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Os times profissionais de Gales estão prestes a romper com a União Galesa de Rugby (WRU) e com o PRO12. Nesta semana, a Premiership Rugby, a liga inglesa, ofereceu aos quatro times profissionais galeses – Ospreys, Cardiff Blues, Scarlets e Dragons – nada menos que 4 milhões de libras (cerca de 15,5 milhões de reais), isto é, aproximadamente o triplo do que ofereceu a WRU para o novo contrato das quatro equipes regionais para a temporada 2014-15 do PRO12. Os times galeses têm até amanhã, dia 31, para assinarem o novo acordo com a WRU ou assumirem a ruptura.

A proposta da Premiership é formar uma nova e mais forte Anglo-Welsh Premiership – o Campeonato Anglo-Galês, com 16 times, sendo 12 clubes ingleses e 4 equipes galesas. Entretanto, a participação de times de Gales na liga inglesa necessita da concordância da WRU para poder se concretizar. Caso contrário, as quatro equipes profissionais poderão ser barradas legalmente pela WRU, uma vez que elas estão vinculadas à entidade. O impasse poderá levar à ruptura entre a federação e os times do país, que poderá ter desdobramentos mais dramáticos.

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Caso as equipes regionais – que operam como franquias – sejam impedidas de efetuarem a migração do PRO12 para a Premiership, os clubes mais fortes de Gales (Cardiff, dos Blues; Swansea, dos Ospreys; Llanelli, dos Scarlets; e Newport, dos Dragons), que são membros majoritários das equipes regionais, poderão romper com a WRU e assumir seus postos na Premiership. Entretanto, a RFU inglesa também poderá tentar impedir o movimento, o que criaria uma ruptura entre a entidade máxima do rugby inglês e a liga de clubes, a Premeirship, que opera de forma independente, mas chancelada pela RFU. Sem o apoio consequente da ERC – organizadora da Copa Europeia – e do IRB, os times galeses poderão ser excluídos da próxima temporada do rugby internacional e seus atletas poderão ter suas participações por suas seleções nacionais vetadas, o que levaria os principais jogadores de Gales a escolherem entre seus clubes e sua seleção.

Na última rodada do PRO12, que teve como atração os clássicos nacionais, Ospreys x Scarlets e Blues x Dragons, os torcedores de todas as equipes protestaram contra aquilo que consideram má gestão da WRU.

 

Pontypridd põe a boca no trombone contra as equipes regionais

Se uma guerra civil já se instalou dentro do rugby galês entre regiões e federação, uma guerra civil dentro da guerra civil pode estar se anunciando. Também nesta turbulenta última semana de 2013, o tradicional Pontypridd RFC – atual campeão do Campeonato Galês – ganhou os holofotes com nova polêmica, que tem raízes muito mais profundas. Stephen Reardon, diretor do clube que faz parte da região do Cardiff Blues, chamou a equipe regional de arrogante, criticando a postura do Blues que tirou recentemente do Pontypridd o treinador Dale McIntosh e seu capitão Chris Dicomidis. Reardon questionou a postura das equipes regionais que, ao reclamarem verbas maiores da WRU, utilizaram o slogan “Proteja nosso jogo” (“Protect our game”), em alusão ao fato do rugby profissional galês estar perdendo espaço e jogadores para os clubes mais ricos da França e Inglaterra. Em resposta ao manifesto das equipes regionais, o Pontypridd lançou a campanha “Reclame nosso jogo” (“Reclaim our game”), em alusão ao fato dos clubes do país terem perdido espaço para as equipes regionais.

O argumento tem fundamento. Ao longo de toda a sua história, a base do rugby galês foi seu rugby de clubes e suas rivalidades locais, sendo que as equipes regionais são uma criação recente. Em 2003, com o intuito de fortalecer o rugby interno, a WRU promoveu a criação de equipes regionais, que amalgamaram os clubes do país em times profissionais mais fortes e com mais verbas. Com isso, os clubes foram retirados de cena, saindo do profissionalismo e das competições internacionais. As cidades que não se tornaram sedes das equipes regionais passaram a não ter mais eventos importantes e seguem privadas de assistirem aos melhores atletas do país, com o Campeonato Galês de Clubes se tornando uma mera segunda divisão semiprofissional, sem acesso ao PRO12 e à Copa Europeia – e, portanto, com pouca atenção da mídia e poucas verbas.

