Foto: Queensland Reds

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Depois de um divórcio repentino e que a federação neozelandesa fez questão de dizer que era o caminho certo, as cinco franquias neozelandesas voltam a encontrar as cinco australianas, formando o Super Rugby Trans-Tasman, ou seja, a conexão entre estes dois países “irmãos” da Oceania. Mas como se vai processar esta competição que ladrilha o caminho para um futuro Super Rugby ainda mais alargado? Explicamos em quatro pontos e começamos com o modelo…

 

COMO É O MODELO E CALENDÁRIO?

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6 jornadas e uma final, ou seja, para duas franquias esta 3ª fase da temporada vai conter um total de 6 jogos, enquanto todas as outras só jogarão um máximo de 5, impondo um sistema inédito e que vai beneficiar quem for atrás de mais pontos, seja ensaios ou ponto de bônus ofensivo. Não haverá espaço para segunda volta, assim como não se dará um embate entre franquias do mesmo país, impondo um ritmo Trans-Tasman, significando que poderemos ter uma final não entre as duas melhores equipas de cada país – ou seja, os campeões do AU e Aotearoa -, mas sim entre aqueles que mais pontos somaram durante a competição.

O lado interessante é que todas as franquias quer australianas ou neozelandesas poderão testar as suas capacidades e qualidades, assim como modelos de jogo e estratégias, oferecendo informações preciosas às equipas técnicas dos Wallabies e All Blacks, voltando à fórmula do Super Rugby, competição decorrida desde o fim dos anos 90 até 2020. Recapitulando, 5 jogos cada equipa, e as que somarem mais pontos avançam para a grande final do Trans-Tasman, com o 1º critério de desempate a ser o número de vitórias (modelo igual ao do Super Rugby Aotearoa), seguido de número de pontos marcados, depois o dos ensaios e, por fim, o balanço de pontos marcados/sofridos.

Das novas regras implementadas em 2020 e 2021 só duas receberam aval para serem aplicadas neste cruzamento de franquias da Austrália e Nova Zelândia: uma equipa que receba um cartão vermelho pode voltar a ter 15 jogadores dentro de campo ao fim de 20 minutos; bola presa dentro da área de ensaio, toque de meta ou pontapés realizados pela equipa atacante dentro dos 22 metros do adversário são seguidos de um drop na linha da área-de-ensaio.

Em relação à agenda de jogos, disponibilizamos o seguinte mapa. Os jogos vão decorrer entre 14 de Maio a 19 de Junho, sendo que há alguns encontros ainda sem estádio ou localização decidida, isto devido às mini-bolhas de contenção do SARS-CoV-2 no território australiano.

UMA MÃO CHEIA DE JOGADORES QUE DESEJAM SE SUPERAR

Até Março de 2020 tivemos um Super Rugby estrondoso com cinco países diferentes a competir entre si para chegar ao título de campeão, levando a que vários atletas atingissem um nível épico de forma e exibições. Com o “fim” do verdadeiro Super Rugby, as prestações espectaculares de vários atletas ficaram circundadas às novas competições locais, o que tirou algum do mérito e dimensão, que agora com o Trans-Tasman podem voltar a ganhar um palanque de maior notoriedade. Perante a chegada do Trans-Tasman, é altura das superestrelas do Aotearoa e AU provarem, novamente, que merecem esse destaque e escolhemos cinco jogadores que queremos ver subir ao patamar máximo:

– James O’Connor, médio-abertura dos Queensland Reds, tem a hipótese de mostrar o quão o crescimento da sua franquia adveio do seu retorno à Austrália. O nº10 pode não ser constantemente mágico nos jogos do Super Rugby AU, mas garante execução e eficácia nas movimentações de ataque, uma solidez categórica na comunicação, inteligência na leitura dos processos e soluções e um poder mental inspirador que confere outra confiança aos seus colegas de equipa. A subida de forma dos Reds, a ida a duas finais do Super Rugby AU e o facto de serem vistos como a equipa que melhor joga na Austrália – não significa isto títulos, atenção – será analisada neste Trans-Tasman.

