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As grandes seleções europeias vão entrar em campo pela primeira vez em 2014! País de Gales, Inglaterra, Escócia, Irlanda, França e Itália iniciarão nos dias 1 e 2 de fevereiro a caminhada em busca do título mais importante do rugby europeu, o RBS Six Nations Championship, ou Seis Nações, o torneio mais antigo do mundo!

 

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Formato e taças

A competição tem formato simples, que presa a sua história. As seis seleções se enfrentam em apenas um turno, sendo que o Seis Nações é um dos poucos torneios do mundo que não adota o sistema de pontos-bônus. Seguindo sua tradição de 131 anos, a vitória vale 2 pontos, o empate 1 ponto e a derrota 0 pontos. Antes de 1994, se duas ou mais equipes terminasse empatadas em primeiro lugar, o título era dividido. Porém, desde então, o saldo de pontos é o primeiro critério de desempate usado para definir o campeão.

Além do título do campeonato, estão em jogo outros importantes títulos e taças:

Grand Slam: título máximo do Seis Nações, conferido ao time que vencer todas as suas 5 partidas;

Tríplice Coroa (Triple Crown): disputada apenas entre Inglaterra, Gales, Escócia e Irlanda, a Tríplice Coroa é dada à seleção que vencer todos os seus outros três oponentes das Ilhas Britânicas;

Colher-de-pau (Wooden Spoon): “prêmio” simbólico dado ao último colocado do campeonato. A colher-de-pau clássica, quando o último colocado tiver perdido todos os seus jogos, é chamada em inglês de “Whitewash” (bem limpa). Para os britânicos, a colher-de-pau é atribuída sempre ao último colocado, independente de quantas derrotas tiver sofrido, ao passo que os franceses reconhecem a colher-de-pau apenas para a seleção que perdeu todos os seus jogos;

Calcutta Cup: iniciada em 1873, trata-se do troféu entregue ao vencedor do duelo anual entre Inglaterra e Escócia;

Centenary Quaich: troféu entregue ao vencedor do duelo anual entre Escócia e Irlanda;

Millenium Trophy: troféu entregue ao vencedor do duelo anual entre Inglaterra e Irlanda;

Troféu Giuseppe Garibaldi: troféu entregue ao vencedor do duelo anual entre França e Itália.

 

A história

Nenhum outro campeonato ainda ativo envolvendo seleções nacionais em nenhum esporte (envolvendo três ou mais seleções) é tão antigo quanto o Six Nations Championship. Em dezembro de 1882 (quando no Brasil ainda havia escravidão e Dom Pedro II reinava), foi dado início ao primeiro Home Nations Championship, ou Quatro Nações, o primeiro campeonato envolvendo Inglaterra, Gales, Escócia e Irlanda. O torneio se encerrou em janeiro de 1883 e o título ficou com os ingleses, em uma época que o try não valia pontos, e os jogos eram decididos pelo número de gols (conversões, penais, drop goals ou os hoje extintos goals from mark).

O Home Nations Championship foi expandido em 1910 com a inclusão da França, que já enfrentava os britânicos desde 1908 pelo Grand Slam, transformando-se em Five Nations Championship (Cinco Nações). Nos primeiros anos, o domínio inglês foi desafiado primeiro pela Escócia. Com o racha de 1895 – que levou à criação do rugby league -, os ingleses declinaram e viram o crescimento de Irlanda e, depois, de Gales. Sem vencer o título desde 1892, os ingleses quebraram o jejum em 1910 e voltaram a dominar o campeonato antes e depois da Primeira Guerra Mundial, com a Escócia como principal rival.

Em 1932, a França foi expulsa do Cinco Nações, acusada de jogo violento e práticas profissionais ilegais, retornando ao campeonato apenas em 1947. Com isso, o campeonato voltou a se chamar Home Nations Championship, retornando a ser Cinco Nações apenas após a Seguna Guerra Mundial.

Com o final da guerra, a Irlanda despontou como a grande força europeia, mas havia chegado o momento da França brilhar. Sem jamais ter conquistado um título e por anos à sombra dos britânicos, os franceses dividiram o título pela primeira vez em 1954 e o conquistaram sozinhos em 1959. Os anos 60 e 70 representaram o domínio do rugby vistoso de Gales e França, que viveram suas eras douradas com alguns dos maiores times da história.

