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O Paulista Universitário se encerrou no mês de outubro, selando o bi-campeonato do Direito Mackenzie. Mais relevante que o título dos mackenzistas e as performances em si, foi o fato do campeonato ter sido disputado integralmente, algo que não ocorreu nos dois últimos anos.

Para falar sobre o torneio desse ano, convidamos Fábio Mariz, ex-jogador e que assumiu a organização do campeonato nesse ano, Marcos “Pixtola” Correa, jogador do Pasteur que também atua pelo Direito Mackenzie e George “Yogui” Perez, veterano da Engenharia Mackenzie e jogador do Rio Branco, e que disputa a competição desde o início da década de 2000. Juntos podem avaliar o colocar em perspectiva as diferenças entre torneios de alta performance e o quanto se avançou desde os primeiros torneios.

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PdR – (Para Fábio Mariz) Qual a avaliação que você faz do seu primeiro ano gerenciando o torneio universitário? 

PdR – (Para Marcos Correa e George Perez) – Com o seu histórico de participações de alto nível como o estadual e o Super 10, qual a principal diferença que vê ao disputar competições universitárias, no aspecto organizacional?

Mariz – Em nossa estreia na condução da comissão de Rugby Universitário, avaliamos que fizemos um ótimo trabalho, tendo alguns pontos a serem corrigidos, para que sempre se aprimorem os campeonatos de ano à ano. Muito do trabalho feito pela comissão, deve-se ao apoio que tivemos dos times que acreditaram neste projeto e participaram do campeonato. Este ano o Universitário finalmente teve um torneio com início, meio e fim, datas determinadas dos jogos, arbitragem de qualidade, toda estrutura necessária para que se houvesse um bom campeonato . O nível de disputa foi excelente, tivemos um campeão que mereceu esta conquista dentro do campo.

 

Correa – Neste campeonato disputado, em termos de organização, a melhora foi nítida, todas as partidas foram disputadas ao contrario do que ocorreu na ultima edição. Algo que ainda deixou a desejar é o nível da arbitragem, entendo que não podemos colocar árbitros de nível super X, mas os curso deve ser aprimorados e algum tipo de teste real deve ser realizado antes de um arbitro ser escolhido para apitar um jogo.

 

Perez – Quando comecei a disputar os jogos universitários, não tínhamos ambulância, não tínhamos 4º arbitro, mal tinha bola reserva e os bandeirinhas usavam camisa como bandeira! O fato é que os times estão mais bem equipados e levando o Rugby a sério, e isso com certeza ajudou o nível a melhorar também. A intenção e a iniciativa foi ótima, pois em 2013 foi feita uma comissão com 1 integrante de cada universidade, que são os principais interessados em que o rugby aconteça, mas ainda sim ficaram amarrados e tendo suporte de gestões anteriores.

 

PdR – Com o crescimento das categorias de base, o Universitário perdeu o viés de formador de jogadores para os clubes. Como vê essa transição?

Mariz – Como um apaixonado pelo esporte, vejo com ótimos olhos o crescimento das categorias de base nos times de ponta brasileiro. Acredito que só assim o esporte crescerá de forma homogênea e consolidada. Com este crescimento haverá muito mais visibilidade do esporte, assim despertando mais o interesse das pessoas a jogarem, tanto as com pouca idade (categoria de base), quanto os universitários. Esta “disputa” entre quem será o formador só é benéfica ao esporte. O importante é termos uma categoria de base forte, e um campeonato universitário estruturado, assim poderemos formar atletas em ambas as vertentes.

 

Correa – Isso eleva o nível do universitário, criando melhores jogadores que começaram na faculdade. Uso o exemplo de um atleta do meu time, o Rodrigo “Incrivel” Pucci, que começou jogando na faculdade, fez alguns jogos pelo Pasteur, foi a Irlanda aprimorar seu rugby, e ano que vem com certeza estará dando muito trabalho em campo.