Damian McKenzie, defesa dos Chiefs, foi um dos mestres da evolução da franquia de Hamilton, que passou de último lugar em 2020 para finalistas em 2021, tendo decidido 5 jogos depois dos 78 minutos, o que demonstra o poder de decisão do internacional neozelandês. Nos Super Rugby dos últimos 6 anos, McKenzie foi considerado o melhor jogador da competição por 3 ocasiões, isto devido à versatilidade de jogo, ao poder de criação que roça um misticismo estrondoso ou à virtude de poder criar problemas a cada nova arrancada ou pontapé arremessado, sendo claramente um dos jogadores que tudo e todos vão seguir com atenção nesta sequência extra de 5 jogos.

Will Jordan, defesa/ponta dos Crusaders, é a chave-mestra certa para desbloquear qualquer defesa fechada a cadeado, apresentando uma versatilidade técnica especial e voraz, pulsada por um apetite apaixonante para aplicar um sprint que pode ir de uma área de ensaio à outra, sem que ninguém tenha a capacidade para bloqueá-lo e impedir a sua chegada triunfal. É daqueles jogadores destinados a mudar não só um campeonato, mas também finais, detendo particularismos técnicos similares aos de Beauden Barrett e Damian McKenzie, sendo aquela arma nada secreta de Scott Robertson que em 26 jogos fez 19 ensaios, um número extremamente promissor para quem ostenta somente 22 anos de idade. O Trans-Tasman é a oportunidade perfeita para voltar a confirmar o seu valor e dar o passo decisivo para ganhar um lugar de protagonismo nos All Blacks já em 2021, depois de uma boa estreia em 2022.

Taniela Tupou, pilar dos Reds, é um dos dois únicos avançados nesta lista e é facilmente explicável a razão de termos optado novamente por um jogador dos Reds: confirmação. O internacional wallaby tem ganho protagonismo a cada época que passa, rubricando prestações extraordinárias quer seja a carregar a oval (aquele ensaio contra a Western Force fica na retina), no trabalho na formação-ordenada ou na arte de placar, como também consegue eclipsar-se nos momentos fulcrais, arredando-se, quase voluntariamente, dos jogos, o que impõe a dúvida se tem ou não capacidade para atingir o nível de referência na 1ª linha à escala global. O poder defrontar as franquias neozelandesas vai servir de argumento a seu favor ou não, dependendo se consegue trazer as suas melhores “armas” para dentro de campo, ficando a expectativa lançada para este Trans-Tasman.

Hoskins Sotutu, nº8 dos Blues, tem tudo para ser o “monstro” da 3ª linha do futuro dos All Blacks apesar de não ter realizado um Aotearoa de alto nível em 2021, sendo estes 5 jogos contra equipas australianas decisivo para perceber o nível de evolução de um dos produtos mais “perfumados” e surpreendentes do rugby neozelandês. A fisicalidade “violenta” e a panóplia de qualidades a nível do handling são elementos que têm sobressaído nestes dois anos de alto profissionalismo do atleta da franquia dos Blues, sendo visto como um autêntico “tanque” com capacidade para variar de velocidade de forma quase instantânea, substituindo a dúvida se consegue ser consistente ao longo de uma época.

ANTECÂMARA PARA UM SUPER RUGBY DA OCEANIA

Em 2016 eram 18 franquias, 2018 passaram a 15 e em 2020 o Super Rugby dividiu-se para que a África do Sul, Nova Zelândia, Austrália e Argentina encontrassem o seu caminho independente. Porém, para 2022 já está confirmado que teremos o retorno a um Super Rugby, agora sem as franquias do País do Arco Irís e da América do Sul (há rumores que apontam para um possível convite a fazer aos Jaguares, mas a suposta integração só deverá acontecer após o Mundial 2023), com a Austrália e Nova Zelândia a juntarem-se a duas franquias das ilhas do Pacifico, os Moana Pasifika e Fijian Drua. Numa liga jogada a 12 (é um retornar às origens em termos de números para o Super Rugby), a Oceânia vai assim procurar criar uma baluarte de rugby nesta região, fazendo oposição clara ao que se passa no Hemisfério Norte e a criar alguma disputa com os seus antigos parceiros da África do Sul.

