Foto: ©INPHO/James Crombie

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ARTIGO OPINATIVO – Num ano que prometia muito, com as típicas tours das seleções do Hemisfério Norte ao Sul e vice-versa e torneios completos e sem qualquer adiamento, acabámos por ter uma reformulação profunda no calendário, com as viagens intercontinentais a não se registrarem por vias da situação pandêmica atual que impossibilitou até que o Rugby Championship se jogasse nos seus moldes normais ou das Seis Nações ficarem completas em Março. Contudo, durante os meses de Outubro, Novembro e Dezembro foi possível completarem-se as Seis Nações, de se realizar o Autumn Nations Cup (um torneio “construído” para preencher a lacuna das tours de Outono) e as Tri Nations, com a Inglaterra a conquistar dois títulos internacionais, assim como os All Blacks, permitindo que haja a possibilidade de escolhermos os melhores treinadores deste ano atípico mas ainda assim com bons jogos de nível Test Match.

Estes são os nossos três comandantes do ano e explicamos porquê é que optámos por cada um dos nomeados… concordas?

EDDIE JONES (INGLATERRA)

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No primeiro posto está o timoneiro da Inglaterra e as razões são mais que óbvias: foi o selecionador com melhor média de vitória/derrota (9 jogos, 8 vitórias e 1 derrota), foi quem levou a selecção da Inglaterra a conquistar dois troféus (as Seis Nações e a Autumn Nations Cup) e que voltou a mostrar aos seus críticos que ainda sabe comandar uma seleção de topo, mesmo sem serem a nação europeia com maior faro para o try (nas Seis Nações ficaram atrás de França e Irlanda, enquanto na Autumn Nations Cup empatou com a França, ambos com 11 tries).

Troféus e vitórias têm de chegar para ser considerado o melhor do ano, não há dúvidas, mesmo que o rugby praticado pela Inglaterra seja pouco espetacular ou efusivo no que concerne à mobilidade da oval ou da criatividade ofensiva, focando-se mais no domínio das formações, no esforço agressivo de recuperação da posse de bola no breakdown ou em outros setores e no ser o mais letal possível quando se abre uma oportunidade para o contra-ataque, elementos decisivos para perceber como se move e avança esta Rosa de Eddie Jones.

Em cinco Seis Nações em que participou, Eddie Jones levantou o troféu por três ocasiões e mostra alguma hegemonia inglesa do momento, a nível continental como mundial, sendo os vice-campeões em título do RWC. 2020 foi efetivamente um ano de sucesso para as cores inglesas e Eddie Jones foi o mestre por detrás destas conquistas europeias, prevalecendo a Inglaterra como o alvo a abater no contexto do Hemisfério Norte, apesar do crescimento entusiasmante da França.

FABIEN GALTHIÉ (FRANÇA)

Não conquistaram as Seis Nações nem a Autumn Nations Cup, verdade, mas foram o elenco mais apaixonante de se ver jogar durante a primeira fase do ano e depois nestes encontros desta janela de internacionais de Inverno improvisada em 2020 e Fabien Galthié merece ser considerado como um dos melhores selecionadores do ano.

Antoine Dupont e Romain Ntamack floresceram como uma das melhores duplas atuais de formação/abertura, enriquecendo a manobrailidade e agilidade destes Les Bleus que ainda se agigantaram no trabalho defensivo, com um contra-ruck de enorme nível que só é ultrapassado pela qualidade no ataque ao breakdown revelando uma excelência no turnover, algo que criou enormes dificuldades à Inglaterra tanto durante as Seis Nações ou na Autumn Nations Cup.

O virtuosismo francês empolgou adeptos, comentadores desportivos e adversários um pouco por todo o Mundo, com um registro alargado de tries (28 no total das duas competições) e uma facilidade em manter uma intensidade louca no ataque, como se viu frente ao País de Gales (um dos melhores jogos de 2020), Irlanda (exibição de gala da França que ficou a três tries de conquistar as Seis Nações) e Inglaterra (letais no ataque e exímios na defesa), devendo-se a Fabien Galthié (e Shaun Edwards) este ressurgimento em força da França que promete lançar candidatura às próximas edições das Seis Nações.

IAN FOSTER (NOVA ZELÂNDIA)

Os All Blacks podem não ter sido a máquina de rugby de outrora, nem ter apresentado aquela agressividade que desconexa inteiros sistemas de jogo, mas no fim de contas conquistaram dois troféus: a Bledisloe Cup e as Tri Nations. Sim, pela primeira vez na sua história perderam para a Argentina e deixaram que a Austrália segurasse um empate logo no encontro de abertura da Bledisloe Cup, contudo também derrotaram Wallabies e Pumas por largos números mostrando que ainda existe uma diferença de qualidade para com os seus adversários, desde que consigam fazer o seu jogo.

Este é talvez o maior problema de Ian Foster, o de manter o mesmo nível exibicional de jogo para jogo, algo que não foi visto em 2020, pois a sequência de resultados só por uma vez foi coerente, como podemos ver pelo registro entre Outubro-Dezembro, com um empate no 1º encontro internacional da época, seguindo-se duas vitórias indiscutíveis frente à Austrália (uma delas por números históricos, 05-43), para dar lugar a duas derrotas consecutivas (pior registro desde 2011) e fechar finalmente com uma vitória demolidora por quase 40 pontos de diferença ante a Argentina.

Apesar das falhas tanto nas opções como na estratégia de jogo, Ian Foster terminou à frente da Austrália e Argentina quer em pontos marcados (118 dentro das Tri Nations, juntando-se mais 43 dos dois encontros da Bledisloe Cup), ensaios (22 no total dos seis jogos disputados em 2020) e consistência exibicional, sendo sem dúvida ainda uma das três melhores selecções dos últimos quatro anos, numa época em que foram capazes de lançar 9 novos All Blacks, dando espaço para um futuro interessante, mas que ainda está envolto em dúvida.