Enquanto isso, muitos em Gales consideram um verdadeiro fracasso de público os times regionais do país, que falharam sistematicamente ao longo desses 10 anos em atrair e cativar o público, que, para os críticos, não se identificou com os novos times, entendidos como artificiais. O sintoma é mais claro nas cidades que têm equipes de futebol, com o Cardiff Blues e o Ospreys (de Swansea) levando cerca de metade do público que levam seus conterrâneos do futebol, o Cardiff City e o Swansea City na Premier League inglesa (em um país onde o rugby, e não o futebol, é considerado o esporte nacional).

Na carta publicada pelo Pontypridd, são o alegado fracasso das equipes regionais e o efeito negativo que elas têm sobre os clubes menores, mas traidicionais, como o Pontypridd, que estão em questionamento. O objetivo, ao final, é de ver os clubes voltando ao protagonismo no país. Se a adesão à Premiership poderá promover essa mudança no rugby galês, só os próximos meses de mais turbulências – e talvez revoluções – dirão.

 

Como funciona o rugby em Gales?

Para deixar mais claras as relações existentes entre as equipes galesas, vamos fazer uma síntese.

Quando, em 1995, o rugby se tornou profissional no mundo todo, a principal competição existente em Gales era a Principality Premiership, o Campeonato Galês de Clubes. Em 2001, para fortalecer seus clubes, a WRU se juntou à SRU (União Escocesa de Rugby) e à IRFU (União Irlandesa de Rugby) para formar a nova Liga Celta, uma competição envolvendo os principais times profissionais desses países. Participaram da primeira edição da Liga Celta os 9 clubes mais fortes de Gales à época (Cardiff, Newport, Llanelli, Swansea, Neath, Pontypridd, Caerphilly, Bridgend e Ebbw Vale).

Em 2003, a WRU decidiu fortalecer seus clubes e promoveu a criação de 5 equipes regionais, que juntariam os clubes em equipes profissionais que representariam regiões do país, seguindo o modelo já adotado por Irlanda e Escócia (que, no entanto, já tinham jogos entre seleções provinciais/regionais desde a era amadora, ao contrário de Gales). Foram criados Cardiff Blues, Newport Gwent Dragons, Neath-Swansea Ospreys, Llanelli Scarlets e Celtic Warriors. Em 2004, o Warriors foi dissolvido sendo incorporado por Blues e Ospreys, enquanto Scarlets e Ospreys foram renomeados.

Desde a criação de Blues, Dragons, Ospreys e Scarlets, os clubes galeses passaram a formar uma segunda divisão semiprofissional, sem direito a participarem das competições da ERC – a Copa Europeia (Heineken Cup) e a Copa Desafio Europeu (Amlin Challenge Cup) – e sem a possibilidade de serem promovidos à Liga Celta (rebatizada para PRO12 em 2011). Os clubes mais fortes do país se tornaram os donos majoritários das equipes regionais. Com isso, o controle dos times regionais hoje está dividido da seguinte maneira:

Dragons: 50% Newport RFC, 50% WRU

Blues: 100% Cardiff RFC

Ospreys: 50% Swansea RDC, 50% Neath RFC

Scarlets: 100% Llanelli RFC

 

Os demais clubes do país mantém filiações a cada uma das regiões. Com isso, as filiações dos clubes do Campeonato Galês em 2013-14 são:

Principality Premiership: Pontypridd (Blues), Cardiff (Blues), Carmarthen (Scarlets), Llandovery (Scarlets), Llanelli (Scarlets), Swansea (Ospreys), Neath (Ospreys), Aberavon (Ospreys), Bridgend (Ospreys), Bedwas (Dragons), Cross Keys (Dragons), Newport (Dragons)

Como a Principality Premiership mantém sistema de rebaixamento e promoção, a cada ano os clubes da primeira divisão mudam.

 

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