Todavia, este Super 12 (ainda sem nomenclatura própria) vem por duas razões: necessidade urgente das federações em criarem uma liga que seja comercialmente viável e que não se torne repetitiva ou aborrecida (os números de telespectadores diminuíram do Super Rugby Aotearoa de 2020 para o de 2021), colocando um ponto final nas falsas ideias concebidas por parte da Federação de Rugby da Nova Zelândia, que defendia o “isolamento” para proteger o produto; e, em segundo lugar, criar bases para que a maioria dos atletas formados nesta região do planeta se mantenham a viver e a jogar dentro do espaço da Oceânia, naquilo que é uma tentativa de travar a hemorragia de saída não das estrelas (que não era o caso, porque a larga maioria dos maiores nomes mantém-se na Austrália ou Nova Zelândia), mas sim dos jogadores-médios que preenchem as equipas a nível regional/provincial.

Esta formatação da formatação é uma clara prova de como o rugby neozelandês ou australiano está alvo de alguma má gestão, com administradores que têm tomado decisões pouco sábias para pouco depois voltarem atrás e a tentarem recuperar o terreno que perderam, não se querendo responsabilizar pelo fracasso comercial/económico do Super Rugby “antigo”, optando por destruir, recomeçar e simplesmente fingir que o passado não existe. Para as Fiji e Tonga/Samoa, o terem oportunidade para entrarem numa liga com a Nova Zelândia e a Austrália são passos decisivos para um crescimento mais justo e auspicioso do seu rugby e desporto.

 

OS 4 JOGOS FUNDAMENTAIS A VER

Entre os vários jogos que vamos ter oportunidade de assistir neste Super Rugby Trans-Tasman há quatro a ter em atenção e explicamos porquê:

Crusaders vs Reds (22 de Maio): blockbuster seja pela dimensão física ou, pelo facto de serem os dois campeões em título do Aotearoa e AU, o que vai apimentar ainda mais este super embate. Scott Robertson e Brad Thorn jogaram juntos nos Crusaders (2000 a 2001) e agora são adversários, sendo também uma “ponte” interessante, pois ambos têm uma abordagem distinta mas com algumas similitudes no pack de avançados.

Brumbies vs Chiefs (22 de Maio): de um lado um vice-campeão que sonhou com o bicampeonato, do outro uma franquia que de repente deu “asas” ao objectivo de chegar à final do Super Rugby Aotearoa… qual delas é que vai ter força para fazer valer neste duelo de 2ºs lugares? Clayton McMillan vai ter a sua primeira experiência numa liga mais alargada que o Super Rugby Aotearoa e o desafio apresentado pelos Brumbies – bloco de avançados compacto e dinâmico e uma linha de 3/4’s letal – pode ser o necessário para tirarmos as conclusões finais da sua qualidade enquanto treiandor.

Hurricanes vs Reds (11 de Junho): sempre foi um embate profundamente apaixonante de acompanhar no passado-recente do Super Rugby e agora temos a oportunidade de perceber se estes Reds podem fazer frente à intensidade e velocidade  desmedida dos Reds, ou se vamos ter o resultado do costume.

Western Force vs Highlanders (21 de Maio): A Western Force foi a 3ª melhor franquia do rugby australiano em 2021, e vai tentar provar no Super Rugby Trans-Tasman que pode ser um problema para as suas congéneres da Nova Zelândia, tendo nos Highlanders o jogo perfeito para mostrar as suas principais qualidades.