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Últimos dias do ano, é hora de fazer o balanço do que de melhor rolou nos campos do Brasil em 2010, e ver se evoluímos em relação à 2009.

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O Blog do Rugby acompanhou de perto tudo o que ocorreu nos campos do Brasil em 2010. De perto mesmo. Ao todo, a equipe acompanhou quase cinquenta partidas in loco, além de eventos relacionados ao esporte, fez quase 2500 fotos e 50 vídeos, conseguindo assim trazer com muito mais detalhes os melhores lances do Rugby no país.

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Apesar de um pouco mais distante, levou a todo o Brasil resumo das principais partidas dos campeonatos do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná e a nova força que vem do interior a primeira de muitas edições do estadual de Minas Gerais e a nova versão do Pequi Nations no Centro Oeste, levantando inclusve a tabela de atilheiros em cada um dos campeonatos, algo que nunca havia sido feito em nível nacional até então.

A gestão profissional toma conta do Rugby

Esse talvez seja o fato mais importante de 2010. A Confederação Brasileira de Rugby completa apenas um ano de vida, substituindo à antiga ABR, mas já mostrou muito resultado. À moda da antiga entidade, também é regida por ex-jogadores de rugby, mas com um plano de longo prazo, metas definidas e um plano de ação concreto, a entidade conseguiu atrair de vez a iniciativa privada para o esporte, que passam a ver no Rugby e nos valores que ele propaga, uma forma de obter retorno positivo para sua imagem.

Conseguiu ainda captar recursos junto à órgãos governamentais que foram essenciais para a realização de investimentos e que tiveram como resultado a melhoria da preparação das seleções adultas masculina e feminina. Ambas equipes tiveram a chance de participar de mais campeonatos em 2010 (nesse ponto, as meninas precisam de mais atenção ainda, mas esse talvez seja o peso de ser soberana no continente).

O Plano de 2011 projetado pela entidade, durante o Troféu Brasil Rugby, em dezembro desse ano, é ambicioso, mas, se havia alguma dúvida sobre como seria o desempenho de uma entidade presidida por uma chapa eleita em meio à muita confusão, como foi o pleito do ano passado, agora, a confiança de que os objetivos traçados deverão ser cumpridos, é plena.

As grandes empresas desbravam o Rugby brasileiro

No final de 2009, o coração mandou e a Topper passou a ser a primeira multinacional a vestir a seleção brasileira. Apesar da prometida camisa branca apresentada no último SPAC Sevens nunca ter visto a luz do dia, em maio desse ano a empresa passou a vender uma linha completa de camisas oficiais, camisas pólo e bonés, ainda com o logo antigo da ABR, e a empresa viu que a aposta foi certeira. Mesmo com um preço pouco acima da média, em pouco tempo os lotes da amarelinha (ou verdinha no caso da camisa 2) sumiram das prateleiras, mostrando a demanda reprimida por produtos de Rugby e que só uma empresa de grande porte consegue viabilizar em nível nacional. Nesse ano, a empresa renovou o seu contrato com a CBRu, e se garantiu como marca oficial do Rugby brasileiro até o final de 2013.

Nesse ano, a Topper ganhou a companhia do Bradesco, um dos maiores bancos do país como patrocinador da CBRu. Como parte da estratégia do banco em apoiar o esporte olímpico até 2016, escolher o Rugby foi uma solução natural, visto que Rio2016  marcará o retorno do esporte aos jogos olímpicos, e o Seven a Side tem ótima aceitação do público.

Ainda em 2010, mais três fabricantes de material esportivo apareceram nos campos do país. A Kappa não perdeu tempo e passou a vestir os atuais hexacampeões nacionais, o São José, enquanto que a ASICS apostou nos vice campeões nacionais de 2010, o Desterro. A Flash, fabricante argentina, já estava presente no país, vestindo as equipes do BHRugby, Jequitibá e Unicamp, mas a aposta que a empresa deve fazer para 2011, faz a empresa merecer a menção como um dos destaque.

Esse é um movimento irreversível no Rugby nacional, e 2011 deverá ver muitas outras empresas participando desse universo de apaixonados.

A força silenciosa que vem do Rio Grande do Sul

Até alguns anos atrás, equipes como o Charrua e Guaíba eram as poucas referências mais notáveis que existiam do esporte no estado. Mas os gaúchos nunca estiveram aodrmecidos para o Rugby. Em um projeto de longo prazo, comandado por Nilson Taminato, o Rugby no estado cresceu e se desenvolveu, e 2010 viu o surgimento de um grande número de equipes, participando ativamente dos campeonatos do estado. No meio de tantas equipes, eis que surge uma de uma cidade desde sempre conhecida pelos vinhos.