Nos anos 80, os galeses declinaram e os irlandeses voltaram a despontar, mas foram os franceses que seguiram vencendo mais taças. Já os anos 90 marcaram a volta da Inglaterra ao topo, vencendo o título em 1991 e rivalizando com a França, sobretudo na era profissional, a partir de 1996. Em 1999, a Escócia conquistou seu último título, no último Cinco Nações. Isso porque em 2000 a competição passaria a ser conhecida como Six Nations Championship, ou Seis Nações, com a entrada da Itália para o seleto grupo da elite europeia.

O domínio da competição seguiu nas mãos de ingleses e franceses nos anos 2000, até Gales quebrar seu maior jejum, de 11 anos, vencendo a taça em 2005, e repetindo o feito em 2008. Já em 2009, foi a vez da Irlanda quebrar seu maior jejum na história, interrompendo seus 24 anos seu títulos. Desde então, o equilíbrio se impôs, com a França vencendo em 2010, a Inglaterra em 2011 e Gales no dois últimos anos, em 2012 e 2013.

Ao todo, 119 torneios foram disputados, com o campeonato sendo interrompido apenas de 1914 a 1919 (pela Primeira Guerra Mundial) e de 1940 a 1946 (pela Segunda Guerra Mundial). Em 1885, 1897 e 1898, o campeonato não se encerrou, por desavenças entre os participantes, ao passo que em 1972 a competição também foi interrompida, pela escalada na violência sectária na ilha da Irlanda. Já em 1888 e 1889, os ingleses optaram por não disputar a competição.

 

A prévia para 2014

O que esperar para o torneio de 2014?

O equilíbrio de forças do rugby europeu parece se manter, com Gales e Inglaterra aparecendo como principais favoritos, seguidos por Irlanda e, com todos os pesares, França. Escócia e Itália, por outro lado, seguem um degrau abaixo de seus concorrentes, mas sabem que não são carta fora do baralho em nenhuma partida e podem surpreender.

Todos os times sabem que o Six Nations 2014 é a prévia para o que cada uma das seleções poderá fazer na Copa do Mundo de 2015, já que a montagem das equipes para o Mundial começa efetivamente agora, com as mentes já se voltando para o ano que vem.

 

Gales em busca de feito inédito

Depois de enfileirar dois títulos e se colocar como maior campeão da história, Gales entra no Six Nations 2014 com fortes ambições de enfileirar o terceiro título consecutivo, feito que jamais foi alcançado por nenhum time na era do Six Nations. A França entre 1986 e 1989 foi a última seleção a vencer quatro vezes seguidas o campeonato, mas, em 1986 e em 1988 os títulos franceses foram divididos com Escócia e Gales, respectivamente. Jamais na história deste torneio, iniciado em 1883, uma seleção conquistou três títulos plenos consecutivos.

Os galeses vivem uma situação complexa. Por um lado, o time é ainda apontado por muitos como aquele que concentra os maiores talentos em seu XV, mas vem passando por ondas de contusões – com Jonathan Davies, Sam Warburton e Jamie Roberts estando longe da melhor forma física – o que coloca em dúvida o fôlego da equipe na busca pelo tri. Da mesma forma, se por uma lado os galeses chegam a 2014 com os ânimos elevados após seu time ter sido a base do British and Irish Lions vitorioso de 2013, por outro o rugby galês vive uma crise sem precedentes extra-campo, com o futuro de seus times profissionais completamente indefinido e cada vez mais conflituoso. É difícil que seus atletas fiquem imunes aos turbilhão que se passa em seu país.

Em campo, Gales terá desvantagem com relação a Inglaterra, França e Irlanda. Os galeses jogarão duas partidas em casa e três fora – incluindo os jogos contra Inglaterra e Irlanda – ao passo que franceses e irlandeses terão três jogos em casa. Já os ingleses podem ter o mesmo número de jogos em casa que os galeses, mas terão o mando de jogo no duelo direto, obrigando Gales a vencer jogos cruciais fora de seus domínios. O time é bom para tal, tendo uma forte primeira linha, uma poderosa terceira linha e backs fabulosos. O problema galês está na parelha de scrum-half e abertura, com o sempre imprevisível (positiva e negativamente) Mike Philips jogando ao lado de aberturas que não se firmam como unanimidades.

 

Inglaterra entra em 2014 com ambição

Apesar de contar com apenas dois jogos em casa, a Inglaterra é apontada como dona do elenco que melhor poderá enfrentar os galeses no Six Nations. A tabela dos ingleses parece positiva e tem como ponto crucial a partida de abertura fora de casa contra a França. Caso o XV da Rosa emerja vencedor do desafio em Paris, dificilmente algum time poderá parar sua caminhada rumo ao título. Com jogos em casa contra os outros dois grandes concorrentes à taça, Gales e Irlanda, os jogos fora de seus domínios contra a arquirrival Escócia e contra a frágil Itália não parecem assustar.

