Foto: ©INPHO/James Crombie

Tempo de leitura: 5 minutos

ARTIGO OPINATIVO – O Six Nations 2021 promete ser uma edição “quente” deste torneio histórico do rugby mundial, mas quem serão as seleções com melhores argumentos para conquistar o 1º lugar, em modo grand slam ou não? Para este ano as duas escolhas são óbvias, ambas com as suas justificações, e que vão oferecer o que o rugby tem melhor para mostrar: França e Inglaterra. Por que é que não incluímos a Irlanda ou ir até mais longe e incluir a Escócia? A explicação segue nas seguintes linhas!

 

Inglaterra entre o modo “normal” (quase sempre) efetivo e a necessidade de mudar

- Continua depois da publicidade -

Eddie Jones entra para 2021 como campeão das Seis Nações, servindo a vitória em Novembro do ano passado como uma injeção de confiança aos atuais vice-campeões mundiais, apesar de ter cambaleado em certos momentos da campanha europeia de 2020. A Inglaterra tem problemas na arte da “invenção”, de procurar outro tipo de soluções ofensivas mais assentes no rugby total e de risco contínuo, optando por se resguardar num approach totalmente tático, físico e em que a simplicidade dos processos e o domínio defensivo/físico é o caminho direto para chegar ao objetivo final… ganhar.

A estratégia de jogo mais entusiasmante e emocionante não é a opção nem A nem B para Eddie Jones e o seu staff técnico, pois apresenta uma maior taxa de risco no que toca ao surgimento de erros e fracassos táticos/técnicos, que podem prejudicar a confiança da equipa e dos processos, erro esse notado na final do Campeonato do Mundo em 2019. O “sair fora da caixa” não é uma regra, mas sim exceção, e quando acontece traz benefícios a curto-prazo durante o jogo, já que cria um sentimento de surpresa ao adversário, apanhado numa sequência de ataque inesperada por parte da Inglaterra.

Contudo, e como dissemos, o jogar no risco, de deslumbrar nos processos ofensivos, de procurar outra agilidade de movimentos entre as linhas atrasadas ou de querer proporcionar momentos inesperados, não está nos planos de Eddie Jones e, perante os resultados obtidos nos últimos cinco anos, é aceitável que assim o seja. Para quem se esqueceu, a Inglaterra, desde que está sob o comando do antigo selecionador da Austrália, conseguiu ganhar três Seis Nações (um grand slam), foi finalista no Mundial de Rugby, registrou 18 encontros consecutivos a ganhar (recorde a par dos All Blacks) e levantou a primeira Autumn Nations Cup, sendo neste momento o “bicho-papão” do Hemisfério Norte, revelando-se a selecção mais consistente e equilibrada da Europa.

Os troféus conquistados contam, as várias e diversas vitórias somadas têm relevância maior e o facto de serem vistos como o maior “inimigo” e ameaça no contexto do rugby do Hemisfério Norte, são sinais reveladores da força atual desta Inglaterra. Para 2021, não há margem para dúvida que a Rosa de Eddie Jones apresentará os mesmos argumentos tanto no contexto físico (a Premiership subiu de grau neste ponto, por exemplo), mental e tático, somando-se ainda o surgimento de vários novos jogadores que podem ser soluções para a seleção inglesa desde que Eddie Jones os queira incluir no “processo” e falamos de casos como Joe e Sam Simmonds, Marcus Smith, Jacob Umaga, Jack Willis, Joe Marchant, Bea Earl, Alf Barbeary, Harry Williams, entre outros.

Porém… há uma seleção que tem argumentos similares para criar problemas à Inglaterra, sendo que já os criou em 2020 e essa vontade vai transitar para este ano.


O revivalismo da França segundo a força de Edwards e o gênio de Galthié
Os Les Bleus tinham lançado uma espécie de promessa que o futuro seria mais feliz, após uma campanha interessante no Mundial de 2019, confirmando em 2020 toda essa promessa, já que ficaram a poucos pontos de ganhar as Seis Nações e perderam a Autumn Nations Cup na final, tendo alinhado com uma equipa secundária frente a uma Inglaterra na sua força máxima (com uma ou outra baixa, mas era o elenco preferido de Eddie Jones). Como é que a França mudou quase totalmente num espaço tão curto de tempo?

Três tônicos para tal mudança: a ascensão dos jovens ascendentes das últimas gerações, como Antoine Dupont, Romain Ntamack, Kilian Geraci, Arthur Vincent, Louis Carbonel, Hassane Kolingar, Gregóry Alldritt, entre outros; a construção de uma equipa técnica de sonho, como o caso do departamento da defesa a ficar nas mãos de Shaun Edwards, considerado como um dos grão-mestres da arte de defender, placar e reação defensiva; e a escolha por um selecionador apaixonado pelas novas ideias, em dar liberdade e espaço aos seus jogadores para procurarem soluções nos momentos críticos, mas que tem uma estratégia bem estruturada e “musculada” por um dinamismo constante e fraturante para a oposição.

O revivalismo da França entrou assim em cena em 2020 – não se pode esquecer o trabalho de Jacques Brunel que foi capaz de estabelecer algumas das linhas-mestras que Galthié aproveitou – oferecendo autênticos espetáculos, com um rugby rápido e potente, onde se via um avanço no terreno constante e pulsado por detalhes técnicos de grande riqueza, onde o combo Dupont-Ntamack era um dos elementos nucleares que fazia toda a máquina andar numa velocidade alta. A isto, há que adicionar o impacto da 3ª linha na criação de situações de ataque perigosas, com Charles Ollivon e Grégory Alldritt a serem ao mesmo tempo os autores e beneficiados dessa reformulação da estratégia atacante por parte da estrutura técnica liderada por Fabien Galthié.

E, por último, o pormenor supra importante: defesa. Parece uma componente simplista, mas quem se recordava da França pré-Galthié, rapidamente tem noção de que os Les Bleus cometiam demasiados erros tanto no timing de avanço da linha de defesa ou no envolvimento no jogo no chão e no tackle de apoio. Com Galthié e Edwards, os franceses passaram a ser uma dor de cabeça no tackle, tendo conseguido mais de 20 placagens dominantes na edição de 2020 das Seis Nações, para além de se assumirem os maiores predadores no breakdown, recuperando diversas bolas em momentos que o adversário parece estar perto de chegar ao try, enunciando um poder mental altamente decisivo quando mais importa.

Isto tudo demonstra que a França é, a par da Inglaterra, o grande candidato a dominar e ganhar as Seis Nações 2021. Não inserimos a Irlanda porque os problemas continuam subjacentes à maneira de jogar do elenco de Andy Farrell, sempre dependentes de Jonathan Sexton e Connor Murray (seria fundamental o retorno de Jordan Larmour, James Ryan e Gary Ringrose para a competição) e a Escócia por ainda ser uma seleção frágil no que toca a ter uma 2ª linha de jogadores do mesmo nível que os titulares.