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O Campeonato Português já conhece os finalistas da temporada 2012-13. E quem traz as informações é António Henriques, do site Mão de Mestre.

 

Um sofrido triunfo sobre Agronomia (32-27), que incluiu o aproveitamento exemplar de dois brindes, garantiu aos campeões nacionais a sua segunda presença na final do campeonato, onde terá pela frente um calejado Direito que chega à parte decisiva da época em bom plano e que no Restelo, venceu e convenceu (19-5) azuis confusos e que se exibiram de forma demasiado pobre.
 
Fruto do domínio inicial exercido e dos quatro ensaios marcados pouco depois da meia-hora, poucos no EU Lisboa suspeitariam que fosse tão cheio de obstáculos o caminho dos campeões nacionais rumo à final do Jamor.
E o audível suspiro de alívio dos adeptos universitários no final do encontro é um óbvio cumprimento à heróica exibição agrónoma que, com uma 2.ª parte de grande coragem e bravura, assustou, e de que maneira!, o CDUL, merecendo sair da prova de cabeça bem erguida.
Chapeau para a Tapada!

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Os campeões impuseram de início um ritmo elevado e logo no minuto inicial marcaram num lance demasiado rápido para a defesa da Tapada.
Ruck bem limpo, Pinto de Magalhães tira a bola rapidamente dali e passes tensos fazem a oval chegar como um raio ao ponta Gonçalo Foro para o seu sétimo ensaio na prova.
Tudo ainda mais rápido do que demora a descrever a jogada.
Curiosamente, nos primeiros 20 minutos, quando Agronomia foi à área de 22 contrária saiu com pontos, graças a duas penalidades de Duarte Cardoso Pinto, mas sempre que o CDUL, num imparável rolo compressor abria rapidamente a bola até à ponta era um vê-se-te-avias na defesa visitante.
E aos 13 e 23 minutos, em lances quase a papel químico – avançada poderosa a ganhar terreno, bola rápida a sair dos rucks, passes bem medidos para a esquerda do ataque e toque de meta no mesmo canto de terreno – João Lino e Carl Murray faziam ensaios, para 20-6.
O quinze da Tapada só criava alguns problemas por intermédio do centro Guilherme Covas, que atacava os intervalos com grande sageza e como enguia escorregadia, ganhava metros e metros com a bola nas mãos fintando tudo o que lhe aparecia pela frente.
Pena que poucas vezes fosse bem acompanhado…
Até que aos 31′ o 2.ª linha Daniel Faleafa lesionou-se (rotura), sendo obrigado a abandonar o terreno, o que iria trazer consequências nefastas para o CDUL, pois a partir daqui o combate de avançadas começou a pender para Agronomia. Exceto nos alinhamentos, onde os homens da Tapada estiveram… rasteirinhos.
Um brinde do defesa Pedro Lorena, ao largar uma bola fácil captada por Nuno Penha e Costa, originaria o quarto ensaio do CDUL aos 33′ – feito inédito nesta época, já que Agronomia nunca concedera mais que três numa partida –, para folgados 27-6.

Mas até ao intervalo e com alma até Almeida, o quinze da Tapada tomou conta do jogo através da avançada, empurrada pela fantástica atuação dos enormes Marthinus Hoffman (vindo de lesão e algumas vezes assistido, esteve ainda assim mesmo abaixo do que já lhe vimos fazer esta época) e do batalhador n.º 8 António Duarte, o melhor em campo.
E com o CDUL todo em cima da linha de área durante largos minutos, conseguiria em esforço e poder fazer dois ensaios por Hoffman (mas Afonso Nogueira só concederia o segundo…), para os 27-13 no descanso.
O 2.º tempo foi quase todo dominado pelos visitantes, apesar do CDUL marcar primeiro, aos 48′, quando Penha e Costa aproveitou novo brinde – o sistema bar aberto continuava a funcionar pelas banda da Tapada… –, interceptando passe de Lourenço Kadosh, para 32-13.
Mas a partir daí Agronomia acampou no meio-campo rival – e quando o tonguiano Seti Filo saiu por lesão, ainda mais se acentuaria o défice físico do pack universitário, que sem os seus dois armários estrangeiros começou a abanar por todos os lados – e com ensaios de António Duarte e Cardoso Pinto (este, que começou a abrir o livro, marcou  num fabuloso lance, com um pontapé curtinho por cima da defesa contrária seguido de fantástico mergulho), reduziu para 32-27 a sete minutos do final.
E se o centro suplente Bernardo Campelo, em dois lances em que, com belas linhas de corrida, passou por uma miríade de adversários, tem transmitido a bola em condições, uma incrível cambalhota poderia mesmo ter acontecido…
Só aos 76′ o CDUL voltaria a pisar a área contrária e ao conseguir manter, com classe, Agronomia afastada da sua área, viu correr o tempo e carimbava segunda presença consecutiva no Jamor.
Mas a suada vitória (de Pirro, se perdeu Seti e Faleafa…) deverá fazer pensar os seus responsáveis.  
 
