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band farrapos 2013
Durante a semana o Farrapos Rugby promoveu intensamente a partida nas redes sociais. O clube gaúcho vem na ascendente e a partida contra o Bandeirantes no Estádio da Montanha era considerada como sendo “O JOGO”. E, com toda a razão, foi um grande jogo, com muitas emoções, contusões, polêmicas, reviravoltas no placar e agitação nas arquibancadas. Se a tarde ensolarada em Bento Gonçalves registrava onze graus, com o vento a sensação térmica baixava a temperatura para cerca de cinco, o jogo incendiava o termômetro. 
 
Se um roteirista hollywoodiano escrevesse o jogo de sábado não poderia ser mais criativo que o desenrolar da partida. O Bandeirantes começou incisivo e logo de saída arrancou um penal, dos muitos que aconteceram após, e os primeiros 3 pontos. Um balde de água gelada nos mais de 500 torcedores que se esparramavam pelas três arquibancada da Montanha, que mesmo assim empurravam o time gaúcho para frente. Não demorou muito para que chegasse o 1º try para o Farrapos, num ímpeto mais emocional que organizado.
 
O 1º try, convertido, arrefeceu os ânimos paulistas e durante mais da metade da 1ª etapa o Farrapos tomou as ações da partida, tramando e tentando se aproximar do 2º tempo jogando de mão e avançando. Na metade da etapa, com mais um penal, o placar, após a 1ª virada, estava em perigosos 10-3 para o time da casa. No último quarto de tempo o Bandeirantes começou a avançar, em um jogo que tackles de grande efeito que levantavam a torcida com grandes urros. Mesmo com mais um penal a favor e o placar em 13-3, o Farrapos sentiu a pressão e não tardou a sofrer um try após um grande avanço do time paulista se aproveitando de falhas na marcação do time gaúcho. Os paulistas avançavam em jogadas individuais confundindo a linha adversária. Em uma dessas escapadas, após uma ferrenha luta nos cinco metros, o Bandeirantes chegou aos 8 pontos, try não convertido.
 
Como sempre acontece em Bento Gonçalves, o jogo não é só uma partida qualquer. Em uma cidade com pouco mais de 100 mil habitantes, os jogos do Farrapos são tratados como um verdadeiro “match day”, com bancas do patrocinador vendendo roupas e materiais de rugby, um bar com venda de refrigerantes e cerveja, famílias com crianças, avós, até mesmo cachorros, incluindo um prosaico vendedor de algodão doce, assistindo o jogo e vibrando e torcendo entre uma cervejinha e uma cuia de chimarrão. Embaixo das arquibancadas a fumaça do salsichão assando do terceiro tempo da gurizada da seleção gaúcha juvenil. Mesmo com o curto intervalo é possível sentir na comunidade o apoio que existe ao clube e ao esporte na cidade. 
 
O vento gelado, agora mais contundente com o corte de árvores que antes existiam atrás das arquibancadas do estádio invadia o campo. O nome Montanha não é à toa, está localizado em um dos pontos mais altos da cidade serrana gaúcha, Mas o vento não foi aliado do time gaúcho nos penals a favor do Bandeirantes. Logo no início da segunda etapa, em mais uma investida no ataque, um penal e 13-11 e o o time paulista  foi se aproximando. Não demorou muito para que se avolumasse a pressão e as contínuas corridas livres de jogadores visitantes em meio aos buracos da linha gaúcha e mais um penal estabelecia o 14-13 e a segunda virada no placar. 
 
O Farrapos então resolveu acordar e na base de chutes tentou avançar, mesmo que com alguns erros nas saídas de ruck e sendo vencido pelo scrum bandeirante. Forçando o erro e dominando o campo adversário, o time de Bento Gonçalves chegou aos 16 pontos após mais um penal convertido e à terceira virada de placar. O que parecia uma tendência, o domínio do time gaúcho, se transformou em nervosismo. O time paulista avançou pela esquerda e após uma grande jogada individual, mas uma vez fazendo um corredor na linha adversária, conquistou um penal nos 22 farrapos e conquistou mais 3 pontos, Era a quarta virada, 17-16 para o Bandeirantes. E ainda tinha muito jogo pela frente.
 