Em 2013, a Inglaterra mostrou grande irregularidade, largando bem no Six Nations para depois sucumbir, sendo atropelada por 30 x 3 por Gales. Desde então, a Inglaterra se fortaleceu, contando hoje com um dos mais poderoso packs do mundo, que poderão dominar seus oponentes. O ponto crítico para os ingleses está na linha, sobretudo em sua capacidade de definição. No ano passado, a Inglaterra teve problemas em anotar tries no Six Nations, o que parece estar sendo resolvido, com novas apostas sendo feitas pelo técnico Stuart Lancaster. Watson, Vunipola, Burrell, Launchbury, Yarde, Wade… olho neles!

 

Irlanda é a terceira força?

A Irlanda aparece no baralho como a terceira força. Os verdes são capazes de fazerem jogos brilhantes como o último contra os All Blacks, e partidas mediocres, como fizeram em boa parte do Six Nations 2013. Jogando três partidas em casa, mas tendo seus dois desafios fora de casa contra Inglaterra e Irlanda, muitas dúvidas pairam sobre o Trevo.

Este será o primeiro Six Nations da Irlanda sob o comando de Joe Schmidt, que tem uma seleção de duas faces nas mãos. De um lado, a Irlanda tem atletas de renome que poderão colocar em campo tudo o que sabem, como O’Connell, O’Driscoll (se depedindo da seleção) e D’Arcy. Por outro, a seleção ainda peca em seu processo de renovação, sofrendo muito com a reposição em seu elenco. Ainda assim, a geração intermediária, de Cronin, Healy, O’Brien, Heaslip e Sexton está em grande alta, e atletas jovens como Murray e O’Mahony vem despontando a cada dia, o que leva ao otimismo de muitos torcedores. A questão para a Irlanda está em manter a regularidade, para que seus talentos aflorem na hora certa, sobretudo nas pedreiras fora de casa que os verdes terão pela frente.

 

Nunca duvide dos franceses

Qualquer um que aprecia o bom rugby sabe: nunca duvide dos franceses. Os Bleus podem ter vivido um pesadelo em 2013 e estão longe de terem uma seleção montada, com modificações a todo momento e com o equilíbrio no elenco ainda sendo um sonho. Mas, a quantidade de jogadores de alto nível que o rugby francês produz é inquestionável e apenas um louco tiraria o XV de France da briga pelo título do Six Nations.

Muito vem sendo dito que o Top 14 poderá pender contra os Bleus. A competitividade do melhor campeonato do mundo exige demais fisicamente dos atletas e a luta acirrada por espaços nos clubes franceses, inundados de estrangeiros, deixa menos espaço aos jovens valores e coloca o foco dos atletas no rugby de clubes, e não na seleção. Tal situação vem exigindo demais dos Bleus em termos de comando. A liderança de Dusautoir é inquestionável, mas o terceira linha pederá o Six Nations por lesão e deixa a dúvida sobre quem será capaz de lidar com os egos e fazer a França se focar no objetivo de ser campeã europeia.

Em 2014, a semana extra garantida de treinamentos para os Bleus poderá fazer a diferença. O problema está na montagem do XV titular, que não está nada fechado pelo técnico Philip Saint-André, sem encontrar o melhor equilíbrio. A indefinição sobre a parelha de scrum-half e abertura, que se altera a todo momento, pesa contra a França, ainda que o tme tenha uma das melhores linhas do mundo ofensivamente – mas que ainda não encontrou a melhor forma defensivamente. O porto seguro parece estar muito mais em seu scrum, sobretudo em sua terceira linha, liderada por Louis Picamoles. A França terá Inglaterra e Irlanda pela frente em casa, e seu grande desafio estará no jogo fora de casa contra Gales – e, incrivelmente, no jogo em Roma contra a Itália, sedenta por nova vitória sobre os Bleus para garantir novamente o Troféu Giuseppe Garibaldi.

A França mostrará a que veio na primeira partida. Uma vitória contra a Inglaterra colocará os Tricolores no rumo certo. Uma derrota aumentará as incertezas.