É verdade que a equipe do Farrapos já está em atividade a pouco mais de três anos, mas 2010 selou a equipe como líder do estado, tornando-se o maior vencedor de campeonatos estaduais, com forte rivalidade com o Charrua, da capital Porto Alegre, e ainda, será o primeiro representante gaúcho no campeonato brasileiro, o Super 10, em novo formato a partir de 2011. Apesar da pouca idade e pela primeira vez enfrentando alguns dos grandes times do país, a equipe não dá mostras de querer ser um mero coadjuvante na estreia. Como credencial, apresenta um pack de forwards fortes e rápidos, o título da Copa do Brasil em sua primeira participação e  ainda, apresentou o primeiro estádio dedicado ao Rugby no país.  

É possível ver ainda muitas iniciativas nas categorias de base das equipes, pavimentando o caminho para um futuro glorioso para o Rugby no estado, que tem ainda como benefício de estar muito próximo de Uruguai e Argentina, facilitando o intercâmbio de conhecimento. Atenta a tudo isso, está a Federação Gaúcha, entidade que rege o Rugby no estado, e que organizou e criou uma seleção, que participou de uma série de amistosos nas mais diversas categorias no começo do mês

Seleções nacionais conseguem bons resultados no exterior

Foi-se o tempo em que os jogadores deixavam o dinheiro que tinham (e as vezes, que não tinham) para poder se dedicar ao grande orgulho que era vestir a camisa da seleção brasileira. Graças ao apoio financeiro e logístico propiciado pela CBRu, as seleções brasileiras conseguiram bons rsultados nos campeonatos que disputaram em 2010. Recém alçado à modalidade olímpica, o Seven a side mereceu destaque, e terminou vice campeão da Taça de Prata do Sevens de la República, perdeu por apenas cinco pontos da Argentina no sulamericano e terminou na 4ª posição do Sulamericano, além de vencer um amistoso contra os Estados Unidos em um torneio paralelo ao Sulamericano.

No XV, o Brasil consolidou de vez sua superioridade diante do Paraguai, e computa a terceira vitória seguida sobre os rivais em sulamericanos. O clima não é de acomodação no entanto, pois os pequenos Yacarés venceram o Brasil no sulamericano junior, que ocorreu em setembro.

No feminino, as Amazonas continuam sem adversários na américa do Sul, garantindo, sem sustos, o hexacampeonato, e fica o desafio para a CBRu levar às meninas a um novo patamar de disputa, com a presença em mais campeonatos internacionais, e, com apoio das federações, fortalecendo os campeonatos estaduais, que praticamente inexistem. Em Dubai, a seleção mostrou força novamente ao terminar na décima posição no Torneio Internacional, disputado em paralelo à etapa masculina da Série Mundial de Sevens

O reconhecimento aos talentos nacionais

Coroando o final de temporada, a CBRu criou uma premiação, apoiada pela Topper, à moda da premiação realizada pela IRB, para eleger os melhores do ano, que, em cada uma das categorias, tiveram que superar difíceis oponentes para sairem consagrados do escritório do Pinheiro Neto Advogados, onde foi realizada a cerimônia.

O rateio dos clubes

O Super 8 de 2010 foi uma das edições mais disputadas dos últimos anos, com partidas decidias nos últimos minutos e muita emoção dentro de campo, como deve ser. No entanto, o Desterro, que acabou na vice liderança, passou sufoco não só dentro de campo, nas partidas contra o Curitiba e o Pasteur (talvez o melhor jogo do ano) mas também fora dele. Por muito pouco, a equipe não conseguiu jogar a partida decisiva contra o São José, e que definiria a competição, o que colocaria por água abaixo os esforços da CBRu na imagem construída até então de responsável por colocar o rugby nacional nos trilhos. O motivo, a falta de dinheiro, expôs uma prática corrente na organização do campeonato, que consiste na soma dos custos de todas as equipes ao longo do campeonato e a divisão igualitária para todos, o famoso rateio. Como existe uma disparidade muito grande entre as distâncias, e consequentemente, os custos de cada equipe, chegou-se à essa situação.

Houve quem dissesse que a culpa seria de uma falta de organização do Desterro, que também sofre com a falta de campo, mas não se pode dizer isso de uma equipe que além de fechar um belo acordo com a ASICS, com uma empresa de marketing esportivo e está preparando um grande campeonato de Sevens.

A CBRu, não se responsabiliza pela definição do modo de transporte das equipes, e por isso não interveio na questão, mas o fato é que um modelo definitivo deve ser fechado, com mediação da entidade, para que fatos como esse não prejudiquem todo trablho de resgate que foi feito ao longo do ano. Para 2011, com a inclusão de mais duas equipes, uma delas na Serra Gaúcha, esse tema será crucial, e deverá voltar à tona para discussão.

