiro, surgiram os interessados. Wander nos contou um pouco mais sobre o rugby (league e union) em Baixo Guandu.

 

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– Como surgiu a ideia de montar um time de rugby league na região de Baixo Guandu? Como vocês conheceram o rugby league e por que o escolheram?

Começamos a acompanhar as transmissões de rugby union na TV e internet, mas a ideia de jogar nunca passou em nossas mentes, afinal jogávamos futebol e por mais que admirássemos rugby union, era um esporte fora dos nossos padrões. Porém, passando os canais da TV, eu vi a transmissão de um rugby diferente. A principio eu o estranhei, mas peguei gosto rapidamente. O dinamismo do league é muito grande e, na minha opinião, ele acaba se tornando um jogo mais divertido que o union. Entendo que a adaptação do futebol para ele seja rápida, sendo assim, logo conseguimos mais interessados pelo esporte e começamos como um pequeno grupo que o praticava.

Mesmo quando descobrimos que ele não era praticado em nenhum outro lugar no Brasil, colocamos em primeiro lugar a diversão que ele nos dava e tomamos como exemplo a NRL,. Nossa inspiração foram os australianos, que são apaixonados por esse esporte, mesmo ele sendo grande apenas naquela região. Nada poderia nos impedir de torná-lo grande pelo menos em nossa cidade.

 

– Vocês também praticam rugby union? Qual a relação entre o Baixo Guandu RL e o Guerreiros da Fronteira? Como os dois times foram formados?

Como já comentei, a principio não nos apegamos à ideia de jogar union. Porém, com a falta de times de league, alguns de nossos atletas quiseram inserir o union também, sem jamais abandonar o foco principal que é o league. Mesmo no union, a base de nosso treino é o league, pois, é muito mais fácil de inserir um atleta no rugby com o league do que o union.

O trabalho com o league é mais interno: como a gente diz é um amor guanduense, que valorizamos. Com o union, procuramos participar de alguns amistosos e torneios para, assim, não ficar de fora do padrão brasileiro que é o union. A nossa ideia é, através do union, também divulgar o league e, quem sabe, popularizá-lo.

 

– O Baixo Guandu RL tem atividades apenas na cidade de Baixo Guandu ou outros municípios também já têm atividades de rugby league?

Começamos um trabalho em Aimorés e em Eesplendor, Minas Gerais, porém, com a falta de condições financeira, tivemos que dar uma parada nos trabalhos nessas cidades. Contudo, os atletas interessados ainda treinam em Baixo Guandu com nosso grupo. Então, por mais que temos atletas de Resplendor e Aimorés, o trabalho esta sendo feito em Baixo Guandu.

 

– Como está sendo feita a divulgação do rugby league na região? Vocês já tiveram apoio do poder público e da mídia local?

Sim, temos recebido apoio, principalmente da mídia local, que sempre faz matérias sobre nossos projetos. O poder publico também não fica de fora, nosso prefeito até disse que quer transformar Baixo Guandu na cidade do rugby.

 

– Quais atividades com o rugby league vem sendo realizadas? Já foram realizadas partidas de rugby league na região?

O trabalho do league é interno, com os treinos semanais. Neste ano, já fizemos dois amistosos com os times locais e uma apresentação em Resplendor.

 

– Quais os planos para o futuro? Vocês pretendem montar campeonatos?

Para 2014, a meta é criar um campeonato de nines com no mínimo quatro times de nossa cidade, e dividir esse campeonato em várias etapas no ano. Também pretendemos criar uma epecie de Stade of Origin, com a seleção dos atletas do Espirito Santo contra os atletas de Minas Gerais. Seriam 3 jogos durante o ano.

 

– Alguém na equipe já havia jogado rugby league? Existe alguma ajuda de estrangeiros? Já entraram em contato com pessoas ou entidades no exterior?

Não, porém no inicio tivemos a ajuda de um australiano que morava em Minas Gerais, que já havia jogado em um time local de league na Australia. Ele nos deu algumas dicas, mas acabamos perdendo o contato.

Entretanto, conseguimos várias pessoas dispostas a ajudar o trabalho. Graças a um amigo que mora na Australia, Conrad Ingra, consegui o contato com Ben Barba, um dos destaques da NRL, ex-atleta dos Bulldogs, que diz estar disposto a ajudar. Também conseguimos incentivos de Pierluigi Gentile, da Liga Italiana, Rodrigo Figliolini, que morou na Austrália e hoje vive em São Paulo, do grupo australiano Latin Heat, que fomenta o rugby league dentro da comunidade latino-americana residente na Austrália, e de outros amigos e amantes de rugby league que sempre me mandam mensagens de incentivo.

 

– O fato de vocês serem os primeiros no Brasil a jogarem rugby league de forma organizada influencia de que maneira o projeto? Como é levar adiante um projeto pioneiro? As dificuldades são maiores para praticar rugby league?

Sem dúvida, precisamos ter calma para fazer a coisa certa, afinal de certa forma somos os representantes brasileiros. É muito complicado trabalhar com algo novo. O fato de não haver outros times, pode dar certo desconforto para alguns, porém adotamos um sistema de trabalho interno visando, assim, compromissos para os atletas. Com paciência e seriedade, tenho certeza que o trabalho irá dar incentivo a outros no Brasil.

Um dos grandes problemas que enfrentamos é um certo receio da prática do rugby league por parte de alguns amantes de union. O nosso foco principal é tirar de cena a rivalidade entre as modalidades e mostrar os benefícios que o league também pode oferecer para o union e, principalmente, para o crescimento do rugby brasileiro.

 

– Vocês já receberam contatos de interessados no rugby league de outras partes do país?

Sim, mas ainda não é um número expressivo. Já tivemos alguns contatos com pessoas de equipes de union e até mesmo de amantes do league perguntando sobre nossa forma de trabalho.

 

– Existe já a intenção de criar uma federação e expandir a prática do esporte?

Sim, essa é a nossa grande meta, pois acredito que tendo uma federação o esporte terá mais espaço e será visto com mais seriedade no Brasil, podendo fomentar a criação de outras equipes. Existe também um grande desejo de quem sabe um dia termos uma seleção nacional.

 

– Quantos atletas hoje vocês têm? Já há rugby league juvenil? E quais as metas para o futuro em termos de números de praticantes e de núcleos de league?

Nós temos hoje cadastrado 30 atletas, porém vamos fazer um trabalho de divulgação em janeiro com panfletos e propaganda de rádio e som de rua. Nossa meta é até março conseguir um número de pelo menos 50 atletas, já para incentivar outros núcleos no Brasil. Temos que fazer o nosso papel de forma organizada e, assim, ser espelho para outros . Sobre o juvenil, tivemos alguns problemas com horários, mas, acredito que até junho começaremos os trabalhos.