 

Perez – Hoje me dia cada time universitário tem em média de 3 a 5 jogadores que vieram das categorias de base de algum dos clubes, e esses jogadores acabam ajudando e muito nos treinos, desenvolvimento técnico e desenvolvimento físico dos outros jogadores, o que acarreta em um tempo menor para se moldar um time com os requisitos básicos para poder participar de um jogo com o mínimo de qualidade técnica. Isso ajuda bastante, pois quando comecei a fazer a faculdade de Engenharia, a maioria dos jogadores não conheciam as regras, o jogo e nunca tinham visto uma bola oval, e ficava tudo sobrecarregado em cima do técnico; e o aprendizado e desenvolvimento dos jogadores demorava mais tempo. Nos campeonatos do passado esse processo de lapidação de um time era demorado, e as vezes mesmo sem saber as regras o jogador entrava em campo e acabava se machucando ou participando de algumas cenas bizarras por conta de não saber as regras. Não, que isso não aconteça mais hoje em dia! rs

 

PdR – Por dois anos seguidos, o torneio universitário não foi realizado integralmente (2012 não teve a competição, e 2011 não terminou). Caso mais equipes disputem a competição, a Arena será suficiente para comportar o campeonato?

Mariz – Temos condições de crescer muito mais o campeonato universitário. Os anos de 2011 e 2012 devem ser esquecidos, os times se uniram e reestruturamos o rugby universitário paulista, pelo menos demos os primeiros passos, para que ele ganhe sua importância de outrora. Uma das mudanças principais que fizemos, foi a modificação no período de disputa do campeonato, antigamente tínhamos 2 torneios por ano, mudamos para um torneio anual. Assim viabilizamos a disputa mais justa, pois os times conseguem jogar contra todos, de forma equilibrada, para que dentro de campo decidam quem é o melhor. Tornando o universitário anual, nos deu uma certa flexibilidade de calendário, assim nos dando a liberdade de gerenciar melhor as datas e sobrando mais finais de semanas para que se encaixe um torneio com mais times.

 

PdR – Quais soluções para a falta de campos, que permeiam todas as divisões do estado?

Mariz – O universitário possui uma vantagem neste aspecto, além da Arena e do campo de São Bernardo (a 1ª rodada deste ano ocorreu lá), alguns times possuem campo dentro das universidades (Ex: Mauá, Fei e Medicina), assim podendo sediar seus jogos em seus campus universitários, aliviando o uso nos demais campos.

 

PdR – Qual o impacto da ausência de times da USP no torneio? 

Mariz – A USP é um celeiro de times universitários de alta qualidade, assim se vê pela conquista da FEA no campeonato de acesso paulista e do belíssimo time da Poli. Não ter times tradicionais no campeonato, como medicina, São Fran, farmácia, entre outros, sempre é ruim para o nível técnico da disputa, entretanto nota-se que a não participação dos times da USP se deram, em regra, pela falta de confiança que se criou com relação ao campeonato universitário. E este ano foi um marco a todos nós, demonstrando que o rugby universitário está ressurgindo com força e organização. Tivemos um ótimo campeonato, sem grandes intercorrências, e isso será fundamental aos times da USP na hora de decidir se jogarão ou não o campeonato ano que vem.

 

Correa – Acho que o impacto é negativo demais! Alguns times da USP tem um nível para ficar na primeira divisão, e outros para bater de frente com times que hoje estão na primeira mas não deveriam estar lá.

 

Perez – O campeonato foi mais curto. Se todos os times da USP estivessem participando, os intervalos entre jogos seriam bem menores e com isso o desgaste, a falta de treino e as contusões seriam maiores. Porém a disputa seria melhor e mais acirrada, seria um campeonato mais disputado.

 

 
 

PdR – Acha que a falta de equipes da USP diminuiu o nível técnico do campeonato?

Mariz – Conforme dito anteriormente o torneio com menos equipes de tradição perde na qualidade técnica, entretanto o nível apresentado pelas equipes este ano foi surpreendente. A evolução da Mauá, o ressurgimento do rugby de alta qualidade na Puc, a quantidade de atletas começando na base da Engenharia Mackenzie, as qualidades individuais do Pacto, a determinação apresentada pela Fei e o grande embate entre UNIP e o bicampeão Direito Mackenzie, provaram que o universitário possui vários centros de desenvolvimento, deixando para nós da comissão, a sensação de que a cada ano o nível será melhor, e que se a USP decidir se juntar neste projeto, o rugby universitário voltará a ter o espaço que é merecedor.