A torcida começou a cantar nas arquibancadas tentando apoiar o time, o jogo começou a ficar aberto, até demais, muitos tackles, as disputas no ruck cada vez mais ferrenhas, e na base de inversão de lados e continuidade, o Farrapos conseguiu chegar nos cinco metros paulistas e criar uma situação em que o try era inevitável, como seria mais tarde em situação contrária, e, estabelecer a quinta virada da tarde. Com a conversão o Farrapos chegava a 23-17 e faltavam cerca de quinze minutos para o final do jogo. Quando mais o sol baixava no horizonte mais o vento baixava a temperatura e o jogo pegava fogo em campo.
 
O que parecia uma festa, o Farrapos chegando no G4, o sonho de um time gaúcho nas semifinais cada vez mais próximo, foi se transformando em um pesadelo. O jogo, que já estava aberto, se tornou franco e ríspido, tackles cada vez mais intensos, e o clima esquentando dentro e fora de campo, a torcida se inquietando com as marcações seguidas de penals próximos aos 22 dos Farrapos, e o Bandeirantes se aproximando no placar. Dois penals e o jogo estava empatado, 23-23. Mais um terceiro penal na sequência e a pressão contínua, aliada a uma certa insatisfação das arquibancadas com a arbitragem, enervava o time da casa que abusava de erros, falhas na recepção, avanços desalinhados, e o Bandeirantes se aproveitava para chegar cada vez mais perto do try, sempre travado no último momento. O penal não foi convertido, apesar de quase frontal, e o jogo continuou empatado.
 
Quando faltavam menos de dois minutos, e o jogo se encaminhava para um empate, que não seria de todo injusto, devido às reviravoltas, equívocos e equilíbrio da partida, a ambulância adentrou o campo, uma torção de tornozelo no jogador Caveira do Farrapos, que já tinha sofrido uma baixa por lesão, assim como o Bandeirantes, e longos e apreensivos minutos se estenderam antes de um scrum próximo ao ingoal. Para o Farrapos restava resistir e forçar o erro adversário. O scrum foi formado, bola para a esquerda, passes rápidos e, na ponta, a corrida e o try, definitivo, criminal, o try da vitória paulista, a sexta e inacreditável virada de placar, a vibração intensa e efusiva dos jogadores, mãos batendo no escudo para a torcida adversária, as cabeças baixas nas arquibancadas, incrédulas, revoltadas com as decisões do árbitro. 
 
A vitória escorrendo pelas mãos do Farrapos, o Bandeirantes chegando à vice-liderança e tirando seis pontos de vantagem, o sol se pondo atrás da Montanha como a prever que as esperanças ainda existem, mas o jogo só acaba quando termina, diria um filósofo do óbvio. E o óbvio foi cruel com o clube gaúcho, que agora terá que vencer seus três jogos restantes para conseguir a tão sonhada vaga, O próximo jogo, dia 31, em casa, contra o Niterói, que venceu pela primeira vez no sábado no sábado. Já ao Bandeirantes resta confirmar a boa fase enfrentando o sempre favorito São José fora de casa. O Super10 continua vivo e, no mínimo, sete equipes ainda disputarão as quatro vagas para as finais. O rugby brasileiro agradece.
 
O Portal do Rugby elegeu Valter Sugarava , 20 pontos, 6 penals em 7, mais uma conversão em 2, aproveitamento de 78%
 
Placar final: Farrapos 23-30 Bandeirantes
 
Farrapos
Tries: Matheus e Robert “Baby” Cargin
Conversões: Coghetto (2)
Penais: Coghetto (3)
 
Bandeirantes
Tries: Diogo Raucci e Thomaz
Conversões: Valter Sugarava (1)
Penais: Valter Sugarava (6)
 
Árbitro: Fermín Padilla
 
Escrito por Marcelo Benvenutti