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O rugby inglês foi do céu ao inferno em 2011. Após um início de ano perfeito, com a conquista do Six Nations, quebrando um jejum que se arrastava desde 2003, a seleção inglesa de rugby iniciou um lento declínio, que se consumou com a eliminação para a França nas quartas-de-final da Copa do Mundo, precedida por uma série de episódios polêmicos envolvendo atletas e comissão técnica. Junto da seleção, a RFU (Rugby Football Union, a União Inglesa de Rugby), entrou numa crise institucional sem precedentes.

Em maio, o então presidente da RFU, John Steele, deixou o cargo sob pressão após propor mudanças na estrutura de alto rendimento da união, com a criação de um cargo que supervisionaria a seleção nacional (para o qual indicaria Clive Woodward, técnico campeão do mundo em 2003), criando atritos com a comissão técnica. A RFU vinha de uma crise financeira, tendo terminado 2010 no vermelho, o que levara a uma avalanche de críticas e as discussões sobre a reorganização da estrutura da entidade, visando torná-la mais profissional e eficaz.

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A queda de Steele levou a um turbilhão de mudanças administrativas na RFU. Pouco antes do início da Copa do Mundo, Jeff Blackett, juiz do comitê disciplinar da RFU, publicou um relatório diagnosticando que a adminstração da RFU estaria quebrada, com rachas profundos e desagregadores. Blackett apontou Martyn Thomas, que sucedeu a Steele na condição de interino, como um dos responsáveis tanto pela queda do antigo CEO como pela desordem reinante na entidade. O relatório de Blackett apontou ainda para os danos na reputação e imagem da RFU, que poderia perder parceiros comerciais importantes, preocupados com o caos reinante.

As tensões na cúpula levaram a instabilidade na equipe nacional durante a Copa do Mundo, que culminou com a eliminação da Inglaterra. O ápice da crise veio após o fiasco na Copa do Mundo, com o vazamento de uma relatório da RFU, que categorizou a atitude dos jogadores ingleses como pouco profissional, atribuindo os resultados pouco satisfatórios à desunião do elenco e à falta de comando da comissão técnica (que não soube lidar com as saídas noturnas de alguns jogadores, que desestabilizaram a equipe e atrairam os holofotes negativamente). Para piorar, o diretor de alto rendimento, Rob Andrew, teria declarado que os alguns dos jogadores ingleses só se preocupavam com dinheiro. As críticas caíram rapidamente sobre Johnson e Andrew, assim como sobre o capitão Lewis Moody e sobre  Mike Tindall, capitão durante os primeiros jogos do Mundial e pivô do caso da "noite neozelandesa", que foi afastado da seleção e multado pela RFU.

Andrew, por fim, declarou que todos têm culpa, e jogou "panos quentes" sobre o caso, passando à uma segunda nova polêmica: a discussão sobre as atribuições do pouco claro cargo de diretor de elite que ocupa. Johnson, por sua vez, pediu demissão do cargo de técnico da seleção, saindo profundamente desapontado. Andrew, por outro lado, não pediu demissão de seu cargo.

O bombardeio à RFU se seguiu com críticas vindas do Ministério do Esporte, com o ministro Hugh Robertson dando pesadas declarações, se dizendo decepcionado com a situação da seleção inglesa de rugby e da RFU, considerando os fatos ocorridos uma vergonha, e atribuindo-os à falta de profissionalismo, planejamento e expertise. Robertson ainda apontou para a divisão do rugby inglês, faccionado, e para o sentimento de que nem todos na entidade estão trabalhando para que o rugby evolua. Nas palavras de Robertson, o rugby inglês ainda não terminou o processo de transição da estrutura amadora para a profissional. No fim de novembro, foi a vez de Martyn Thomas, enfim, cair.

Para melhorar um pouco a situação, o balanço final do departamento financeiro da RFU apontou para um lucro recorde de £14.8 milhões, ainda sem descontar os impostos.

 

Inglaterra com técnico e CEO novos

Em dezermbro, assumiu o cargo de presidente da RFU o ex-diretor de Aberto de Wimbledon, Ian Ritchie, que prometeu dar estabilidade à entidade.

Já a seleção inglesa teve seu novo técnico anunciado: é Stuart Lancaster, que terá Graham Rowntree e Andy Farrell como auxiliares. Lancaster será o técnico interino da seleção, e não deverá permancer no cargo por muito tempo, a não ser que obtenha sucesso. Lancaster foi técnico do Leeds Carnegie até 2006, quando se tornou diretor do clube. E ingressou na RFU em 2008, como diretor de alto rendimento, a convite de Rob Andrew.

Após a queda de Johnson, muitos nomes foram cogitados, incluindo estrageiros (como o neozelandês John Kirwan e o sul-africano NicK Mallett), o que desagradou a parte da opinião pública e dos rugbiers ingleses, que questionam a necessidade de buscar um treinador no exterior e de seguir os passos da seleção de futebol.

 

Fontes: Telegraph, Planet Rugby e Blood&Mud