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A fase de classificação do Super 10 se encerrou nessa semana, com um equilíbrio poucas vezes visto no histórico recente do campeonato. Até a sétima rodada, seis times ainda disputavam as quatro vagas (o Pasteur se garantiu justamente nessa rodada) e a briga seguiu indefinida até os minutos finais da última rodada, quando o SPAC desclassificou o Farrapos, classificando o Bandeirantes, que passou mesmo derrotado.

E o que fica de lição com o encerramento dos jogos? O que diferencia os clubes que lutaram até o final por uma das vagas às finais dos demais? Jogadores de seleção, mais recursos?

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Categorias de base. Ainda que seus elencos não sejam inteiramente compostos por jogadores vindos do trabalho de longo prazo, é interessante notar que dos dez participantes, os seis primeiros colocados também são os que possuem categorias de base mais estruturadas e relevantes no cenário nacional. Pasteur, SPAC, Bandeirantes e São José, os classificados para as semifinais, cederam à última seleção M19 que disputou o Sul-Americano nesse fim de semana metade dos jogadores.

Essa é a receita do sucesso duradouro do São José, que luta nesse ano pelo eneacampeonato, com praticamente todos os jogadores do elenco atual jogando junto desde cedo. O Pasteur celebrou em 2013, dez anos das categorias de base do clube, e mais da metade do seu plantel de quarenta jogadores também vem da base. O SPAC é o atual campeão paulista M18 e já nesse ano migrou seus novos talentos para o time principal, além de contar com um grupo que apesar de experiente, deu seus primeiros passes há um bom tempo nas dependências do clube inglês.

O Curitiba, além do ótimo projeto Vivendo o Rugby, que já revelou as atuais campeãs brasileiras de Sevens nas categorias de base, tem mais de dez jogadores do elenco atual formado em casa na base, com a conquista de dois títulos M18 de Sevens e uma terceira colocação na Copa Cultura Inglesa no currículo. No Sul, o Farrapos, apesar da curta existência, foi o primeiro a apostar na base de forma bem estruturada, e esse ano já mostrou o scrumhalf Lucas Mariuzza, que encarou sem medo jogadores com anos de experiência. Segundo Leonardo Scopel, abertura do time gaúcho, pelo menos mais dois jogadores devem integrar o time principal ano que vem, Bruno e Maurício, que defendeu o Brasil no Sul-Americano M19.

Esses feitos contrastam com a falta de representatividade dos últimos colocados nas principais competições de categoria de base, com exceção talvez do BH, que chegou ao terceiro posto no Brasileiro de Sevens M16, mas ainda sim, pouco comparado aos melhores times do Super 10 desse ano.

 

E nos estados?

Dezenas de clubes já acordaram para necessidade de investir na base desde cedo, com projetos em diferentes fases de implementação e resultados variados. Campeão Paulista da série B em 2013, o Jacareí (cinco convocados para o Sul-Americano M19 e com três jogadores já com passagens na seleção adulta), desponta como possível candidato a fazer bonito nos adultos já em 2014. O Charrua, finalista da Copa do Brasil desse ano, também vem apostando nos jovens talentos para substituir jogadores que estão defendendo o clube da capital desde a sua fundação, mas ainda não teve resultados expressivos. O Farrapos levou o título também no M18 esse ano, à frente do ascendente Brummers, gerido desde o início do ano por Gabó Cenamo e do San Diego, que igualmente cedeu um jogador à seleção M19 desse ano e vem renovando seu plantel, depois ficar de fora da luta pelo título principal do seu estado nos últimos anos. Em Santa Catarina, Costão Norte, Joaca e Tapera fazem bonito nos jogos M19 diante do Desterro, grande força do estado, mas que ainda não viu seu sucesso replicado na base. No Rio, a jovem equipe do Cabo Frio levou a segunda divisão estadual, e promete dar trabalho na elite fluminense em 2014.

Nota-se que o investimento na base acompanha o grau de maturidade dos clubes, com a maior parte das iniciativas realizadas justamente onde o Rugby é mais consolidado, o que tende a manter o desnível técnico verificado nas demais regiões da federação por algum tempo. Cabe às Federações locais e clubes buscarem formas de mudar esse cenário.

 

Foto: Adriano Matos/ Jacareí Rugby