 

PdR – A FPR pretende incentivar a disputa de torneios Seven-a-side em 2014? 

Mariz – Nós da comissão temos pretensão sim de fazer um torneio de seven, tanto masculino quanto feminino. Este ano focamos nossas atenções no campeonato de XV, pois como novatos não sabíamos o que viria de intercorrências na organização. Em 2014 já possuímos um conhecimento melhor, assim podemos começar a pensar em expandir nossas atuações além do rugby XV. Inclusive há uma pretensão de se fazer um torneio de seven universitário no interior do estado, visando a participação de times que não possuem condições de virem até a capital jogar.

Esclarecendo, este ano tivemos três campeonatos universitários de seven, o paulista que foi organizado pela FUPE, o brasileiro organizado pela CBDU em ambos a UNIP foi a campeã. Tivemos também o torneio universitário de seven da FEA-USP, realizado no ultimo fim de semana e que teve a São Fran como campeã.

 

PdR – Foram registradas reclamações quanto ao nível de arbitragem dos jogos universitários. Qual a solução para evitar problemas com a arbitragem no futuro? A FPR vai realizar mais cursos de arbitragem no próximo ano?

Analisando o campeonato, percebemos que no seu início (primeiro semestre) o nível de arbitragem foi mediano, entretanto a diretoria de arbitragem da FPR foi eficiente e escalou árbitros de mais rodagem no segundo semestre. Foi sensível a mudança da arbitragem durante a disputa.

O que nós da comissão achamos, é que não podemos apenas criticar a FPR pela qualidade dos árbitros que são escalados para o universitário, temos que incentivar a criação de outros, dentro do próprio universitário. Inclusive eu e o representante da Mauá, tivemos algumas conversas com o Sr. Flávio Santos da CBRu, visando a criação de um curso de arbitragem para atletas universitários. Esta conversa será retomada, para que vire realidade em 2014.

 

Correa – Como já havia comentado como ponto negativo do campeonato, tem poucos árbitros que realmente sabem como conduzir uma partida, muitos que acham que tem o rei na barriga e não chegam a aceitar que o capitão ressalte algo ocorrido durante o jogo que escapou do olhar do arbitro, e alguns bandeiras que poderiam almoçar com a família ao invés de perder o tempo dele e atrapalhar um jogo. Mas mesmo que em minoria ainda tem árbitros bons no universitário.

 

Perez – Gostei da arbitragem. Os árbitros na maioria das vezes foram os mesmos que apitaram o Campeonato Paulista, todos federados. Em alguns jogos cheguei a pegar o mesmo árbitro do Paulista no sábado para o jogo do domingo no universitário! O fato de os universitários não saberem completamente toda as regras dificultava um pouco mais para os árbitros, mas no contexto geral a arbitragem foi boa!

 

PdR – Quais os próximos passos da comissão para organizar o campeonato de 2014?

Mariz – Nós da comissão iremos nos reunir juntamente com os demais times participantes do campeonato deste ano, para analisar todos os pontos positivos e negativos da disputa, visando o aprimoramento no ano que vem. Também convocaremos uma reunião aos times interessados a participar do campeonato de XV ano que vem.  Esperamos contar com mais times, crescendo cada vez mais o campeonato universitário.

 

Correa – Alem do calendário e do preço, que ainda achamos muito elevado, uma conversa com times da USP mostrando que o campeonato realmente melhorou apesar de alguns pontos que acredito que ano que vem melhorem, para tentar traze-los de volta e assim fazer um campeonato mais elevado e mais competitivo.

 

Perez – A comissão organizadora deve continuar sendo composta pelos universitários e totalmente independente de gestões anteriores. Deve haver uma política clara e transparente, com isso acredito que mais times ingressarão no campeonato. Deve haver uma confraternização e premiação no final do campeonato entre TODOS os times, no intuito de fortalecer mais o esporte. Para finalizar, acredito que alguns jogos do universitário deveriam ser intercalados com os jogos do Paulista na intenção de os jogadores da série A encontrarem futuros jogadores para o seu time e quem sabe começar a surgir convites para ingresso em clubes e para os universitários seria bom pois eles estariam vendo as diferenças técnicas entre os dois campeonatos, e até mesmo se interessando em melhorar tecnicamente ingressando em algum clube.