Até por que do outro lado estará o mais matreiro e experiente dos adversários: Direito, que ao vencer o Belenenses, no Restelo, por 19-5, se qualificou para a sua sexta final do campeonato.
Mas ao contrário da equilibrada meia-final do EU Lisboa, este foi um embate claramente dominado pelos advogados, que provaram ter muito mais conjunto que o quinze azul, merecendo por inteiro o acesso à final.
Sem discussão, os advogados dominaram por completo as mêlées (até ganharam algumas de introdução contrária!) e, mais importante, foram claros vencedores da batalha no fulcral eixo 8-9-10, com Vasco Uva, Pedro Leal e Gonçalo Malheiro sempre melhores que João Barreto, Jaime Freire e Manuel Costa.
A muita festa e o ambiente entusiástico nas bancadas não contagiaram os chutadores das duas equipas, que começaram por desperdiçar as primeiras três tentativas aos postes.
Mas a claque de Monsanto cedo pôde festejar, pois num curto quarto de hora a sua equipa resolvia o encontro.
Aos 24’ e após duas tentativas falhadas, Pedro Leal à terceira acertou, após uma
falta mal assinalada.
Sete minutos depois faria os 6-0 e a jogar com um homem a mais (amarelo a Duarte Moreira), Direito marcaria o seu único ensaio ao minuto 38.
Grande lance de ‘Pipoca’, que ultrapassou quatro adversários com duas fabulosas trocas de pés, o apoio a surgir e três passes bem medidos a porem a defesa azul em fanicos, até a bola chegar a Luís Sousa (que começou a asa mas passou para a 2.ª linha com a saída de Eduardo Acosta aos 25’) a só ter que se baixar para marcar o ensaio que Leal converteria (13-0).
Tendo o fundamental Diogo Mateus ausente (com ele a equipa cresce 200 por cento) e com o par de médios sem conseguir pôr a máquina azul a carburar – e neste particular o banco também não ajudou, pois cedo se percebeu que David Mateus tinha que entrar em jogo para qualquer posição (só o fez a meio do 2.º tempo, para ponta) e que se exigia a troca de médio de formação, pois Diogo Miranda teria dado outro andamento ao jogo –
O Belenenses só por uma vez (!) foi à área de 22 contrária. Para lá das enormes dificuldades em conquistar terreno, pois os seus chutadores, nervosos, por quatro vezes não conseguiram que a bola, pontapeada de uma penalidade, saísse do terreno.
Ao contrário dos advogados, que nunca se mostraram nervosos, foram sempre consistentes a defender (belas exibições de Vasco Uva, Alvim e até o entrado Salvador Palha) e à beira do intervalo, uma grande perfuração do centro José Vareta quase fazia o segundo ensaio de Direito, que foi para intervalo na frente, por folgados 13-0.
A 2.ª parte só poderia ser diferente, com os azuis, muito pressionados pelo seu público, mais ao ataque perante advogados a denotarem algum défice físico.
Mas a forma incrível como desperdiçaram, aos 46’ e 71’, dois lances de flagrante superioridade numérica nos três-quartos – circulação tão lenta da oval transformou uma situação de 4 para 1 numa de 2 para 2 que se perderia quando jogavam contra 14 por amarelo a Adérito Esteves, e na outra, com Sebastião Cunha a deixar-se morrer com a bola nas mãos tendo três companheiros isolados ao lado… – castigou merecidamente uma equipa demasiado confusa e que jogou de forma desgarrada, apostando que as arrancadas de Hugo Valente e Sebastião Cunha ou os belos up and unders de Pedro Silva lhes fizesse cair um ensaio no regaço…
O desnorte da equipa da casa foi então bem visível, com Manuel Costa a falhar de forma incrível uma penalidade frontal aos postes (tremia tanto que até na bancada se ouviam os dentes a bater…), e depois Hugo Valente discute uma falta assinalada por Pedro Fonseca e vê amarelo – na sequência da qual Pedro Leal faz os 16-0.
Aos 72’ o Belém conseguiu o seu ensaio de honra, por intermédio do pilar Luís Silva que, colado à linha, concluiu falta jogada rapidamente à mão.
E o jogo terminaria com Direito em cima da área azul e Pedro Leal a converter nova penalidade (foi autor de 14 pontos em pontapés, acertando cinco das oito tentativas aos postes que dispôs), selando os finais e merecidos 19-5.
 
E assim pela primeira vez, CDUL e Direito vão-se defrontar numa final do Nacional, sábado no Jamor.
Os universitários, atuais campeões, procuram o seu 19.º título, enquanto para os advogados a vitória dar-lhes-á o seu 9.º troféu nacional.

 
 
Foto: CDUL x Agronomia. Por: Rugby Photo Store/António Simões dos Santos