Etapa de Niterói do Circuito Brasileiro de Sevens é cancelada

Na esteira dos acontecimentos relacionados ao rateio dos clubes, a equipe do Niterói anunciou em novembro, a impossibilidade de realizar a tradicional etapa do Circuito Brasileiro de Sevens, devido a indisponibilidade de campo para a data proposta pela CBRu, que solicitou a postergação em uma semana da realização da etapa. A etapa, cuja realização era dada como certa para o feriado do dia 15, mudou para a semana seguinte, coincidindo com vestibulares e outros eventos nos poucos campos disponíveis para a etapa.

Como punição, o Niterói acabou perdendo pontos nas categorias masculina e feminina, e pior, ainda, perdeu o direito de sediar a etapa em 2011.

Abram alas para os universitários!

Neste último mês, a CBDU (Confederação Brasileira do Desporto Universitário) organizou a primeira edição de um campeonato nacional de Rugby, na modalidade Seven a side, seguindo a tendência da alorização dessa modalidade em detrimento ao XV, não só devido o seu caráter olímpico, mas também pela facilidade logística que seria organizar um campeonato longo entre instituições situadas a milhares de quilômetros de distância. A competição foi divulgada às pressas, apesar de muitas instituições já terem conhecimento de sua idealização com muito tempo de antecedência, o que mostra o descaso que sofre um esporte ainda pouco conhecido do público. Aos poucos no entanto, surgem mais equipes, e a expectativa é que mais estados sejam representados em 2011. apesar de tudo, a organização foi muito boa e as disponibilizou uma estrutura com condições de receber o evento. 

O estado de São Paulo, onde os universitários possuem muita força com a realização regular de um campeonato estadual com duas divisões, foi palco da competição, que acolheu jogadores de seis estados do país, e ao final Poli (USP) e UCL (ES) sagraram-se campeões. Além do Espírito Santo, estado com pouca tradição no esporte, viu-se a força dos times da Bahia e Recife, igualmente com pouca tradição, igualmente apaixonados pelo Rugby e empenhados em fazê-lo crescer em seus estados.

O sucesso do campeonato foi imediato, e para 2011,já há uma nova edição preparada, no mês de maio.

Um campo para as equipes de São Paulo

A cidade de São Paulo sofre com espaços para a prática de esportes. O Rugby, um esporte com poucos praticantes, e que requer um espaço equivalente a um campo de futebol para sua prática adequada, sofre ainda mais. Com o surgimento de novas equipes tanto universitárias quanto clubes, a falta de espaços para treinamentos se acentuou, e enquanto não existem parcerias em quantidade suficiente com entidades privadas, e a prática do Rugby em campos públicos de futebol às vezes não é bem vista não haviam espaços dedicados para o Rugby, a Federação Paulista, com muito custo, conseguiu no segundo semestre, junto à secretaria municipal de esportes, um campo dedicado à prática do rugby, na zona leste da cidade, que até então, tampouco contava com uma equipe a lhe representar.

Nesse sentido, o campo serviu também para abrir uma nova frente de expansão do esporte na cidade, e a famosa ZL já tem o Tatuapé Rugby para acolher os entusiastas que moram na região. Desde que suas portas se abriram, diversas equipes passaram a ocupar o espaço, e aos poucos as muitas vozes resistentes à destinação do campo para um esporte diferente do futebol (cuja procura é intensa naregião) vão se calando e a Federação Paulista prevê a reforma do campo já em 2011, para sediar jogos dos principais campeonatos geridos pela entidade. 

A divulgação do Rugby atinge um novo patamar

Não foi só a CBRu e as federações, as grandes responsáveis pelas boas notícias no Rugby nacional em 2010. Na verdade, os canais que que divulgam essas boas (e as más) notícias deram a sua contribuição para que todos seus entusiastas possam saber mais sobre o que se passa no país. 

Enquanto que foi possível ver com alguma regularidade, matérias sobre o Super 8 no Bandsports, a ESPN se dedicou a transmitir os melhores principais campeonatos da Europa (apesar das falhas recorrentes), os canais regionais começaram a divulgar suas equipes (motivadas provavelmente pelas Olimpíadas de 2016) e os sites e blogs procuraram divulgar todos os acontecimentos relacionados ao Rugby, seja uma possível formação de um time em Rondônia, uma equipe ensinando Tag Rugby nas escolas em Palmas (TO) até a final antecipada do Super 8 e o SPAC Sevens.

A CBRu, atenta à necessidade de apoiar os meios de comunicação, contratou uma agência especializada na divulgação de suas ações, e viu cada vez mais jornais de renome estampar sua sigla em suas páginas. Criou ainda, uma categoria para premiar o trabalho da imprensa durante o Troféu Brasil Rugby, onde o Blog do Rugby saiu-se vencedor. Canais especializados como o Terceiro tempo, que divulgou como ninguém o Rugby no Rio Grande do Sul, também apareceram e contribuíram para alcançar cada vez mais público, e servir como ponto para novos adeptos trocarem ideias e formarem seus times. Mesma função das redes sociais, que continuam como forums para trocasr ideias e aprender ainda mais sobre o Rugby.