 

Escócia quer ser grande

Dos times mais fracos do Six Nations, a Escócia é aquela que tem que ser olhada com mais atenção. Em 2013, o XV do Cardo fez um campeonato de muita qualidade e mostrou que seus problemas criativos vem sendo superados com o crescimento de Greig Laidlaw, verdadeiro maestro da equipe. A boa forma recente do Glasgow Warriors e o estilo de jogo aberto do Edinburgh vem dando bons frutos à seleção escocesa, que busca sair da estagnação e modernizar seu estilo de jogo.

A Escócia jogará em casa contra Inglaterra e França, mas terá as outras três partidas fora de domicílio. Ainda com problemas na posição de abertura e ainda precisando provar que tem capacidade de finalização, o XV do Cardo é uma incógnita para 2014, que poderá se provar positiva, pela evolução recente contra os rivais europeus, mas negativa se fisicamente o time não estiver bem ao longo de todo o torneio. No scrum jaz a maior preocupação, com as dúvidas pairando sobre a capacidade dos avançados escoceses de manterem os jogos parelhos contra todos os seus oponentes.

 

Itália rumo à colher-de-pau?

Apesar da evolução demonstrada no Six Nations passado, vencendo novamente a França, a Itália declinou profundamente nos amistosos de novembro e agora volta a ser apontada como a pior seleção do torneio. Os avançados seguem sendo a força dos Azzurri, com sua linha sofrendo nos chutes, na criação – ninguém sofre mais com os aberturas e scrum-halves que a Itália – e com as contusões. Porém, a evolução que a Itália vem apresentando no jogo de mãos é vistosa e ofensivamente poderá ter alguns bons momentos. O problema maior está no campo defensivo, com sua linha ainda sendo uma verdadeira peneira. Além da indisciplina, que preocupou muito em novembro.

Para 2014, os Azzurri precisarão provar seu valor nos três jogos em casa que têm para fugir da lanterna. O mando de jogo contra a Escócia poderá se provar decisivo.

 

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RBS Six Nations Championship 2014 – Seis Nações

*Horários de Brasília

1ª rodada

Sábado, dia 1º de fevereiro

12h30 – Gales x Itália, em Cardiff

Árbitro: John Lacey (Irlanda)

 

15h00 – França x Inglaterra, em Paris

Árbitro: Nigel Owens (Gales)

 

Domingo, dia 2 de fevereiro

13h00 – Irlanda x Escócia, em Dublin – Centenary Quaich

Árbitro: Craig Joubert (África do Sul)

 

2ª rodada

Sábado, dia 8 de fevereiro

12h30 – Irlanda x Gales, em Dublin

Árbitro: Wayne Barnes (Inglaterra)

 

15h00 – Escócia x Inglaterra, em Edimburgo – Calcutta Cup

Árbitro: Jérôme Garcès (França)

 

Domingo, dia 9 de fevereiro

13h00 – França x Itália – Troféu Giuseppe Garibaldi

Árbitro: Jaco Peyper (África do Sul)

 

3ª rodada

Sexta-feira, dia 21 de fevereiro

18h00 – Gales x França, em Cardiff

Árbitro: Allain Rolland (Irlanda)

 

Sábado, dia 22 de fevereiro

11h30 – Itália x Escócia, em Roma

Árbitro: Steve Walsh (Austrália)

 

14h00 – Inglaterra x Irlanda, em Londres – Millenium Trophy

Árbitro: Craig Joubert (África do Sul)

 

4ª rodada

Sábado, dia 8 de março

12h30 – Irlanda x Itália, em Dublin

Árbitro: Nigel Owens (Gales)

 

15h00 – Escócia x França, em Edimburgo

Árbitro: Chris Pollock (Nova Zelândia)

 

Domingo, dia 9 de março

13h00 – Inglaterra x Gales, em Londres

Árbitro: Romain Poïte (França)

 

5ª rodada

Sábado, 15 de março

10h30 – Itália x Inglaterra, em Roma

Árbitro: Pascl Gauzère (França)

 

12h45 – Gales x Escócia, em Cardiff

Árbitro: Jérôme Garcès (França)

 

16h00 – França x Irlanda, em Paris

Árbitro: Steve Walsh (Austrália)

 

Lista de campeões do Six Nations

 

Últimos campeões:

2000 – Inglaterra

2001 – Inglaterra

2002 – França (Grand Slam)

2003 – Inglaterra (Grand Slam)

2004 – França (Grand Slam)

2005 – Gales (Grand Slam)

2006 – França

2007 – França

2008 – Gales (Grand Slam)

2009 – Irlanda (Grand Slam)

2010 – França (Grand Slam)

2011 – Inglaterra

2012 – Gales (Grand Slam)

2013 – Gales